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Grounding – 1ª parte

Grounding é um conceito bioenergético e não apenas uma metáfora”. – Alexander Lowen

  • O CONCEITO DE GROUNDING

A sensação de contato entre os pés e o chão é conhecida em bioenergética como grounding. Um dos objetivos dos movimentos em bioenergética consiste em desenvolver este fluxo de excitação através das pernas para os pés e para o chão.

Quando se diz que alguém tem grounding significa que esta pessoa está conectada com o solo, e que não se encontra “suspensa no ar”. Se a pessoa tem grounding, ela não vive “nas nuvens”, mas está em pleno contato com a realidade. Diz-se então que esta pessoa conhece bem o seu lugar e sabe exatamente quem é.

Grounding representa, por conseguinte, o contato do indivíduo com as realidades básicas de sua existência. Estar grounding significa que a pessoa está firmemente plantada na terra, identificada com o seu corpo, ciente da sua sexualidade e orientada para o prazer, qualidades estas que faltam à pessoa que se encontra “suspensa no ar”, ou na sua cabeça, em vez de assentar-se sobre os próprios pés.

Ao recordar-se de que a neurose significa falta de contato com a realidade, podemos compreender a importância do conceito de grounding, e que existe logicamente diferentes graus na sensação de contato com o chão, ou com realidade.

A maioria de nós, todavia, não tem grounding.

Na verdade estamos o tempo todo “nos segurando”, suspensos no ar, com medo de cair, medo de falhar, medo de deixar acontecer, e de nos entregarmos aos nossos sentimentos. Em maior ou menor grau, enrijecemos para enfrentar os desafios que nos eram difíceis de confrontar quando éramos crianças; ou para suplantar os nossos medos, nossos terrores, ou mesmo a dor que nos foi infligida, e que não gostaríamos de novamente sentir.

Desta forma, quando uma pessoa está altamente excitada ou carregada, sua tendência é ir para cima, levantar vôo, e esta sensação da excitação trás consigo um elemento de ansiedade e perigo, o perigo de cair, cuja resolução se dá quando a pessoa se sente novamente em contato com o solo, contato físico e emocional.Verifica-se então um fluxo descendente da energia, colocando-a em contato maior com o chão e com a realidade.

O OBJETIVO DE GROUNDING

Alguns movimentos da bioenergética têm a finalidade de levar a pessoa a alcançar este estado, o que por certo vai fazê-la se sentir mais próxima da terra, proporcionando-lhe um incremento no seu senso de segurança e permitindo-lhe que venha entregar-se ao fluxo da energia que percorre seu corpo, de tal forma que ele naturalmente “deixe acontecer”.

A direção descendente do fluxo energético é o caminho para o prazer, que ocorre com a liberação do fluxo através da descarga. Este também é o caminho para a satisfação sexual, pois o medo de deixar acontecer bloqueia a liberdade de entrega total à descarga sexual, impedindo que se experimente a total satisfação orgástica.

É sabido que o homem, na atualidade, em busca de realização, poder e sucesso, tem enfatizado o desenvolvimento das partes superiores do seu corpo, mediante a utilização das faculdades intelectuais, habilidades manuais e verbais. Isto fez com que ele transferisse           o senso de poder da base, em direção ao topo de sua estrutura, e o resultado foi a perda direta de contato com a sua percepção sensorial animal e o seu controle de poder, cujo centro está localizado na base espinhal e no assoalho pélvico.

Num sentido amplo, o objetivo do grounding é ajudar a pessoa a se identificar com a sua natureza animal, que inclui evidentemente a sua sexualidade.

A metade inferior do corpo é de natureza muito mais animal em suas funções (locomoção, defecação e sexualidade) do que a superior (pensamento, fala, e manipulação do ambiente). Além do mais, aquelas funções são mais instintivas e menos submetidas ao controle consciente.

Mas é em nossa natureza animal que residem as qualidades de ritmo e graciosidade. Os corpos rijos, todavia, não conseguem exibir esta graça devido à limitação dos movimentos em virtude das tensões musculares.

Este deslocamento ascendente do fluxo energético pode ser invertido através dos movimentos de grounding propostos pela bioenergética. À medida que o centro de gravidade do corpo desce para a pelve e em que os pés servem de suporte energético, a pessoa pode sentir-se centrada na parte inferior do abdômen.

  • GROUNDING E HARA

O conceito de grounding tem um paralelo com o conceito de hara, bastante comum no oriente. Hara significa barriga e também a qualidade de ser uma pessoa centrada nesta região. Se isto acontece, esta pessoa é calma, tranqüila, mantém um equilíbrio físico e psicológico, e os seus movimentos são executados sem esforço e com precisão.

A maioria dos ocidentais, no entanto, é centrada na parte superior do corpo, principalmente na cabeça, o reino do ego, o centro da consciência e do comportamento voluntário, em contraste com o centro inferior ou pélvico, onde predomina o hara, e que é o centro da vida inconsciente ou instintiva.

O ventre é literalmente o assento da vida. O corpo se senta na bacia pélvica. É na pelve que o indivíduo tem contato com os órgãos sexuais e com as pernas, e é na barriga que o indivíduo é concebido e de onde emerge para a luz. A perda de contato com esse centro vital desequilibra a pessoa e produz ansiedade e insegurança.

Dois mandamentos, se observados, ajudarão a pessoa a se tornar e permanecer grounding : o primeiro é manter os joelhos discretamente flexionados durante todo o tempo. O segundo, é soltar a barriga.

Joelhos trancados, quando se está de pé, torna a parte inferior do corpo, dos quadris para baixo, uma estrutura rígida, impedindo o indivíduo de fluir para a parte inferior do corpo e identificar-se com ela.

A barriga presa dificulta a respiração abdominal e força a pessoa a inflar excessivamente o peito para conseguir ar suficiente. Barriga contraída, ombros levantados, peito inflado, resultam num dispêndio excessivo de energia e numa luta contínua contra a nossa natureza animal. Na verdade, é uma sobrecarga assumir qualquer atitude corporal que demande esforço, o que não raro acontece com o objetivo desnecessário e desgastante de apenas criar uma imagem.

Ademais, a barriga contraída bloqueia as sensações sexuais pélvicas, as deliciosas sensações de amolecimento e entrega que transformam o sexo, de mero desempenho e descarga, em expressão de amor.

Homens e mulheres, em razão de imposições culturais, têm mantido a região do ventre contraída, uma posição nitidamente antiorgástica. A posição do soldado, “barriga pra dento, peito pra fora, ombros pra cima”, tem sido o axioma de “homens fortes”, capazes de vencer desafios. Barriga contraída e busto projetado para frente também foram, desde a época vitoriana, o sinônimo de beleza feminina. O alto custo desses padrões equivocados de postura tem sido a perda do prazer e da graciosidade.

O PROCESSO DE FUNDAMENTAÇÃO

Levar os sentimentos ao ventre, para que a pessoa possa sentir suas entranhas, e às pernas para que as sinta como raízes móveis, chama-se fundamentar o indivíduo. A pessoa assentada percebe que tem um apoio sólido no chão e coragem para se erguer ou movimentar-se como desejar.

Estar fundamentado é estar em contato com a realidade, é ter os pés no chão, é ter bases sólidas. Quando o indivíduo está assentado, ele deixa de agir com base nas suas ilusões, pois não precisa delas. Por outro lado, aquele que mantém suas ilusões, se mantém nas nuvens e assim impede sua fundamentação.

Assentar (grounding) é um conceito bioenergético e não apenas uma metáfora psicológica. Da mesma forma que um fio terra colocado num circuito elétrico fornece uma saída para a descarga de sua energia, no ser humano o processo de fundamentação também serve para liberar ou descarregar as excitações do corpo.

Durante todo o tempo, o ser humano está produzindo e descarregando energia. Através da parte superior do corpo produzimos energia, pela alimentação, respiração ou estímulos sensoriais. E por intermédio da parte inferior do corpo, descarregamos a energia, pela movimentação, excreção ou pela atividade genital. Estes dois processos básicos de carregar em cima e descarregar em baixo estão normalmente equilibrados.

Mas dentro do corpo também há uma pulsação energética. Os sentimentos se movem para o alto, em direção à cabeça, quando precisamos de energia ou excitamento, e se movem para baixo, em direção às extremidades inferiores, quando necessitamos da descarga.

Se a pessoa não pode se carregar adequadamente, ficará fraca, desvitalizada, e se não consegue descarregar também de modo adequado, ficará suspensa no ar, pendurada nas próprias ilusões, incapaz de voltar ao chão, até que elas venham a se desintegrar. O problema é que não se consegue ficar com os pés no chão, enquanto não houver um assentamento conveniente à completa descarga.

A função da descarga é vivenciada como prazer, e sabemos disto pela experiência, quando constatamos que a descarga de qualquer estado de tensão ou excitamento é agradável. Isto é facilmente comprovável na função sexual. A incapacidade de descarregar a tensão é vivenciada como um estado de dor. De modo igual, podemos postular que a pessoa numa “situação suspensa” também se encontra em um estado de dor, ainda que conscientemente ela não possa senti-la.

A “suspensão” também é um estado de tensão, mas que não pode ser percebido porque a pessoa se amorteceu com a rigidez de sua estrutura para não sentir a dor. E tem medo de liberar a rigidez, porque isto certamente a fará sentir novamente a dor. O “estado de suspensão” tornou-se uma segunda natureza para a pessoa, e quando isto ocorre, ela perde também a consciência da própria rigidez.

Então, o que a pessoa sente, é a falta de prazer na sua vida, impulsionada cada vez mais a perseguir os objetos de suas ilusões, na forma de dinheiro, sucesso, fama, ou outro fruto de sua ilusória percepção. Prende-se a um círculo vicioso, cada vez mais subindo em espiral, até o colapso da ilusão, vivenciado em forma de depressão.

A fundamentação facilita a experiência do prazer. O processo de vida pode ser visto bioenergeticamente como carga ascendente com excitação e descarga descendente com prazer. Se há uma interrupção ou diminuição neste fluxo energético, limita-se a capacidade do indivíduo para sentir prazer, reduzindo imediatamente todos os seus impulsos em direção ao exterior.

Quando isto ocorre, a pessoa perde o prazer de estar viva, sua respiração se torna restrita, seu apetite míngua e o interesse pela vida diminui. Na “pessoa suspensa”, o fluxo é reduzido; na pessoa deprimida, parece ter parado.

O fluxo oscilante de sentimento ou energia no corpo é como um grande pêndulo que faz a vida se mover facilmente e sem esforço. No entanto, qualquer distúrbio na fundamentação – fluxo natural da energia – é como a destruição de algumas raízes que mantêm a vida de uma árvore. Destrua as raízes, e veja quanto tempo ela se manterá ereta e viva.

Poderíamos dizer também que o processo de amadurecimento de uma criança é semelhante ao ciclo de germinação de uma árvore, cujo processo é facilitado se a fruta e as sementes estiverem amadurecidas. Tanto a germinação como a implantação serão prejudicadas se a fruta tiver sido separada prematuramente da árvore.

De modo igual, por exemplo, uma criança prematuramente separada da mãe teve cortado o fluxo energético do seu crescimento como o fruto daquela árvore. Sua inclinação natural é voltar-se para a mãe a fim de completar o processo de maturação abortado. Sem dar-se conta disto, toda sua energia disponível será investida nesta tentativa, mas como a ligação original não pode ser restaurada, aquela busca persistente estará destinada ao fracasso.

Conquanto esse seja o dilema da personalidade oral, a verdade é que em algum ponto de nossas vidas, as raízes de nossas árvores sofreram algum dano, impedindo o seu crescimento natural.

A fundamentação do indivíduo é, portanto, um processo para ajudá-lo a completar seu amadurecimento, pois no decorrer dos anos, enquanto crescia fisicamente, permanecia imaturo emocionalmente, não sabendo apoiar-se nos próprios pés. Este processo, todavia, somente ela poderá realizar, ainda que carecendo da ajuda de um terapeuta para auxiliá-lo a completar o ciclo interrompido de sua maturação.

ANSIEDADES DO PROCESSO DE FUNDAMENTAÇÃO

A fundamentação de um indivíduo, contudo, tem percalços, ansiedades profundas no caminho. Há o medo de se “deixar ir” e não ter ninguém para ampará-lo, o medo enorme de se sentir só. Há também o medo de que ao se deixar abater, não mais poderia se levantar. As principais ansiedades são as que seguem:

  • Ansiedade de desintegração – Quando a energia e sentimentos fluem pelo corpo em direção a terra, a primeira experiência vivenciada é a tristeza, a qual, juntamente com o desespero, estão contidos no ventre. Há em todas as pessoas uma tristeza muito profunda, em “suspenso” (“obsessão”), e muito difícil de enfrentar.
  • Durante toda vida ela comprometeu suas energias na luta para vencê-las, e agora ceder a tais sentimentos equivale a um fracasso pessoal, uma derrota do ego e uma aparente perda de integridade. Ele deseja se render, pois a luta não faz mais sentido, mas está apavorado, sentindo-se ameaçado por um mar de emoções avassaladoras, numa viagem que precisa ser facilitada por um terapeuta fundamentado, que já a conhece, e por isto capaz de transmitir fé ao seu paciente.
  • Contudo, se conseguir entregar-se, começará a chorar, e é provável que se deixe esvair-se em lágrimas, seu corpo inteiro poderá convulsionar-se em soluços, algumas vezes dolorosos, outras vezes agradáveis, e isto pode ocorrer repetidas vezes, revivendo a dor do passado, até que se dissipe completamente. Contudo, a tristeza e o choro estão contidos na barriga que também é a câmara onde se acumula a energia para a irrupção da descarga sexual e da satisfação. À frente do tortuoso caminho do desespero, espera-o um alívio profundo e uma grande alegria.
  • Ansiedade sexual – À medida que as sensações se desenvolvem mais profundamente no ventre, tocando o assoalho pélvico, elas se transformam em sensações sexuais, que para a maioria é fonte profunda de ansiedade. Acontece que há uma diferença entre sensações sexuais e genitais. As pessoas conseguem suportar a excitação da carga genital, que é superficial e facilmente descarregada. A sensação sexual, todavia, é diferente pois exige rendição, entrega às prazerosas convulsões orgásticas, sensações doces e ternas da sexualidade, mas que evocam o medo de perder o controle, um dos aspectos da ansiedade de cair.
  • Quando acontecem, indicam que o desejo sexual está fluindo através do corpo inteiro, e não se limitam apenas aos órgãos genitais. São, todavia, amedrontadoras porque representam o início de uma dissolução que irá terminar no êxtase de um orgasmo completo, mas que devido aos bloqueios é vivenciado como uma dissolução do self, uma desintegração da personalidade, ensejando o medo de se derreter ou de permitir-se afundar no fogo da paixão que queima toda região do ventre e da pelve. Todos procuram esta rendição, mas estão muito temerosos para deixar que venha a acontecer.
  • Ansiedade anal – Em muitas pessoas há ansiedades ligadas às funções urinárias, que devem também ser resolvidas. Ensinaram-lhes as lições equivocadas de que essas funções podem causar dor, vergonha e humilhação se não fossem rigorosamente controladas. Recebiam elogios quando conseguiam controlar, e punição quando falhavam no controle, e agora não sabem como relaxar os músculos contraídos que envolvem as aberturas inferiores do corpo.
  • Ansiedade de solidão – Por último há a ansiedade de ficar erguido em seus próprios pés, o que denota o medo profundo de ficar só. Ninguém quer realmente permanecer só, pois somos gregários por natureza, contudo, em muitas pessoas, esse medo alcança alturas irracionais. Por causa dele farão qualquer coisa, abandonarão até mesmo sua individualidade, na crença errônea de que aqueles que verdadeiramente ousam ser eles mesmos, assertivos em relação aos demais, acabarão rejeitados ou no ostracismo.
  • O medo de ficar só, que alimenta a sociedade de massas, é provavelmente a maior ansiedade dos nossos tempos.Todavia, a verdadeira independência reside na capacidade de estar só, pois isto denota que esta pessoa tem possibilidade de permanecer erguida, em cima dos próprios pés. Verdadeiro consigo, ela atrai outras pessoas, e sua responsividade é genuína, provindo do coração. Está, por isto, muito mais apta a sentir a unidade que relaciona o homem à mulher.
  • Esse medo origina-se de experiências antigas infantis, quando a criança era obrigada a cumprir a exigência de seus pais, sob a ameaça de retirada do afeto daqueles cuja missão primordial era amá-los sem condições e protegê-los. As crianças se sentiam rejeitadas se não aceitassem as regras impostas pelos pais, e este sentimento acompanhou-os pela vida a fora, incutindo-lhes o medo profundo do abandono e da solidão.
  • O resultado é que por trás de uma fachada de independência, apegam-se desesperadamente a relacionamentos que se transformam para elas em verdadeira obsessão. Dependentes da relação, destroem seu valor, impedindo que siga o seu curso natural, contaminando-a com o medo de serem responsáveis por si mesmas, desconhecendo que se permitissem à naturalidade, a relação se tornaria numa fonte de prazer.
  • Por trás da submissão há uma rebelião, que deve ser aceita, pois só através dessa rebeldia ele consegue mobilizar os sentimentos que o libertarão. Mas ele precisa ultrapassar a rebeldia, e é com a fundamentação dos sentimentos em seu corpo, em contato com sua sexualidade animal, e colocando-o no chão a que ele pertence, é que se restaura a sua posição na família dos homens e no reino da natureza. Restaura-se a fé básica que sustentou os seus antigos ancestrais, a fé de que ele foi feito para este mundo e de que o mundo foi feito para ele.  

TERAPIA BIOENERGÉTICA DE FUNDAMENTAÇÃO

Na terapia bioenergética começamos com a respiração, que é um processo de expansão e contração que envolve todo o corpo, e é, ao mesmo tempo consciente e inconsciente.

Embora a respiração sadia, em grande parte, seja inconsciente,  é através das sensações do corpo, que surgem de uma respiração profunda e completa, que nos tornamos conscientes da pulsação viva de nossos corpos, e nos sentimos unidos a todas as criaturas vibrantes de um universo em pulsação.

Mas para atingir esse estado de unidade, a respiração deve ter uma qualidade abdominal profunda.

A onda respiratória se inicia de dentro do ventre, no centro vital, e se move para cima em direção à garganta e a boca, produzindo uma inalação. Em seguida, procede na direção oposta, resultando numa expiração.

No curso do seu movimento, estas ondas podem ser observadas passando pelo corpo, como movimentos completos e livres, se houver liberdade do fluxo da energia, ou como restritos e espásticos, se as áreas de tensão bloqueiam as ondas, distorcendo a percepção da pulsação.

Vejamos os bloqueios principais que perturbam o padrão natural de respiração, causados pelas áreas de tensão, e que podem se estender da cabeça aos pés.

  • Ventre – Ventre flácido e nádegas apertadas são responsáveis por poucos movimentos abdominais durante a respiração.
  • Abdômen – Tensões musculares se desenvolvem no abdômen como meio de reprimir a dor, sensações sexuais ou controle das funções excretoras, em fases diversas de nossa infância. A conseqüência é que a respiração torna-se diafragmática ou torácica, com poucas sensações se desenvolvendo na parte inferior do corpo.
  •  Diafragma – Tensões diafragmáticas desenvolvidas como resultado do medo resultam na elevação das costelas inferiores, quebrando a unidade de sensações no corpo, criando um anel de tensão em volta da cintura.
  • Tórax – Na metade superior do corpo, uma parede torácica rígida reduzirá as sensações nesta parte do corpo, principalmente as sensações e sentimentos associados com o coração, o qual, fechado numa caixa rígida, não conhecerá o amor livre, mas restrito e confinado.
  • Ombros – A espasticidade muscular na articulação dos ombros inibe os movimentos naturais de pegar e de estender, evitando uma respiração profunda que evocaria sensações na pélvis, suspendendo o indivíduo (como num cabide) e segurando-o para impedir o movimento descendente natural do ciclo respiratório. As tensões do ombro também afetam o centro da gravidade do corpo.
  • Garganta e pescoço – Tensões nos músculos da garganta e do pescoço se desenvolvem para bloquear e inibir o choro e os gritos. Pela contração da passagem do ar, reduzem absorção de oxigênio e diminuem o nível energético do organismo. Essas tensões (garganta e pescoço) se estendem até à cabeça e para dentro da boca porque fazem parte de uma inibição geral de sugar. A perturbação no padrão normal de sugar se reflete numa perturbação correspondente do padrão respiratório.
  • Crânio – Há um anel de tensões pressionando a base do crânio, que podem ser palpáveis na espasticidade dos pequenos músculos occipitais. Na frente da cabeça podem ser palpáveis na dureza da musculatura que movimenta a mandíbula, afetando a sua mobilidade, de tal sorte que é mantida numa posição retraída ou proeminente.
  • Mandíbula – A mandíbula retraída denota falta auto-afirmação, enquanto a proeminente é desafiadora e não condescendente. Uma vez que as tensões da mandíbula incluem os músculos internos pterigóides que se inserem na base do crânio, este anel de tensão é, na verdade, uma barreira que bloqueia o fluxo de sensações do corpo para a cabeça.
  • Costas e pernas – Espasticidades nos músculos longos das costas e das pernas criam uma rigidez corporal que perturbam as ondas respiratórias e bloqueiam o fluxo livre e completo da excitação no corpo. Além dessas, há áreas de colapso no corpo onde um padrão de rigidez apertada se quebrou sob o stress. Essas áreas de rigidez são barreiras poderosas para o fluxo do excitamento e dos sentimentos.

Toda conduta terapeuta que pretende fundamentar uma pessoa deve efetuar uma liberação significante dessas tensões musculares. Na análise bioenergética isso acontece fazendo a pessoa a voltar a ter contato com suas tensões, isto é, ajudando-a a percebê-las.

Pode-se pedir ao paciente para fazer certos movimentos expressivos que irão ativar as áreas imobilizadas, ou pode-se produzir uma pressão seletiva nos músculos tensos para produzir uma liberação imediata.

Em seguida, o paciente deve tornar-se consciente dessas tensões:

  • que impulsos ou ações estão sendo evitadas inconscientemente pela tensão?
  • que papel a tensão exerce na economia energética do corpo, ou seja, como ela age para evitar os sentimentos e as excitações?
  • que efeito ela causa no comportamento e nas atitudes?

Para alcançar o objetivo terapêutico de liberar essas tensões não apenas temporariamente, torna-se imprescindível uma compreensão das suas origens. O paciente deve entender a relação de suas atitudes corporais – seus padrões de tensão – com as experiências de sua vida, especialmente com as da infância.

Finalmente, em certo grau, devem ocorrer fenômenos reativos. Os impulsos bloqueados pela tensão muscular devem ser expressos dentro do ambiente controlado da situação terapêutica. Assim, os pacientes devem ser encorajados a vocalizar suas negativas ou gritar suas hostilidades contra seus pais quando essas ações são pertinentes com seus sentimentos, sob a condição de que este comportamento não será feito na vida real.

Não se tenha a impressão de que o trabalho terapêutico para fundamentar o paciente limita-se ao aspecto físico do seu problema. Os aspectos psíquicos exigem tanta atenção como seus correspondentes físicos; melhor será que o tempo terapêutico fique igualmente dividido entre esses dois lados.

Toda modalidade válida de psicoterapia tem seu lugar no arsenal de um bom terapeuta. A análise bioenergética se distingue pelo fato de ter uma orientação corporal, que fornece uma base visível e objetiva tanto para as observações de diagnóstico como para os progressos terapêuticos.

À medida que os padrões de tensão são reduzidos, pode-se ver rapidamente a diferença no corpo do paciente. Uma luminosidade marcante do rosto e dos olhos indica um fluxo maior de energia e excitamento. Mais cor e calor nos pés indicam não apenas melhor circulação, mas denotam uma carga de energia bem maior naquela área. As pernas deixam de ser apenas órgãos passivos usados apenas para sustentar o tronco, para tornarem-se órgãos ativos de relacionamento. Restaura-se a mobilidade natural da pelve, abrindo sua conexão com as pernas. E a onda respiratória pode ser vista passando por todo o corpo em direção às pernas.

No lado subjetivo o paciente relata estar sentindo suas pernas e pés de uma forma nova e mais vital. Sente que está dentro “deles”, e não apenas em cima deles. Torna-se consciente do seu contato com o solo e se sente mais enraizado, ligados aos seus corpos, à sua sexualidade e ao chão.

Segundo Lowen, esta ligação não é um ideal de saúde, mas o mínimo de saúde, visto que a ausência desta conexão equivale a não estar fundamentado, indicando uma patologia em nível corporal que restringe a alegria, o prazer e a vitalidade do ser humano.

EXERCÍCIOS DE FUNDAMENTAÇÃO

O objetivo primário desses exercícios é fundamentar o indivíduo na realidade de seu corpo e da terra, entrando em contato com suas pernas e pés, o que ocorrerá quando sentir o fluxo de sensações percorrerem nelas.

Podem ser praticados no ambiente seguro do consultório, sob a supervisão de um terapeuta em bioenergética, ou como laboratório pessoal, quando a pessoa estiver sob terapia ou obtendo um treinamento em um curso de bioenergética.

Posição de orientação

Fique erguido com os pés paralelos, separados aproximadamente uns 15 cm., e incline os joelhos para que o peso do corpo se equilibre entre o calcanhar e a ponta do pé. O resto do corpo deve estar ereto, com os braços caindo relaxados, os pés descalços.

A boca deve estar ligeiramente aberta, a barriga solta, e os movimentos respiratórios (sem forças) devem se estender dentro do ventre. As costas eretas, sem rigidez. nádegas e pélvis, soltas e livres.  

O propósito do exercício é fazer você entrar em contato com suas pernas e pés; por isto, preste atenção em seus pés e tente manter seu equilíbrio entre os tornozelos e as pontas dos pés. Se ocorrerem tremores involuntários, lembre-se de que eles são expressão do fluxo de sensações em seu corpo. Permita-os enquanto for confortável. Sinta seu corpo e procure vivenciar sua vitalidade. Em seguida, faça o movimento nº 2.

Vibração ou grounding

Nesta postura, os pés são colocados aproximadamente 25 cm. de distância entre um e outro, com os dedos grandes ligeiramente voltados para dentro. Com os joelhos flexionados, abaixe-se até que as pontas dos dedos das mãos toquem o chão, apenas como apoio, pois o peso do corpo deve recair sobre a perna e os pés.

A boca deve estar aberta, e a respiração deve se desenvolver fácil e completamente. O peso do corpo deve cair no espaço entre o calcanhar e a parte arredondada do pé. Mantendo a ponta dos dedos no chão, estique os joelhos gradualmente até que alguma vibração se desenvolva nas pernas.

Mantenha a postura por 2 minutos ou mais, sem que se torne estafante ou dolorosa. Se ocorrerem parestesias, é sinal de que você está respirando mais profundamente do que o habitual. Elas desaparecerão com a prática continuada da postura.

Este é o exercício básico da bioenergética denominado de vibração ou grounding. Deve ser feito com a respiração inteiramente livre, pois se estiver presa o exercício não terá nenhum valor. O objetivo é devolver a sensibilidade às pernas e pés, através de movimentos vibratórios, liberando a respiração, tensões e ansiedades, o que pode ser mais facilmente alcançado utilizando-se a voz (suspiros, sons), que é outra atividade vibratória do corpo.

Ansiedade de cair

Equilibre-se em uma perna só e dobre o joelho o máximo possível sem tirar a sola do pé do chão. A outra perna deve estar estendida para trás, fora do chão. Os braços, estendidos para frente, apóiam-se levemente em duas cadeiras colocadas paralelamente à pessoa. As cadeiras são usadas para ajudar o equilíbrio, não como apoio. No chão, à frente do paciente, coloca-se um cobertor dobrado.

Permaneça nesta posição o máximo de tempo possível, respirando livre e profundamente, e sentindo o peso do corpo no pé. Quando não suportar mais o stress, deixe-se cair de joelho, em cima do cobertor. O exercício deve ser repetido duas vezes em cada perna. Na 4ª vez, deve-se dizer “desisto”, ou outra expressão que lhe pareça mais adequada, ao cair.

Você pode sentir medo de cair, embora não esteja submetido a um perigo real. Pode lutar para manter-se na postura indefinidamente ou pode cair prematuramente, como um ato de vontade, e não uma rendição. Ou pode ir se aproximando gradualmente do chão. Em qualquer caso, você deve observar o que realmente lhe acontece, ou discutir a ação com o seu terapeuta.

Este exercício desmascara o medo do “fracasso”, e a queda devolve a pessoa à segurança sólida da terra e permite que ela renove suas energias e forças nas fontes de seu ser. É sensato aprender a sofrer colapsos em situações apropriadas e desistir de conflitos desnecessários.Ao caiar, pode acontecer de a pessoa romper em prantos, liberando alguma ansiedade profunda. De qualquer sorte se sentirá seguro na sua proximidade com o solo. O exercício deve ser seguido por um relaxamento, através da postura seguinte.

Posição muçulmana

Permaneça no chão sobre os dois joelhos, com as mãos estendidas, juntas e espalmadas, a testa apoiando-se nas mãos, em postura muçulmana.

A extremidade inferior deve ser empurrada para trás o máximo possível, permitindo que a respiração se desenvolva na cavidade abdominal. Relaxe os glúteos e ânus.. Fique na posição por dois minutos para sentir o ventre solto e os efeitos do relaxamento.

O valor maior deste movimento é a entrega ao relaxamento, numa postura que simbolicamente leva o ego abaixo do nível do corpo.

“Curso de Bioenergética”

Terapia de Biointegração com José Cláudio Belfort

Salvador, 07 de fevereiro de 2002

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