Overlack Ramos
Quantos de nós ainda pequenos não fomos reprimidos por nossos pais e educadores que nos diziam para não chorar: “não chore”, “engula o choro”, eram essas suas principais frases ameaçadoras.
Quando adultos tendemos a repetir o mesmo comportamento dos nossos pais. Ainda hoje, quando vemos alguém chorando a nossa reação na maioria das vezes é consolar dizendo: “não chore”, chorar não vale a pena”, etc.
O pior é quando os pais ou educadores castigam ou espancam a criança e ao mesmo tempo a impedem ou proíbem de chorar. Neste caso a criança se vê numa condição de ambivalência extrema entre o desejo de chorar e o impedimento.
Como solução ela é lavada a inibir o choro e o faz tendo que contrair sua musculatura, tensionando os músculos da face, da garganta e os músculos abdominais. Quando isso acontece repetidamente as tensões se tornam inconscientes e crônicas com repercursões que aparecerão mais cedo ou mais tarde na vida adulta. Poderão se tornar pessoas deprimidas e melancólicas ou até mesmo repercussões em estruturas físicas como por exemplo distorções em seu aparelho bucal.
No entanto, sabemos que o choro é uma das emoções mais primitivas. O bebe nasce chorando e é essa a sua linguagem mais usada para expressar seu desconforto e seu descontentamento. Quando sente fome chora. Quando sente dor, chora, quando sente falta da mãe chora, etc. Quando o bebê chora ele relaxa e dorme profundamente. Neste caso pode surgir um outro problema: quando a criança chora e não é atendida em suas necessidades tanto físicas como emocionais, ela se sente abandonada. O sentimento de abandono é vivenciado como ameaça de morte ou seja, a criança se vê ameaçada em sua própria existência.
A criança é totalmente dependente de sua mãe ou figura substituta para ser alimentada e cuidada. Quando há uma falta da mãe seja ela real, por perda ou morte ou porque a mãe está deprimida ou ausente emocionalmente, isso deixa uma marca profunda em sua personalidade ou melhor dizendo em todo seu organismo.
Isto acontece principalmente quando a criança é muito pequena e está na fase de amamentação. Nesta fase do desenvolvimento infantil, a libido ou energia sexual esta circulando preferentemente na região oral. Esta se torna assim uma zona erógena, capaz de produzir prazer e de pequenos orgasmos, que são movimentos labiais involuntários e espontâneos produzidos por exemplo depois que a criança mama. A falta da amamentação ou uma amamentação puramente mecânica, sem um contato energético emocional da mãe com a criança pode produzir o que nós chamamos de fixação da energia ou libido no região oral. Isso irá originar quando adulto o chamado caráter oral, ou pelo menos traços de oralidade marcantes na persononalidade do indivíduo adulto. O indivíduo de caráter oral tem características físicas, psicológicas e bioenergéticas que lhe são peculiares. Tratam-se de pessoas cuja característica principal é a chamada oralidade, com grande capacidade de comunicação, pois têm muita facilidade com a oratória, falam muito. Em compensação energeticamente têm uma baixa de energia ou pouca carga. Isso funciona como uma bateria fraca com pouca carga energética ou seja, essas pessoas tendem constantemente a terem depressões freqüentes.
Corporalmente são pessoas altas e magras ou o contrário gordas e baixas, tendendo à obesidade. Psicologicamente, se caracterizam por serem extremamente inseguras e dependentes. São carentes de afeto e emocionalmente imaturas. Têm muita dificuldade de lidar com perdas e frustrações e o sentimento básico é de privação ou falta de afeto e abandono.
Outra possibiliddade é o chamado caráter rígido, cujo nome já diz, sua principal característica é a rigidez. Neste tipo de caráter dizemos que a criança conseguiu passar razoavelmente bem por todas as fases do desenvolvimento infantil, mas a libido ou energia sexual ficou fixada na fase fálica. Tratam-se de pessoas extremamente exigentes e perfeccionistas e muito preocupadas com a performance ou aparência, ou seja, se preocupam muito com a imagem que o outro pode fazer delas. Temem a rejeição e fazem de tudo para se sentirem aceitas e amadas e não rejeitadas ou frustradas. Seus corpos são tensos e rígidos embora graciosos e belos. Tendem a inibir o choro tensionando a musculatura da face principalmente os masséteres e os dentes o que podem ocasionar problemas ortodônticos graves. Tensionam toda a musculatura do corpo principalmente a garganta e pescoço, bem como o abdômen e a pelves e pernas. São extremamente controlados, preocupados com sua imagem, tendem a inibir o choro por acharem que chorar é sinal de fraqueza. Isso é particularmente grave nos homens cuja educação é toda no sentido de serem durões e de não demonstrar sentimentos.
Quando nos tornamos adultos aprendemos a controlar nossas emoções e já não choramos mais. Muitas vezes até queremos chorar e não conseguimos. Isso acontece porque o controle já se tornou inconsciente através dos mecanismos de defesa e da musculatura crônicamente tensa.
Quando sofremos alguma perda ou nos frustamos a nossa reação é ficarmos tristes ou deprimidos e chorar. Quando conseguimos chorar sentimo-nos aliviados.
O ato de chorar está relacionado com a frustração. Quando desejamos algo e não conseguimos satisfazer-nos, isso gera em nós o sentimento de frustração.
Segundo Freud o criador da Psicanálise, o bebe funciona segundo o princípio do prazer/desprazer X princípio de realidade. Segundo o princípio do prazer, quando o organismo se carrega tende a buscar o prazer ou a satisfação de seus impulsos, ou seja, a descarga ou relaxamento. Quando a tensão aumenta, aumenta a carga e a criança sente como um desprazer o que é expresso através do choro, na busca de relaxamento ou descarga através da satisfação de seus impulsos.
Quando esses impulsos não são satisfeitos isso gera a frustração e sentimentos de dor, desprazer, tristeza e raiva. Quando o ego da criança vai se desenvolvendo ela vai aprendendo a protelar sua satisfação em detrimento do princípio de realidade, ou seja, esperar um pouco mais para obter uma satisfação maior. O controle das emoções implica na contração da musculatura. A criança aprende desde cedo a controlar suas emoções contraindo seus músculos, relacionados com o choro: os músculos da garganta e os músculos abdominais. No adulto esses músculos se tronam inconscientemente cronicamente tensos e bloqueiam a expressão emocional do choro. É comum a sensação de estarmos entalados ou sufocados pelo choro. Quando por outro lado conseguimos chorar profundamente, sentimos um relaxamento em toda a musculatura principalmente os músculos da garganta e o abdominais bem como o diafragma. Dizemos então que chorar faz bem pois alivia a dor, o corpo e a alma.
O choro contido é responsável por muitas doenças, tais como a depressão e outras doenças psicossomáticas. Se conseguimos chorar isso além de promover um relaxamento em todo nosso corpo, provoca uma sensação de bem estar geral, além do que transforma as nossas emoções. A criança depois que chora sente-se aliviada e daí a pouco já esta brincando e alegre. Nós adultos tendemos a controlar o choro e com isso retemos os nossos sentimentos de tristeza que podem se transformar em uma melancolia crônica.
Segundo o psicoterapeuta americano Alexander Lowen todos nós adultos temos motivos de sobra para choramos e o ideal seria que todos os dias pudéssemos chorar um pouco. Isso nos faria bem e faria nos sentirmos cada vez melhor e mais felizes.
No entanto o choro não é bem aceito em nossa cultura e quando estamos tristes e alguém nos vê assim a sua reação e dizer, “não fique triste” “não chore” pra que chorar” não vale a pena chorar”. Por isso é muito comum chorarmos escondido no banheiro ou em nosso quarto, longe dos outros, como se chorar fosse algo ruim ou até mesmo errado.
Algumas pessoas pensam que chorar é um ato de fraqueza. Sente-se como se fossem fracos ou inferiores. Não chorar é tido como ser forte. Quando na verdade chorar é um ato de sensibilidade e não significa ser fraco ou forte. Faz parte de sermos humanos, com qualidades positivas e negativas, sentimentos bons e ruins, enfim, um ser completo.