Otto Fenichel
O approach das funções mentais deve fazer-se pelo mesmo ângulo que as funções do sistema nervoso em geral. São manifestações da mesma função básica do organismo vivo – a irritabilidade. O modelo básico que serve à compreensão dos fenômenos mentais é o arco reflexo. Estímulos que vêm do exterior ou do corpo iniciam um estado de tensão que exige descarga motora ou secretória, acarretando o relaxamento. Entre o estímulo e a descarga, contudo, trabalham forças que se opõem à tendência de descarga. A tarefa imediata da psicologia é o estudo destas forças inibidoras, da respectiva origem e do efeito respectivo sobre a tendência à descarga. Se não existissem estas contraforças, não haveria psique, mas apenas reflexos.
São muitos os biologistas que têm admitido, de várias formas, a existência de uma tendência vital básica de abolir tensões produzidas pela estimulação externa e a regressar ao estado de energia que atuava antes da estimulação. A concepção mais frutuosa, neste particular, é a formulação de Cannon do princípio da “homeostase”.
A palavra “homeostase” não implica alguma coisa posta e imóvel, estagnação; pelo contrário, as funções vitais são extremamente flexíveis e móveis e o equilíbrio respectivo é transformado ininterruptamente, mas é restabelecido pelo organismo com a mesma ininterruptibilidade.
É possível ver a todo momento que este princípio da homeostase não permanece sem oposição. Há algum comportamento que parece dirigir-se não para libertar-se de tensões, mas antes para criar tensões novas; e a tarefa principal da psicologia é estudar e compreender as contraforças que tendem a bloquear ou adiar a descarga imediata.
Lapsos de língua, erros, atos sintomáticos, são os exemplos melhores de conflitos que se produzem entre a luta pela descarga e as forças que a isso se opõem; alguma tendência que haja sido rejeitada, quer definitivamente pela “repressão”, quer por um desejo não exprimi-la aqui e agora, encontra expressão distorcida, que contraria a vontade consciente adversa.
Quando as tendências à descarga e as tendências à inibição são igualmente fortes, não hà exigência externa de atividade; mas a energia consome-se em luta interna oculta; o que se manifesta, clinicamente, pelo fato de os indivíduos sujeitos a conflitos desta ordem mostrarem sinais de exaustão sem produção de trabalho perceptível.