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Aspectos de Cura na Análise Bioenergética

por Jayme Panerai Alves

O que me animou a escrever este artigo foi o fato da USP haver reconhecido o valor científico da Análise Bioenergética, quando entregou o grau de Doutor ao professor da UFRN Djackson Rocha Bezerra, aluno do Curso de Formação Internacional       da Sociedade de Analise Bioenergética do Nordeste do Brasil, em sua tese sobre a eficácia da psicoterapia em Análise Bioenergética.

A alegria tomou conta de todos nós que, a partir do Recife, temos divulgado essa área da Psicologia com aplicação bastante distinta; como nas clínicas, nas empresas, nas escolas e na área social.

Afinal, num mundo que exige comprovação cientifica para alicerçar sua confiança, esta definitivamente é uma boa notícia, pois significa mais credibilidade.

Gostaria de trazer aqui, compartilhando com as pessoas que se interessam pela própria saúde e pela sua prevenção, algumas observações que tenho percebido ao longo dos anos.

Os exercícios da Análise Bioenergética foram criados pelo americano Dr. Alexander Lowen, hoje aos 91 anos, médico que credita à atividade corporal sua boa forma. Ele dirige seu carro de New Heaven até New York, uma vez       por semana para atender os clientes no seu consultório.

Antes de ser médico, Dr Lowen foi professor de Educação Física. Daí sua atenção ser chamada para os exercícios físicos e seus benefícios no corpo. Após encontro com Dr. Wilhelm Reich, discípulo de Freud, Dr Lowen foi em busca da relação mente-corpo e de suas associações e resultados para a saúde.

Suas descobertas, inovações, reflexões, trouxeram ao mundo esta fonte de saúde que são os exercícios de Análise Bioenergética.

É claro que, quando trago os aspectos de cura, refiro-me a benefícios que as atividades e os exercícios podem trazer dentro de uma visão preventiva. Partindo do pressuposto de que as pessoas que queiram se dedicar a eles poderão obter maior vitalidade no seu dia-a-dia com autodisciplina. Porém, jamais dispensando a palavra do médico. Afinal, como disse Paracelsus (médico do século XV), “o médico é o medicamento de Deus”.

Nos últimos 12 anos o Libertas tem desenvolvido intenso programa de introdução da Análise Bioenergética na área clínica, a partir dos cursos de formação de psicoterapeutas em Análise Bioenergética e também dos cursos aplicados às empresas. Estas, desde as pequenas e públicas, às grandes e privadas, passando por multinacionais e cooperativas, sindicatos e assentados.

Foram muitas pessoas praticando os exercícios, seja em palestras, treinamentos, workshops, grupos terapêuticos e consultórios particulares.

Ao longo do tempo, temos visto e ouvido depoimentos considerados contundentes quanto aos benefícios dos exercícios.

Quanto à questão da cura, quero enfocar os pequenos sintomas que normalmente nos acometem, dentro de um rotina estressante e corrida. Ouvimos freqüentemente queixas de dores de cabeça, enxaqueca, dor na coluna, gastrite, insônia, dores nas articulações e outras, como dificuldade em respirar, desvios de septo nasal, alergias, sinusite, asma, laringite, faringite.

Sempre que nos entregamos aos exercícios, o que vemos do outro lado é o alívio. Geralmente, quando a pessoa se aplica e realiza os exercícios, é o bem-estar que se apresenta como conseqüência.

Bem-estar promovido primeiro por uma expansão da capacidade cotidiana respiratória. No dia-a-dia nossa respiração tende a ser torácica. Ela fica curta. Estreita, superficial. Daí a necessidade dessa consciência da nossa respiração para que ela possa ser plena e melhorar a circulação de sangue nas veias e fazer com que todas nossas células possam ser oxigenadas.

Outrossim, os movimentos, os exercícios, a estimulação e a expressão do som, dão-nos mais vitalidade. Áreas que, no cotidiano não são exercitadas, tornam-se disponíveis à visita da circulação da energia vital.

Wilhelm Reich, médico austríaco, definiu o corpo como tendo sete segmentos ou anéis. Na seqüência:

                              *Olhos, ouvidos e nariz

                              *Boca (e todo seu interior)

                              *Pescoço (e todo seu interior)

                              *Tórax (coração e pulmão)

                              *Diafragma

                              *Abdômen (e seu interior)

                              *Pélvis (e seu interior)

Ele dizia que, à medida que essas áreas estiverem com a energia vital circulando e inundando-as, nós estaremos mais próximos da saúde.

Só que a vida bate muito dura em nosso cotidiano. E a tendência é respirarmos pouco.

Reich dizia que nós funcionamos com pulsação biológica. Ou seja, um permanente movimento de contração e expansão. Os movimentos do coração e do pulmão. Ele também percebeu que esses movimentos são os mesmos do protozoário, ao observá-lo no microscópio. Quando elevou seu olhar para o universo, viu que o funcionamento é o mesmo. Noite e dia, verão e inverno, lua cheia e lua nova, maré vazia e maré cheia.

Esse movimento de pulsação biológica dá o ritmo a nosso organismo porque ele é o movimento da vida.

Mas na dor, a tendência é a contração. Permanece-se na contração e respira-se pouco.

A Teoria de Reich sobre a célula T, a célula do câncer é de que ela tem uma deficiência respiratória, significando que naquela região do câncer, respirou-se pouco.

Estes estudos elevam a respiração à condição de pilar da Análise Bioenergética. Junto com o Grounding, que é o conceito de enraizamento.

As escolas de artes marciais orientais, há milênios desenvolvem a postura dos pés cravados no chão com os joelhos flexionados, como forma de fortalecimento interno do ser individual. Eles chamam de a postura da árvore. Pedem para imaginar um carvalho. Flexionam-se os joelhos e a pessoa fica com os braços estendidos como se estivesse realmente abraçando a árvore. Daí a pouco, pelo estresse muscular das pernas, estas começam a vibrar. E a vibração distribui a energia vital, anteriormente aprisionada na cabeça, sua sede, dentro de uma sociedade racional e intelectual, pelo corpo todo. Esta energia vital circulando conduz a vitalidade e a energia por todo o organismo.

Corpo que, ao se admitir vibrar, permite que todas suas células possam, através do movimento, deixar o estado letárgico e pesado dos impactos da vida e do cotidiano.

Estes dois pilares, básicos da Análise Bioenergética, são condutores de uma série de outros exercícios. Alguns deles estão no livro Exercícios de Bioenergética, do Dr. Alexander Lowen, da Editora Summus. Alguns, estão no site do Libertas, www.libertas.com.br, na seção Livros, exercícios para a saúde.

Nossa sociedade, ao legar-nos confortos como o de transportes, locomoção, tele-comunicações, tecnologia, pode estar exigindo uma voluntária ação de movimento, na  direção do movimento corporal. Não podemos esquecer que somos Animais Racionais. Mas, animais. E como tal, nosso organismo requer exercícios. Então, que o sedentarismo, recipiente de muitas doenças, possa ser combatido, com nossa vontade, dirigida para atividades que nos permitam esforços que se traduzam em saúde.

Quando me refiro a esforços, falo dos físicos, que nos permitam suar e ao fazê-lo, colocarmos para fora, através da abertura de nossos poros, o lixo orgânico acumulado.

Quando me refiro à cura, faço-o com muito cuidado e com o olhar cheio de esperança. Esperança e cuidado capazes de permitir que a prática e a expansão da Análise Bioenergética possa, cada vez mais, trazer benefícios aos seres humanos. De uma forma absolutamente natural. Pura. Que possa envolver o corpo todo ao coração, objetivo final. Podermos ter o coração envolvido em todas as nossas atividades.

Existe na Análise Bioenergética um banco chamado stool. Ele tem a forma de um banco de sentar, onde a pessoa coloca suas costas e estende os braços para trás. Os pés paralelos, fincados no chão. É um instrumento extremamente poderoso na ampliação do processo respiratório porque expande o diafragma, músculo responsável por isso.

Chegou-me um dia um cliente queixando-se de soluço contínuo, que se agravava à medida que ele vivia situações emocionais de tensão. As crises, às vezes, duravam mais de um mês. Tinha soluços todo o tempo. Após a criação do vínculo terapeuta-cliente e de fortalecer bastante suas pernas e base, ele foi conduzido ao stool. Durante algumas sessões permaneceu no stool, respirando cada vez mais. E melhorou seus soluços. Que depois desapareceram. Claro que não foi só por isto. O trabalho psicoterapêutico, mais o desejo de atravessar aquelas crises e ainda a sua disponibilidade para se fortalecer, contribuíram. A respiração foi decisiva. Inclui-se aí o trabalho do diafragma que o stool permite.    Essas crises o acometiam há 13 anos.

Minha sensação é que nossa cultura, em busca do certinho, do bonitinho, do esteticamente correto, comete pecados mortais a longo prazo. Como por exemplo, quando a criança está resfriada e os pais dizem: limpe o nariz. Então, ela funga. Coloca para dentro os líquidos que eram para ser colocados para fora. Líquidos que o organismo já trouxe para o nariz para serem colocados para fora. Que acontece? Ao colocarmos para dentro os líquidos que o organismo trouxe para serem expulsos, criamos um círculo vicioso, que entope nossos narizes e nossas vias respiratórias, impedindo-nos de respirar corretamente. Adequada e fluidamente. Então, ao invés de utilizarmos o lenço de papel, usamos tubos de líquidos com agentes químicos que adentram o sangue e que, ao longo dos anos, como um riacho de água pura que vai sendo poluído continuamente, termina por enfraquecer o meio em que vivemos.

Falando em poluição, as grandes cidades precisam criar mecanismos de preservar a pureza do ar nos locais em que vivemos. A longo prazo, o futuro sombrio não se diferencia muito das nuvens de poluição localizadas, paradas acima dessas grandes cidades. Parece-me ainda distante que o ministério, as secretarias de saúde e os órgãos ligados à saúde pública possam se preocupar com programas que se preocupem com a respiração dos membros destas comunidades.

Quero encerrar, desejando que a Análise Bioenergética possa chegar, o mais rápido possível, à maior quantidade de pessoas, com o intuito de poder despertar para aspectos simples e competentes na manutenção e na prevenção da saúde dentro do cotidiano. As universidades, as empresas e os organismos capazes de fazer a multiplicação desses conhecimentos estão se encarregando disto. Nosso trabalho é árduo, mas como dizia Wilhelm Reich, ” O Amor, o Trabalho e o Conhecimento são a base da vida e deveriam governá-la”. E nós acrescentamos despretenciosamente o Autoconhecimento. Entre parênteses. E antes do conhecimento.

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