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A Respiração Circular

“Renascimento, ou respiração circular, não é ensinar alguém a respirar, e sim o ato terno e intuitivo de aprender a respirar através da própria respiração. É unir a inspiração e a expiração, num ritmo intuitivo descontraído, até chegar à respiração interior, que é a origem e o espírito da respiração propriamente dita; é misturar-se com o ar, que é a respiração exterior.”

Leonard Orr

O caminho mais simples e direto para experimentar toda a expectativa e o poder da respiração é através de um sistema freqüentemente chamado de “respiração circular”. Na respiração circular, a pessoa respira num fluxo constante, sem pausa ou interrupção, durante um longo período. A inspiração conduz diretamente à expiração sem que a pessoa pare ou prenda a respiração; a expiração conduz diretamente a outra inspiração sem nenhuma pausa entre as respirações. A expiração e a inspiração são ligadas, fluindo facilmente de uma para a outra, permitindo um fluxo constante da respiração – inspirando, expirando, inspirando – e assim criando a representação do movimento circular entre respiração/energia.

Com apenas alguns minutos de respiração circular, pode começar a ocorrer uma grande quantidade de efeitos. A pessoa que estiver praticando a respiração poderá sentir uma sensação de formigamento quente pelas mãos, rosto ou pés, que podem se espalhar agradavelmente por todo o corpo. O formigamento poderá se intensificar numa compacta e expressiva cãibra dolorosa dos músculos, a princípio nas mãos, depois no rosto, pés e em todos os lugares do corpo.

A pessoa poderá desfalecer, delirar ou ter dificuldade de permanecer lúcida. Poderá haver longos períodos em que a respiração se tornará totalmente fraca e outros em que respirar parecerá um grande esforço.


O indivíduo que está praticando a respiração circular poderá sentir náusea, falta de ar, tremores nos músculos ou sua temperatura poderá ficar, repentinamente, extremamente quente e/ou fria.

A pessoa poderá relembrar seu nascimento com extraordinária clareza ou poderá reviver algumas experiências precoces, inclusive a vida pré-natal, no interior do útero. Essas lembranças poderão vir através de formas visuais ou podem tornar-se aparentes nos próprios movimentos e expressões do corpo naquele momento.

Sem dúvida, a pessoa sentirá com grande intensidade tristeza, vergonha, raiva, medo, descontrole, sentirá vulnerabilidade, desamparo e absoluto terror – tais emoções poderão se precipitar como ondas por toda a pessoa, como se ela fosse submergir e ser tragada. Na verdade, uma das imagens mais úteis durante a respiração circular é a de estar escorregando em cascatas, que são as emoções intensas sendo liberadas invariavelmente através da respiração circular contínua.

Mais animado, a pessoa poderá experimentar um formigamento no corpo que estimulará arrebatadora alegria; ondas de prazer sexual surgirão em todas as partes do corpo; um relaxamento profundo; poderosa penetração na natureza da vida; visões de conteúdo místico profundo ou um renascimento espiritual inesquecível. A pessoa poderá descobrir, no âmbito celular, a ligação fundamental entre respiração, emoção e energia.

Os cientistas ocidentais têm observado esses resultados – especialmente os menos prazerosos – e os têm englobado sob o título de “síndrome da hiper-liberação”, explicando que quando alguém respira muito rápida ou continuamente, a troca normal do oxigênio e do dióxido de carbono se descontrola, o que, por sua vez, causa esses resultados negativos.

Os praticantes antigos da respiração circular afirmam em seus relatos, que se alguém pratica a contínua respiração por muito tempo, as experiências negativamente contraídas darão lugar a grande alegria.

A hiper-liberação não é uma síndrome negativa, e sim uma solução positiva: é a cura de uma vida de subliberação. Quando praticada intencionalmente, a hiper-liberação inunda a mente e o corpo com grandes quantidades de energia, causando uma potente libertação e limpeza das energias contraídas.

A medicina ocidental não compreenderá a respiração e os resultados da respiração profunda enquanto não perceber o movimento da energia dentro da experiência humana. Na verdade, tentar entender a respiração sem o conhecimento da energia é como tentar entender o coração sem o conhecimento do sangue. A hiper-liberação, com todas as suas formas e efeitos, pode ser compreendida somente dentro do contexto do movimento da energia/emoção contraída.

A respiração circular funciona quando se cria um forte e fluente círculo de energia através do corpo e da mente. À medida que a energia flui cada vez com maior intensidade, o paciente se torna consciente dos padrões específicos de energia contraída e sem movimento. Por esses padrões de contração estarem enraizados em experiências dolorosas, o seu conhecimento naquele momento, a princípio, evidentemente magoa.

Qualquer um dos efeitos “negativos” descritos acima poderá ocorrer – e geralmente com grande intensidade – devido às grandes cargas de energias que estão envolvidas. O simples e tão bem demonstrado poder da respiração circular é: se o paciente mantém a respiração, o fluxo contínuo da energia limpará e libertará os padrões de contração, levando leveza onde houver densidade, suavizando e relaxando os pontos tensos e dolorosos das experiências das pessoas e transformando as velhas mágoas das emoções em radiantes e adoráveis alegrias.

“Tem sido possível confirmar repetidamente a observação de Wilhelm Reich de que as resistências e defesas psicológicas usam os mecanismos de restringir a respiração. A respiração ocupa uma posição especial entre as funções psicológicas do corpo. É uma função autônoma, mas também pode ser facilmente influenciada pela vontade. Aumente a quantidade e profundidade da respiração, especialmente se libertando das defesas psicológicas, e se conduza à libertação e à saída da inconsciência (e superconsciência) material.”

Stanislav Grof e Michel Sky

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