Categorias
Artigos e Textos

Conhecendo Eckhart Tolle

João Carlos Marcuschi

Faço esta apresentação porque considero os ensinamentos, dele, alinhados àqueles que são abordados nas palestras de Krishnamurti; entretanto, a linguagem é mais acessível ao leitor ainda não acostumado com esta linha de leitura. Certamente, servirá para esclarecer muitos pontos, que as vezes não captamos lendoKrishnamurti.

Eckhart Tolle é um mestre espiritual ocidental, porém profundamente alinhado com a tradição meditativa do Oriente. Hoje mundialmente conhecido pelo livro O Poder do Agora, durante muitos anos ele compartilhou sua experiência de realização interior apenas com um número muito reduzido de buscadores.

Nos textos que transcrevemos a seguir, Eckart fala a respeito destes primeiros tempos e como o estado de iluminação impactou radicalmente sua vida. Avalia, também, o processo mais amplo de transformação da consciência humana e seus possíveis reflexos no futuro do planeta.

O material foi extraído de uma entrevista concedida por Eckhart à norte-americana Jenny Simon. O encontro aconteceu em Vancouver, no Canadá, onde o mestre (alemão?) atualmente vive.


Jenny Simon – As pessoas ao seu redor devem pensar que você é um pouco lunático. Em sua experiência interior, você nunca questionou o que aconteceu?

Eckhart – Não. Era tão claro e não havia nenhuma pergunta sobre uma realidade que era tão óbvia. Uma vez eu disse que mesmo se tivesse encontrado o Buda e ele me apontasse “não, não é isso”, eu diria – “que interessante, mesmo Buda pode estar errado”. Isto não é algo do ego, é só para deixar claro como essa realidade é tão óbvia que nenhuma questão mental, nenhuma pergunta adiantaria. Por exemplo, se alguém me desse uma maçã e dissesse “não, não é uma maçã”, eu diria “não, eu sei que é”.

Jenny Simon – Você aponta que seu estado de consciência implicou numa redução de 80% na atividade de sua mente pensante. Isso criou alguma espécie de carência ou algo parecido?

Eckhart – Bem, não tanto para mim, mas para as pessoas ao meu redor (risos). Isso é certo, pois as pessoas que me conheciam, especialmente a família, pais, alguns amigos, pensaram que algo errado tinha acontecido comigo – isto porque por algum tempo, após a mudança, eu prossegui com as estruturas externas de minha vida. Apenas prosseguia como se nada houvesse acontecido, porque ainda havia um “momentum” e continuei seguindo-o durante três ou quatro anos. Então percebi que essas estruturas externas estavam totalmente fora do alinhamento com meu ser – no mundo acadêmico totalmente dominado pela mente, o ego dominado completamente. Então aconteceu um momento em que deixei tudo para trás…

Foi aí que as pessoas pensaram que eu estava realmente louco – abandonado uma promissora carreira acadêmica e indo sentar-me em um banco do parque, sem fazer mais nada. Era bem estranho, porque eu não tinha nenhuma orientação espiritual, ninguém para dizer-me “você não precisa viver no banco do parque, você pode continuar funcionando no mundo”. Eu defini isso por mim mesmo. E isso levou bastante tempo, para que então eu pudesse de novo continuar funcionando no mundo. Por uns tempos, o estado da presença, do ser, era tão satisfatório, belo e completo que perdi todo o interesse no futuro… quanto mais ter ambição ou viver para adquirir isto ou aquilo. Se o momento presente era tão preenchedor, por que precisaria do futuro? Mas naturalmente, no nível prático o futuro ainda opera, e saber disso às vezes ajuda. Você precisa tomar um avião daqui a alguns dias, ou aprender algo que leva certo tempo, aprender uma língua, ou o que quer que seja. Mas, eu não mais necessitava do futuro, internamente, e passaram-se anos antes que eu começasse a ser capaz de lidar com o mundo novamente, sem necessitar dele – era quase como uma forma de brincadeira. Iniciar coisas, fazer coisas e, miraculosamente, também um bom tanto de coisas vinham a mim… Mesmo enquanto estava sentado no banco do parque, com quase nada em meu bolso, geralmente no último momento alguma ocorria ou alguém vinha e novamente eu tinha algo com que viver, por enquanto. Milagrosamente isso sempre acontecia, e gradualmente, então, eu comecei a funcionar no mundo de novo.

Devo dizer que duas ou três vezes tentei voltar às estruturas do mundo, sentia que meu tempo no banco do parque estava terminando, então me dizia: “Ok, é melhor eu fazer alguma coisa”. Uma vez me candidatei a um emprego, e isso é bem engraçado, um emprego num banco mercantil na cidade de Londres (riso). Durante a entrevista, ouviram-me com interesse, mas não me deram o lugar. Depois candidatei-me a um emprego acadêmico e houve outra entrevista, só que devo ter dito algo, embora tenha procurado evitar a linguagem espiritual, mas… havia seis ou sete professores ao meu redor e ao final da entrevista um deles me perguntou: o que você realmente quer fazer? (riso). E na realidade não havia nada que eu realmente quisesse fazer, então essa foi a minha última entrevista – eu percebi que na realidade não queria voltar às estruturas do mundo.

Foi então que gradualmente as pessoas vieram e passaram a me fazer perguntas, começando com situações de ensino informal. Algo um pouco mais estruturado surgiu e então eu me tornei um professor espiritual aos olhos do mundo (risada), foi isso que aconteceu. Não ganharia um emprego se colocasse no meu currículo “não mais preciso pensar”, mas realmente é o que acontece. O próprio poder de ensinar vem desse estado, da consciência. Não sou eu, e sempre que começo a falar tenho essa sensação de que não tenho nada, absolutamente nada, a dizer. Assim, não é realmente esta pessoa que está fazendo qualquer coisa. Todo o ensinamento que tem causado um certo impacto no mundo vem desse estado de não-pensamento, não tem nada a ver com esta pessoa aqui… (riso)

Jenny Simon – Eu ouvi você várias vezes citar o mestre indiano Ramana Maharshi. Como se mede o progresso espiritual? É pela ausência do pensamento? Você acredita nisso realmente?

Eckhart – Sim, sim. No grau da ausência de pensamento, sim, está certo. É simples, muito simples.

A mente pode dizer: “ok” – mas isto significa que não fiz nenhum progresso, porque estou pensando o tempo todo. Talvez você não saiba que já há ausência de pensamento em si, talvez algum breve momento, mas não importa… Você respondeu à beleza? Deve haver ausência de pensamento em você, porque de outra forma não veria a beleza. Esse momento é ausência de pensamento. Pode haver muitos momentos de ausência de pensamento – de repente você percebe: “Gente, há ocasiões em que o pensamento está ausente”. Ou você pode exclamar: “Oh! Eu não estou pensando!” (riso). E você já está pensando de novo. Algumas vezes você sabe que não está pensando e ainda não está pensando (riso). Mas é bom não tentar provocar esse estado, porque poderia ser um esforço muito grande. A forma mais rápida de tornar-se livre de pensamento é ainda render-se ao momento, aceitar este momento como ele é, porque se você observa o processo de pensar compulsivo, descobre que sempre está associado à não-aceitação. A não-aceitação é a característica essencial do estado egóico criado na mente – a não-aceitação do agora.

E toda a compulsão realmente é uma fuga, é o negar da beleza e da vida do agora. Quando você vê a verdade disso, pode aceitar este momento como ele é. É um estado de grande força – não de fraqueza, como a mente pode dizer-lhe, exceto que há um efeito colateral dessa aceitação, a mente deixada de fora, porque quando você não está lutando com o que é, a compulsão para pensar cessa.

Isso é algo que requer continuidade da prática espiritual. Muitas vezes você não aceita o que é e então percebe que está novamente negando o agora. E essa percepção está certa, quando você vê a não-aceitação, já está livre dela. Quando você não vê a não-aceitação, então fica novamente preso em todo o ruído mental, porque não está aceitando o que é.

Assim, a mais poderosa prática espiritual é aceitar este momento como ele é. Aceitação descomprometida deste momento como ele é. É por isso que grandes mestres às vezes parecem tão aterradores, embora sejam gentis internamente, na realidade. Olhando velhos retratos ou fotos de grandes mestres, seus olhos são tão aterradores. Sim, descompromissado agora, sim, não movendo, estando aberto. E este estado é tanto gentil quanto aterrador, ambos ao mesmo tempo. Então essa é a prática espiritual mais poderosa e é realmente a única prática espiritual que não lhe dá tempo (riso). Há tantas práticas espirituais que lhe concedem tempo para tornar-se um bom adepto, praticar mais e mais, gradualmente. Mas aceitar este momento como ele é, você só pode fazê-lo agora.

Jenny Simon – Freqüentemente temos ouvido você falar sobre a nova consciência que está emergindo e como esse estado está disponível cada vez para um número maior de pessoas. Mas, honestamente, não estou convencida de que isso não seja uma projeção de sua experiência. Não tenho dúvida de que você floresceu como ser humano, mas não vejo evidência, ao meu redor, de que muitas pessoas passarão por isso. Pergunto: você tem alguma premonição de que isso vai acontecer em 5, 10, mil anos? Como isso realmente transformará o mundo?

Eckhart – Certo. Admito que pareço estar no epicentro da onda de transformação porque isso é o que eu faço e as pessoas chegam para estar em contato comigo. Todos que encontro estão sofrendo transformações e às vezes, quando ligo a televisão, sou repentinamente lembrado – “Oh! Não está acontecendo com todo mundo”. Por causa de minha posição peculiar, admito que certas vezes parece, para mim, que o mundo inteiro está se transformando. Ao mesmo tempo, recebo mesmo imensa massa de correspondência de pessoas que estão relatando mudanças na consciência e enorme diminuição do sofrimento, etc. Isso eu vejo em toda parte; porém não, não tenho uma escala do tempo, tudo que eu sei é que há uma aceleração de algo. Também sinto que o planeta provavelmente não sobreviverá outros cem anos se a velha consciência predominar por muito tempo no planeta, com tudo que isso significa.

É impossível que a natureza do planeta possa suportar isso. Assim, pela primeira vez na história humana essa transformação tornou-se uma necessidade, até mesmo para a sobrevivência da espécie. E talvez seja somente assim, em qualquer evolução e transformação, talvez seja apenas quando a espécie alcança um ponto crítico em que a sobrevivência fica ameaçada se ela continuar sem transformar-se – aí então essa transformação acontece em nível coletivo. Eu acredito – e posso dizer que é quase um fato – que se os velhos padrões de fazer as coisas continuarem por mais cem anos, e naturalmente esses padrões ficarão ainda mais ampliados, os meios de destruição serão maiores e o planeta não será mais capaz de sustentar a vida humana por mais cem anos.

Assim, pela primeira vez na história humana chegamos a um ponto em que a transformação da consciência não é mais um luxo. Talvez tenha havido no tempo de Buda os primeiros florescimentos, também no tempo de Jesus, já apontando para algo novo, uma maneira de ver o que estava acontecendo. Os primeiros sinais disso e depois algumas flores aqui e ali, mas nunca tinha sido uma necessidade para a sobrevivência do planeta e o fim da loucura humana. Mas depois veio a tecnologia, veio a ciência – sim, também manifestações de grande inteligência –, e ainda assim ampliaram a loucura em larga escala. Antes as pessoas tinham sorte se conseguiam matar uns poucos, agora podem matar centenas, milhões com um só aparelho (riso). Não há mudanças, simplesmente amplia-se o efeito da inconsciência. E é uma boa coisa, porque vemos mais claramente que nunca.

É chocante para as pessoas que a primeira guerra criou armas poderosas de destruição, provindas da tecnologia, e aí pensamos: o que foi que fizemos? Milhões e milhões de jovens morrendo nas trincheiras inutilmente – Oh, meu Deus – foi uma abertura da visão da loucura, lá no começo do século XX. Mas agora sabemos também o que aconteceu no restante do século.

Está em seu rosto agora, é tão óbvio. Eu sei que o trabalho que faço, qualquer que seja, é uma manifestação da nova consciência e há muitas pessoas atravessando isso. Para salvar o planeta? Eu não sei, talvez não.

Jenny Simon – Então, pode-se dizer que você é uma espécie de necessidade da evolução, de certa forma?

Eckhart – Sim, na realidade é isto que está acontecendo. É quase como se a espécie estivesse se tornando algo novo, uma nova espécie está evoluindo da velha. E, novamente, não é algo do ego, dizendo eu sou da nova espécie, e você não (riso). Mas sim, é bem como se uma nova espécie estivesse chegando, e está chegando porque a velha espécie não é mais capaz de sobreviver, a menos que mude (riso).

Jenny Simon – E você pode descrever a nova espécie, quais seriam suas características?

Eckhart – A nova espécie não necessita de inimigos, drama ou conflito para dar-lhe um sentido de identidade e assim, torna-se livre, em grande escala, do conflito e do sofrimento causado pelo homem, que é uma característica da velha consciência. Buda teve uma bela perspectiva disso, quando disse, para descrever o estado de consciência da liberação, que ela é livre do sofrimento – você não sofre mais. Pode ainda haver dor, porque enquanto houver corpo físico haverá dor, você pode ter uma dor de dente. Mas o sofrimento psicológico é causado pela entidade do eu na cabeça. Você não mais causará sofrimento para si próprio através das estruturas do pensamento. E quando você não mais causa sofrimento para si, não mais causa sofrimento para outros. A interação entre seres humanos não será mais coberta pelo medo, como é agora – o medo e o desejo, dois movimentos de estado inconsciente.

A interação humana será caracterizada pelo amor e compaixão. E o amor não será do tipo “preciso de você, não ouse abandonar-me, porque eu não sei o que vou fazer se você me deixar”, o amor da chamada velha consciência. Amor é simplesmente reconhecer o outro como sendo você próprio, o reconhecimento da unidade é amor. E todas as interações, quando se reconhece o outro como você próprio, não mais acontecem através da formação de uma imagem, uma identidade da forma, de quem aquela pessoa é. E porque você vai além da identificação da forma em si própria, não mais constrói pequenas armadilhas e pequenos conceitos de outras pessoas… então o amor reina.

Não se pode conceber o que seria o mundo se uma grande parte da humanidade vivesse nesse novo estado de consciência. Eu não faço, geralmente, considerações sobre esse fato. Minha suposição sobre isso é de que não seria possível reconhecer a estrutura da natureza humana. Seria muito diferente. Potencialmente este planeta poderia ser o paraíso – é um paraíso, mas as pessoas se esforçam muito para torná-lo um inferno, contudo ainda é um belo paraíso. Não estou dizendo que no nível da forma não haverá limitação, sim, as formas ainda vêm e vão. Mas ainda assim a harmonia é possível, viver em harmonia com a natureza. Viver em um estado de amor, amando a essência de cada forma, pois a vida se manifesta através de milhões de formas de vida. Amando uma vida da qual milhões de formas são manifestações temporárias, amando-as como a si próprio, sendo elas – esse é o novo estado de consciência.

Categorias
Artigos e Textos

Como fazer uma boa massagem

Marco Aurelio Ornellas

Tome cuidado ao utilizar músicas e incensos. As músicas devem ser tranquilas e num volume baixo o suficiente para não atrapalhar qualquer comunicação verbal que se fizer necessária, quanto ao incenso, muitas vezes um cheiro que você adora pode ser desagradável para a pessoa que você vai massagear.

Num ambiente agradável e tranquilo, utilize roupas leves, que lhe permitam liberdade de movimentos, confortáveis (o algodão absorve o suor) e claras, não fazer uso de perfumes no corpo, não utilizar jóias ou relógio e manter as unhas bem limpas e aparadas. Cuide muito bem da sua postura, mantendo a coluna sempre que possível ereta e direcionando bem sua energia.

Peça para a pessoa deitar de barriga para baixo e respirar um pouco mais profundamente durante 5 minutos aproximadamente, não toque ainda na pessoa, mas estimule-a sempre a respirar melhor, procure observar suas condições gerais e que ela fique com os olhos fechados durante todo o tempo.

O 1º contato entre você e a pessoa é de extrema importância, deve ser muito suave e tranquilo. Nunca coloque suas mãos sobre a pessoa quando estiverem frias ou úmidas.

É importante, sempre realizar um aquecimento na região que vai ser massageada. O aquecimento se faz deslizando as duas mãos vigorosamente na área, a fim de aquecê-la e prepará-la para receber a massagem. Devemos utilizar um óleo ou creme hidratante nas mãos. Eu utilizo manteiga de cacau.

A quantidade de pressão vai variar de um cliente para o outro, respeite o limite de cada um e para isso você deve estar conectado com a pessoa, respirando junto com ela.

Existem pessoas extremamente sensíveis em que se deve ir com muito cuidado, pois respondem rapidamente aos estímulos, enquanto outras, requerem grande atenção, pois podem não demonstrar reação aparente, visto que aprenderam, por toda a vida, a aguentar a dor sem expressá-la. Isto é muito comum e você deve perceber isso, a fim de evitar um corpo dolorido após a massagem.

As partes do corpo aonde acumulamos maior tensão são: ombros, costas (especialmente a região lombar), barriga (abdômen e diafragma) e pés.

Trabalhe um pouco cada área da seguinte forma:

Costas – Com a pessoa deitada de barriga, pressione com os calcanhares das mãos paralelamente a coluna vertebral (músculos paravertebrais) do início ao fim, peça a pessoa para expirar profundamente enquanto você pressiona acompanhando o ritmo da sua respiração. Faça também movimentos de deslizar, sempre no sentido longitudinal.

Com a pessoa sentada, sente-se atrás dela, segure-a pelos pulsos com os braços para trás e massageie as costas com seus pés descalços. Vá “caminhando” devagar sobre suas costas.

Ombros – com a pessoa sentada ou deitada de barriga, coloque uma mão em cada ombro e faça massagem com toda a sua mão, não apenas com as pontas dos dedos. Trabalhe por toda a extensão do músculo (trapézio).

Você pode também (com a pessoa sentada ou deitada de costas) erguê-la um pouco pelos pulsos enquanto expulsa todo o ar dos pulmões deixando os ombros caírem.

Barriga – Um bom trabalho é pedir para a pessoa respirar profundamente na barriga, enquanto inspira ela sobe e na expiração desce. Quanto a massagem, faça movimentos circulares e profundos mas muito suavemente com as duas mãos por toda a parte mole da barriga (vísceras).

Pés – Com a pessoa deitada de costas ou sentada, procure pressionar com os polegares toda a planta do pé, se demorando um pouco mais em cada ponto mais dolorido, mas sempre muito suavemente. Ao final, rotacione um pouco e puxe cada dedo. Faça algumas rotações na articulação do tornozelo.

Ao terminar a massagem, nunca desperte a pessoa ou a estimule a realizar qualquer ação, a massagem “continua” mesmo depois de você desfazer o contato físico com a pessoa, é importante que fiquem os dois (terapeuta e cliente) quietos um pouco para que a pessoa continue a absorver todo o trabalho que recebeu.

Quando você está fazendo massagem, está também trocando energia com essa pessoa, você fica com suas mãos muito carregadas com a energia do outro, por isso é importante, ao final da massagem, colocar as duas mãos no chão, com as palmas voltadas para baixo, a fim de descarregar toda essa energia na terra, além de lavar as mãos com água fria e corrente.

Categorias
Artigos e Textos

Chorar faz bem ao corpo e a alma

Overlack Ramos

Quantos de nós ainda pequenos não fomos reprimidos por nossos pais e educadores que nos diziam para não chorar: “não chore”, “engula o choro”, eram essas suas principais frases ameaçadoras.

Quando adultos tendemos a repetir o mesmo comportamento dos nossos pais. Ainda hoje, quando vemos alguém chorando a nossa reação na maioria das vezes é consolar dizendo: “não chore”, chorar não vale a pena”, etc.

O pior é quando os pais ou educadores castigam ou espancam a criança e ao mesmo tempo a impedem ou proíbem de chorar. Neste caso a criança se vê numa condição de ambivalência extrema entre o desejo de chorar e o impedimento.

Como solução ela é lavada a inibir o choro e o faz tendo que contrair sua musculatura, tensionando os músculos da face, da garganta e os músculos abdominais. Quando isso acontece repetidamente as tensões se tornam inconscientes e crônicas com repercursões que aparecerão mais cedo ou mais tarde na vida adulta. Poderão se tornar pessoas deprimidas e melancólicas ou até mesmo repercussões em estruturas físicas como por exemplo distorções em seu aparelho bucal.

No entanto, sabemos que o choro é uma das emoções mais primitivas. O bebe nasce chorando e é essa a sua linguagem mais usada para expressar seu desconforto e seu descontentamento. Quando sente fome chora. Quando sente dor, chora, quando sente falta da mãe chora, etc. Quando o bebê chora ele relaxa e dorme profundamente. Neste caso pode surgir um outro problema: quando a criança chora e não é atendida em suas necessidades tanto físicas como emocionais, ela se sente abandonada. O sentimento de abandono é vivenciado como ameaça de morte ou seja, a criança se vê ameaçada em sua própria existência.

A criança é totalmente dependente de sua mãe ou figura substituta para ser alimentada e cuidada. Quando há uma falta da mãe seja ela real, por perda ou morte ou porque a mãe está deprimida ou ausente emocionalmente, isso deixa uma marca profunda em sua personalidade ou melhor dizendo em todo seu organismo.

Isto acontece principalmente quando a criança é muito pequena e está na fase de amamentação. Nesta fase do desenvolvimento infantil, a libido ou energia sexual esta circulando preferentemente na região oral. Esta se torna assim uma zona erógena, capaz de produzir prazer e de pequenos orgasmos, que são movimentos labiais involuntários e espontâneos produzidos por exemplo depois que a criança mama. A falta da amamentação ou uma amamentação puramente mecânica, sem um contato energético emocional da mãe com a criança pode produzir o que nós chamamos de fixação da energia ou libido no região oral. Isso irá originar quando adulto o chamado caráter oral, ou pelo menos traços de oralidade marcantes na persononalidade do indivíduo adulto. O indivíduo de caráter oral tem características físicas, psicológicas e bioenergéticas que lhe são peculiares. Tratam-se de pessoas cuja característica principal é a chamada oralidade, com grande capacidade de comunicação, pois têm muita facilidade com a oratória, falam muito. Em compensação energeticamente têm uma baixa de energia ou pouca carga. Isso funciona como uma bateria fraca com pouca carga energética ou seja, essas pessoas tendem constantemente a terem depressões freqüentes.

Corporalmente são pessoas altas e magras ou o contrário gordas e baixas, tendendo à obesidade. Psicologicamente, se caracterizam por serem extremamente inseguras e dependentes. São carentes de afeto e emocionalmente imaturas. Têm muita dificuldade de lidar com perdas e frustrações e o sentimento básico é de privação ou falta de afeto e abandono.

Outra possibiliddade é o chamado caráter rígido, cujo nome já diz, sua principal característica é a rigidez. Neste tipo de caráter dizemos que a criança conseguiu passar razoavelmente bem por todas as fases do desenvolvimento infantil, mas a libido ou energia sexual ficou fixada na fase fálica. Tratam-se de pessoas extremamente exigentes e perfeccionistas e muito preocupadas com a performance ou aparência, ou seja, se preocupam muito com a imagem que o outro pode fazer delas. Temem a rejeição e fazem de tudo para se sentirem aceitas e amadas e não rejeitadas ou frustradas. Seus corpos são tensos e rígidos embora graciosos e belos. Tendem a inibir o choro tensionando a musculatura da face principalmente os masséteres e os dentes o que podem ocasionar problemas ortodônticos graves. Tensionam toda a musculatura do corpo principalmente a garganta e pescoço, bem como o abdômen e a pelves e pernas. São extremamente controlados, preocupados com sua imagem, tendem a inibir o choro por acharem que chorar é sinal de fraqueza. Isso é particularmente grave nos homens cuja educação é toda no sentido de serem durões e de não demonstrar sentimentos.

Quando nos tornamos adultos aprendemos a controlar nossas emoções e já não choramos mais. Muitas vezes até queremos chorar e não conseguimos. Isso acontece porque o controle já se tornou inconsciente através dos mecanismos de defesa e da musculatura crônicamente tensa.

Quando sofremos alguma perda ou nos frustamos a nossa reação é ficarmos tristes ou deprimidos e chorar. Quando conseguimos chorar sentimo-nos aliviados.

O ato de chorar está relacionado com a frustração. Quando desejamos algo e não conseguimos satisfazer-nos, isso gera em nós o sentimento de frustração.

Segundo Freud o criador da Psicanálise, o bebe funciona segundo o princípio do prazer/desprazer X princípio de realidade. Segundo o princípio do prazer, quando o organismo se carrega tende a buscar o prazer ou a satisfação de seus impulsos, ou seja, a descarga ou relaxamento. Quando a tensão aumenta, aumenta a carga e a criança sente como um desprazer o que é expresso através do choro, na busca de relaxamento ou descarga através da satisfação de seus impulsos.

Quando esses impulsos não são satisfeitos isso gera a frustração e sentimentos de dor, desprazer, tristeza e raiva. Quando o ego da criança vai se desenvolvendo ela vai aprendendo a protelar sua satisfação em detrimento do princípio de realidade, ou seja, esperar um pouco mais para obter uma satisfação maior. O controle das emoções implica na contração da musculatura. A criança aprende desde cedo a controlar suas emoções contraindo seus músculos, relacionados com o choro: os músculos da garganta e os músculos abdominais. No adulto esses músculos se tronam inconscientemente cronicamente tensos e bloqueiam a expressão emocional do choro. É comum a sensação de estarmos entalados ou sufocados pelo choro. Quando por outro lado conseguimos chorar profundamente, sentimos um relaxamento em toda a musculatura principalmente os músculos da garganta e o abdominais bem como o diafragma. Dizemos então que chorar faz bem pois alivia a dor, o corpo e a alma.

O choro contido é responsável por muitas doenças, tais como a depressão e outras doenças psicossomáticas. Se conseguimos chorar isso além de promover um relaxamento em todo nosso corpo, provoca uma sensação de bem estar geral, além do que transforma as nossas emoções. A criança depois que chora sente-se aliviada e daí a pouco já esta brincando e alegre. Nós adultos tendemos a controlar o choro e com isso retemos os nossos sentimentos de tristeza que podem se transformar em uma melancolia crônica.

Segundo o psicoterapeuta americano Alexander Lowen todos nós adultos temos motivos de sobra para choramos e o ideal seria que todos os dias pudéssemos chorar um pouco. Isso nos faria bem e faria nos sentirmos cada vez melhor e mais felizes.

No entanto o choro não é bem aceito em nossa cultura e quando estamos tristes e alguém nos vê assim a sua reação e dizer, “não fique triste” “não chore” pra que chorar” não vale a pena chorar”. Por isso é muito comum chorarmos escondido no banheiro ou em nosso quarto, longe dos outros, como se chorar fosse algo ruim ou até mesmo errado.

Algumas pessoas pensam que chorar é um ato de fraqueza. Sente-se como se fossem fracos ou inferiores. Não chorar é tido como ser forte. Quando na verdade chorar é um ato de sensibilidade e não significa ser fraco ou forte. Faz parte de sermos humanos, com qualidades positivas e negativas, sentimentos bons e ruins, enfim, um ser completo.

Categorias
Artigos e Textos

Bioenergética ? Um Panorama atual

Odila Weigand

Resumo

Momentos de transição propiciam novas aberturas. No momento que Alexander Lowen se aposenta da direção do Instituto Internacional de Análise Bioenergética, é oportuno discutir alguns aspectos da teoria e da prática clínica que refletiu por 45 anos a personalidade do seu criador. Três aspectos do processo terapêutico são aqui abordados, à luz da Teoria do Conflito e da Teoria da Falta: Construção de Estrutura, Dissolução de Resistências Caracterológicas e Resolução de Conflitos.

Introdução

Escolhi falar do Panorama Atual da Bioenergética porque Alexander Lowen e a Análise Bioenergética tem sido como que indissociáveis na mente das pessoas. Como alguns de vocês já sabem, Alexander Lowen se retirou em 1996 da direção do Instituto Internacional e a Análise Bioenergética continua seu caminho, não sem ele, porque está vivo e continua praticando a psicoterapia. Mas já não está mais à testa da instituição, delineando caminhos para a teoria e a prática da psicoterapia.

Isto é um fato histórico. A Bioenergética está num momento de transição. Com a saída de Lowen da direção da Instituição, depois de 40 anos, quem foi escolhido pelos membros do Instituto para dirigir o Instituto? Uma mulher, que mora na California, e se chama Virgínia Wink Hilton. Como dizia Reich, as coisas acontecem num movimento de Tese e Antítese para chegar a uma Síntese. Se assim for, estamos no movimento da Antítese, e espero que, conscientes disso, vamos saber evitar os extremos. Mas é significativo que depois de seguir um pai por tantos anos, tenhamos buscado uma mãe.

Lowen tem sido uma personalidade forte e autoritária, e essa marca se imprimiu em sua instituição, conduzida sob a égide patriarcal. Ele porém desenvolveu a qualidade rara, própria de quem adquiriu sabedoria, de se olhar à luz de seus próprios conhecimentos. E foi capaz de ver a estrutura hierárquica narcísica que usualmente se forma em qualquer instituição, sobretudo quando existe um líder carismático.

É curioso como a história se repete, mas, com um bom grounding, vemos como é possível chegar a um final diferente. O próprio Lowen em entrevista a Ron Robbins conta uma passagem de sua relação com Reich e a estrutura hierárquica que se formara em torno de Reich. Foi quando Lowen voltou da Suiça, terminado o curso de medicina, e queria começar a praticar nos Estados Unidos. O ano era 1951. Diz ele:

“Reich estava no topo da estrutura, como um Deus. Os terapeutas reichianos, na estrutura, eram como anjos e arcanjos. Aqueles que acreditavam em Reich e na terapia seriam salvos e o resto do mundo seria amaldiçoado. Era como eu o via. Se de fato era assim ou não, era como eu o via”. … “Os seguidores de Reich tinham desenvolvido uma devoção quase fanática por ele e seu trabalho. Era considerado presunçoso, se não herético, questionar qualquer de suas declarações ou modificar seus conceitos à luz da experiência própria de alguém.” Lowen via seus colegas como “muito dogmáticos”. “Eles simplesmente citavam declarações de Reich, ninguém oferecia qualquer compreensão independente e quando eu o fiz, foi rejeitada.”

Mais de 30 anos depois, Lowen se encontra numa posição semelhante à ocupada por Reich. Ele também foi muito citado e alguns seguidores tiveram tendência a dogmatizar alguns conceitos. Teorias são boas enquanto não se tornam doutrinas.

Finalmente, após vários anos de preparação para essa transição, Lowen decide se aposentar, o que nos possibilita examinar sua obra com um certo distanciamento. Fica livre o caminho também para a abertura para outras áreas do conhecimento, para o surgimento de formas novas e criativas de utilizarmos suas descobertas.

Quem já não leu alguma coisa de Lowen, seja concordando ou mesmo discordando? Ele criou teorias, abordagens inovadoras para trabalhar o corpo, ensinou e formou centenas de terapeutas que trabalham na Europa, Estados Unidos, Canadá, América do Sul, Israel. Sua Escola, como entidade formadora de profissionais, tem mais de 40 anos. Teve contato e exerceu influência em muitos terapeutas que se tornaram por sua vez criadores de outras escolas. De sua associação com John Pierrakos, nasceram os princípios básicos da Análise Bioenergética. Depois John Pierrakos seguiu seu próprio caminho pesquisando a aura e os chakras. Pierrakos também criou sua escola, em que combina os princípios da Bioenergética, Análise do Caráter, Análise da Resistência, com uma abordagem espiritual que ele assimilou de sua esposa Eva.

Contribuições de Lowen

O que todos eles guardaram do que aprenderam com Lowen? Eu diria que o principal elemento, é o GROUNDING. O mérito da descoberta de Lowen e Pierrakos foi compreender que, diferente do procedimento de Reich de desbloquear anéis começando pelo ocular e terminando pelo pélvico, deveriam começar a desbloquear as pernas para que pudessem receber toda a energia de cima que se liberava e logo, gradualmente, subir através de cada segmento. Liberar as pernas para o fluxo energético não é igual a desbloquear a couraça pélvica. Ao liberar as pernas, estamos fortalecendo o ego.

Grounding é enraizar-se no planeta, contato com a realidade que nos torna a todos humanos, semelhantes, emocionais, capazes de amar e sentir dor, compaixão, alegria, prazer. É a realidade dos sentimentos, vivida no nosso corpo vivo e vibrante, não apenas como experiências mentais. Lowen nos legou a compreensão de que é possível desenvolver no corpo, através de exercícios, a capacidade de vibrar e com isso ir dissolvendo rigidez ao mesmo tempo que criando condições para o tecido tolerar uma maior carga energética. Ao tolerar mais carga energética em movimento, nos tornamos capazes de sentir nossas emoções

Tendências

Quais seriam então as tendências que constituem o Panorama Atual da Análise Bioenergética?

– Avaliação crítica dos conceitos teóricos e da prática clínica, buscando discriminar o que é realmente útil para aquele cliente em particular . Separar o joio do trigo. Desmitificar a teoria, separá-la do mito-pessoa.
– Desenvolver pesquisas para validar a eficácia das diferentes intervenções psicoterápicas
– Construção de estrutura, dissolução de resistências caracterológicas e resolução de conflitos. O que nos remete a uma prática que integra as Teorias do Conflito e da Falta (falta das experiências essenciais que constituem um ego saudável). Este vai ser o tema desta palestra.
– Busca de abordagens adequadas para o tratamento de pacientes borderline, tanto da estrutura de caráter borderline quanto dos estados de perda de limites que aparecem em estruturas rígidas quando se desmancham couraças e se perdem referenciais externos organizadores do senso de identidade.
– Multidisciplinaridade e deselitização da terapia (este tema vai ser abordado pela minha colega Laine Pizzi, em sua apresentação).

Eu espero que ao final desta fala alguma coisa seja esclarecida, ou, caso contrário, suscite perguntas que eu possa responder aqui ou depois se forem mais específicas. Deixo este convite a quem estiver interessado, que me procure depois, ou escreva, ou telefone, ou mande um e-mail.

Desmitificar

Vamos falar um pouco do mito. De todos os livros de Lowen, que abordaram métodos terapêuticos para diferentes tipos de caráter, eu pessoalmente acho que o mais importante é o livro Narcisismo – Negação do Verdadeiro Self. Acho que é também o mais auto biográfico. Ali o autor aprofundou-se em si mesmo, expôs uma dinâmica muito útil para compreendermos muita coisa da neurose que permeia nossa cultura. E exatamente por estar tão em contato com a verdade, ele também não ficou imune ao mal que acomete quem descobre uma parcela da verdade: GENERALIZAR. Estas generalizações criaram algumas confusões teóricas, com reflexos na prática, como veremos mais adiante. Muitos terapeutas menos avisados por vezes praticam a bioenergética duma forma que pode ser “demais” para alguns pacientes. Outros terapeutas se deram conta de que por vezes se criava uma falta de sintonia com o paciente, e se afastaram. Outros ainda, permaneceram e desenvolveram seu trabalho dentro da linha da Análise Bioenergética, buscando descobrir aquilo que ela tem de realmente útil para aquele cliente específico, e integrar a compreensão da personalidade mais as técnicas bioenergéticas, com os conhecimentos advindos de outras correntes da psicologia. Buscando outras fontes de conhecimento que complementem nossa visão.

Vamos falar agora daquilo que aparentemente é uma controvérsia, a Teoria do Conflito baseada na Teoria das Pulsões de Freud e a Teoria da Falta, baseada em Melanie Klein e seus seguidores.

Função do Orgasmo e Potência Orgástica

Mas antes de prosseguir no nosso tema: Construção de Estrutura, Dissolução de Resistências Caracterológicas e Resolução de Conflitos, gostaria de retomar os conceitos de Função do Orgasmo e Potência Orgástica.

Ao me perguntar se a Função do Orgasmo ainda é um modelo válido de crescimento, a resposta a que cheguei foi SIM. Na medida em que a considerarmos como uma fórmula da auto regulaçào. A Função do Orgasmo, longe de ser um tema esgotado, nos abre possibilidades de explorarmos diferentes experiências orgásticas: onde quer que haja fusão, expansão, sexualidade, amor, prazer, nutrição emocional, podemos chamar de experiência orgástica, ainda que não haja uma expressão através do contato genital. Assim, se pensarmos em Reich, eu diria que sua descoberta da Função do Orgasmo como modelo da Auto Regulação da própria Vida, foi um acerto. No entanto as inferências quanto à potência orgástica são de utilidade limitada, na minha opinião, quando pensamos em tratar os males mais comuns e freqüentes das pessoas que nos procuram.

No entanto acredito que o conceito de Potência Orgástica como medida da saúde física e mental influenciou durante muitos anos o desenvolvimento da teoria e da prática da Análise Bioenergética. Foi recentemente, em 1992, que Lowen abriu mão oficialmente deste conceito e colocou que o objetivo da terapia bioenergética passava a ser, para ele, auto percepção, auto expressão e auto possessão, ou seja, conhecer-se, expressar sua verdade e ser dono de si mesmo. Passou a colocar o ego saudável como o objetivo principal da terapia, e a manifestação da sexualidade como uma das formas de expressão desse ego saudável.

O Caminho de Lowen

Vamos lembrar um pouco mais da história pessoal de Lowen, para nos ajudar a entender o seu caminho e a evolução da Análise Bioenergética ao longo destes 45 anos.

Conforme o descreve Ron Robbins em seu livro O Tao da Transformação, Lowen é um Realizador, que é a característica dos caráteres rígidos.

Formou-se em direito, mas era a época da depressão econômica nos Estados Unidos – 1934, não havia trabalho; ele continuou os estudos e recebeu o título de doutor em jurisprudência, magna cum laude. Como era difícil arrumar trabalho, ele trabalhou como orientador de atletismo num acampamento de verão. Ali ele aprendeu que a atividade física melhorava a saúde mental. Fascinado porque havia constatado o fato mas lhe faltava uma teoria, continuou buscando saber mais até que assistiu uma palestra de Wilhelm Reich em 1940, um anos depois da chegada de Reich aos Estados Unidos. Vou citar Ron Robbins “Freqüentando as aulas de Reich, Lowen identificou-se com ele, tornando-se seu aluno com o objetivo de tornar-se terapeuta reichiano. Identificou-se fortemente com o Reich carismático.” Vamos relembrar um exemplo curioso do manejo da transferência por Reich, que valorizou o aspecto positivo do traço de caráter de Lowen. Quem nos conta é o próprio Lowen. Um dia Reich lhe disse “se você está realmente interessado nesse trabalho, só há uma forma, é submetendo-se à terapia“. Lowen não achava que precisasse de terapia, considerava-se bem sucedido dentro dos limites da época e livre de conflitos. Ele foi sincero com Reich: “Eu estou interessado, mas o que eu quero é tornar-me famoso“. Reich levou a sério e respondeu “Eu farei você famoso“. Isto soa grandioso? Narcisista? Bem, vamos continuar ouvindo Lowen: “Passados os anos eu considerei a declaração de Reich como uma profecia. Era o empurrão de que eu precisava para transpor minha resistência e lançar- me ao trabalho de minha vida“.

A Teoria do Conflito e a Teoria da Falta

A Dissolução de Resistências

Foram anos e anos a trabalhar com pessoas, dar palestras e demonstrações, acrescentar descobertas próprias e aquelas que vieram de outros como Fritz Perls. Lowen utiliza métodos da Gestalt e Perls fez terapia com Lowen por um tempo, sendo influenciado por ele. Ao lado da elaboração das técnicas corporais, a linha mestra da teoria da bioenergética vai se desenvolvendo com base na psicanálise freudiana que adotava a Teoria das Pulsões como referencial. Durante muitos anos Lowen acreditou e ensinou que “questões infantis (da fase pré edipiana) não podem ser resolvidas até que o conflito edipiano seja plenamente elaborado, compreendido e trabalhado“. Isto significa que questões sexuais são a primeira preocupação do terapeuta. Todos os problemas e dificuldades que o cliente apresenta são analisados como defesas e resistências contra a sexualidade.

Com essa posição, colocava o foco do trabalho na Dissolução de Resistências. 

É bastante conhecida a idéia de que cada terapeuta se inclina para uma teoria, em geral motivado pelo seu próprio estilo de caráter. Reich é associado com os rígidos, mas também com o caráter impulsivo, que aliás foi o tema do seu primeiro texto. Lowen é associado com o caráter rígido e com a estrutura do fálico narcisista, tanto que seu livro sobre o Narcisismo, acrescenta uma profunda contribuição para a nossa compreensão analítica . A questão básica do rígido é a fase edípica, com sua constelação de relação triangular, rivalidade, ciúme, medo de castração. A base para a compreensão desta etapa do desenvolvimento infantil é a teoria da pulsão de Freud e a idéia do conflito está sempre presente. Foi um caminho natural para Lowen adotar essa corrente. Lowen, diferentemente de outros teóricos da psicanálise como Otto Kernberg, diz que o narcisismo tem origem na fase edípica como consequência de uma postura sedutora do genitor do sexo oposto, que faz crer à criança que ela é ‘especial’. A fim de fazer jus a essa imagem de especial, a criança acaba desistindo do seu verdadeiro Self e criando um Falso Self para atender às necessidades narcísicas do genitor amado. Dessa orientação de Lowen, baseada na teoria das pulsões e priorizando o trabalho com a fase edipiana, surgiu uma corrente teórica e um modelo de prática clínica que norteou a prática de muitos terapeutas por muitos anos. Nós sabemos hoje que o édipo é uma posição de conflito, rivalidade e sobretudo uma posição perdedora. Acredito que foi aqui que ocorreu uma generalização: Lowen desvendou com profunda acuidade a dinâmica dos caráteres rígidos e generalizou ao ensinar que outros caráteres deveriam ser tratados de forma similar. (Texto Ego, Caráter e Sexualidade de 1987, época em que estava defendendo o que chamou de movimento De Volta às Origens).

Acho que o movimento De Volta às Origens que Lowen propôs em 1987 (onde reafirmava a Teoria do Conflito como a verdadeira base teórica da Análise Bioenergética), foi um extremo de um movimento pendular, tentando defender a pureza dos princípios reichianos, pureza que parecia ameaçada pela introdução de novos conceitos que demandavam uma revisão em conceitos que haviam se tornado quase dogmáticos como a marcante priorização do trabalho com o édipo. Mas como tudo na vida, o pêndulo retorna.

A Construção de Estrutura

A Teoria do Conflito (originária da Teoria das Pulsões de Freud), que foi adotada por Reich e por Lowen, diz que os problemas nascem de conflitos entre desejo e repressão. Isto é verdadeiro para as organizações que alcançaram a fase edípica relativamente bem estruturadas e nesse momento, dos 3 ½ aos 5 anos, cristalizaram suas defesas de caráter em torno da constelação de conflitos edipianos (relação triangular, ciúme, rivalidade, desejo pelo genitor do sexo oposto). O que dizer dos outros, que sofreram faltas dos cuidados na fase adequada, falta do contato, falta dos estímulos essenciais necessários para chegar ao édipo relativamente intactos e cujo egos não tiveram a chance de se desenvolver plenamente em harmonia com a força dos impulsos? O Ego infantil precisa receber experiências que constroem uma estrutura capaz de lidar com a força dos impulsos. Essas faltas ou falhas no desenvolvimento estão subjacentes às defesas de caráter como nós as conhecemos. Uma defesa de caráter se forma para encobrir uma falta, uma ferida, e nos serve para compensar essa falta para não sentirmos a dor e continuarmos vivendo. E muitas vezes as faltas têm que ser atendidas ANTES de se mexer com qualquer defesa, antes de se tentar desmanchar defesas. Na prática, significa que uma pessoa com um ego relativamente frágil, que a nível corporal tem dificuldade para conter, canalizar e direcionar a energia na vida atual, embora essa pessoa traga para a terapia material com conteúdo sexual, não poderá ser ajudada se lidarmos diretamente com esses conteúdos que possuem potencial desestruturante devido à poderosa carga sexual, que ameaça a frágil estrutura do ego.

Ao mesmo tempo que a bioenergética prosseguia se apoiando na Teoria do Conflito, cresciam nos Estados Unidos as escolas psicanalíticas que seguiam Melanie Klein, pesquisando o tratamento da problemática pré genital. Essas escolas tomaram o nome de Psicologia do Ego e Psicologia do Self nos Estados Unidos, Heinz Kohut, Otto Kernberg, Alice Miller. Na Europa, Winnicott e em seguida Daniel Stern divulgam seu trabalho, que faz parte da Teoria das Relações Objetais. Acontece também que as pesquisas voltadas para o comportamento de famílias e crianças saudáveis começaram a ser amplamente divulgadas a partir de 1970, com o trabalho principalmente de Margareth Mahler. Só em 1975 sai o seu livro O Nascimento Psicológico do Bebê Humano que abriu as portas para estudar a Saúde – aquilo que contribui, numa criança normal, para a constituição de um ego saudável. Passaram. Popularizou-se o conceito de Desenvolvimento Interrompido, ou seja, diante de uma situação traumática ou da FALTA da experiência que constitui o Ego na fase adequada, ficaria como um ‘buraco’ na personalidade, onde faltou a experiência essencial. Esse ‘buraco’ vai constituir a Ferida Narcísica. Por exemplo, se uma mãe tem depressão pós parto e crises de pânico, não querendo nem mesmo ver seu bebê porque não pode tolerar as demandas orais da criança, essa criança vai crescer e se desenvolver, compensando esse buraco, essa ferida narcísica, talvez com uma atitude rígida – “eu não preciso de ninguém”.A teapia deverá ser diferente da criança cuja mãe esteve presente, amamentou, e que encontrou sua primeira grande rejeição por volta dos 5 anos de idade com o advento da sexualidade edípica. Esta última também poderá apresentar na superfície a defesa rígida “eu não preciso de ninguém”, mas a história e o tratamento são diferentes.

Ora, observamos que quanto mais bem sucedida uma idéia ou uma praxis, mais difícil fica dela ser modificada. Demorou para que as pessoas que se formaram em torno das idéias do modelo do conflito, e que se davam bastante bem com esse modelo, aceitassem as novidades. Que novidade era essa? Nada de tão novo assim. Significava integrar a visão de Melanie Klein à visão freudiana. De uma maneira bem simples, o que isso significa? Significa que o modelo do conflito, que lida basicamente com os conflitos da fase edipiana, não dava conta de ajudar pessoas que vinham com traumas de fases mais precoces, com feridas narcísicas instaladas na fase pré-natal, no nascimento, ou nos primeiros dias e meses de vida. Pelo contrário, elas pioravam quando tratadas da mesma forma que pessoas cujo trauma se situava na fase edipiana.

Em 1992, a consciência da relação entre essa controvérsia e a questão da Potência Orgástica, fez com que o tema mais explorado na Conferencia Internacional em Miami fosse a atualidade da proposição de Reich sobre Potência Orgástica. Em 1992 Lowen modifica sua posição.

Ele vem a público na Conferência Internacional em Miami , reconhecendo que falhou em certos aspectos e foi arrogante. Como o próprio Lowen sempre pregou, o reconhecimento da nossa fragilidade e do nosso fracasso é o que garante a verdadeira força e a sobrevivência . Ele foi capaz de fazer esse movimento pendular, pendendo num momento para uma posição mais autoritária e rígida quando em 1987 lançou um movimento que chamou “Back to Basics” ou De Volta às Origens – e depois voltou a abrandar a rigidez, possibilitando uma revisão e uma correção de rumo, a partir de 1992. Acredito que esta capacidade de rever, de ir de um extremo ao outro de um movimento pendular, para chegar a uma síntese, seja a grande qualidade que garante a força e a sobrevivência da sua escola.

A aparente controvérsia gerada pelo tempo que se levou para reconhecer e incorporar à prática da Análise Bioenergética as teorias das Relações Objetais e Psicologia do Ego, foi mais um descompasso no tempo. Principalmente os terapeutas da Califórnia adotaram primeiro essas teorias, e foram adaptando sua prática a elas, enquanto alguns terapeutas de Nova York levaram mais tempo.

A síntese destas duas teorias levou a uma mudança de paradigma. Aquilo que era visto como patologia ou atitude de caráter a ser desmascarada e desmanchada, passou a ser reconhecido como uma expressão distorcida das necessidades genuínas de contato, segurança básica, amor, espelhamento, reconhecimento. A partir da aceitação de um novo modelo teórico, derivam uma compreensão energética e intervenções corporais condizentes. A compreensão do papel do terapeuta na transferência, bem como a contra transferência, se adaptam. Aliás, como dizia Winnicott, a mãe suficientemente boa se ADAPTA às necessidades da criança. 

Aquilo que parecem ser duas correntes, na verdade são complementares e acabam se fundindo num único movimento de onda que constitui o movimento da terapia .

Na verdade, o terapeuta deve desempenhar as duas funções durante o tratamento: ser receptivo (ressonância, holding) e desafiar (excitar, confrontar).

Resolução de Conflitos

Dentro da proposta de multidisciplinaridade, existe abertura para buscar em outras abordagens psicoterápicas os elementos que complementam a Análise Bioenergética. Por exemplo, para resolução de conflitos, além de trabalhar a problemática pessoal, podemos utilizar conceitos e práticas da Terapia Sistêmica, Terapia de Casais e Família. 

E Agora?

As teorias nascem da observação dos fatos. Ora os fatos observáveis para Reich e Lowen eram as pessoas que eles atendiam, que eram produto de uma sociedade predominantemente repressiva. Acontece que a partir da década de 70, quando as barreiras sociais quanto a sexo e autoridade caíram, muita coisa mudou. As pessoas se tornaram outras. As novas gerações já não se criaram restritas às influências do círculo familiar. Crianças são expostas ao mundo, pela TV, pela escola, desde muito cedo. A geração das drogas deixou sua marca, mesmo nos não usuários. Quem de nós não aprecia músicas compostas e interpretadas por pessoas sob influência de drogas? Elis Regina, os Beattles.

Este fim de século se caracteriza pela evolução filogenética seguindo seu ritmo lento, ritmo esse violentado pela velocidade vertiginosa das mudanças culturais e sócio econômicas. Esses organismos estressados pela violência que lhes é imposta de fora para dentro, necessitam mais construir seus egos do que ter seus mecanismos de defesa desmontados.

As defesas mudaram de lugar, tornaram-se mais primitivas. Do músculo migraram para o campo energético. Isto é ruim? Já começo a acreditar no que apenas pressentia – faz parte da evolução da espécie, parece inevitável que as pessoas hoje em dia operem mais com o campo energético.

O aumento da problemática borderline, ao invés de ser vista como uma calamidade, pode ser considerada uma consequência da necessidade de conviver com a inconstância dos nossos objetos. Piaget mostrou como a constância do objeto é essencial para a formação de um ego. Eu arriscaria dizer que um pouco borderline nós todos precisamos ser para absorver as mudanças que estão ocorrendo no mundo – diluir nossos limites facilita mudarmos de forma. Nossos limites se diluem quando perdemos referenciais externos e internos que organizavam nosso senso de identidade. Amanhã vou abordar alguns aspectos energéticos do processo de mudança, falando de Vazamento de Energia.

Quanto mais se lida com as energias sutis, em vez de negar que elas existem, mais precisamos de grounding e mais vamos ter a percepção do contato cósmico. É inevitável que as pessoas, ao se sentirem inseguras, se defendam também com o campo energético, que é uma defesa primitiva e tem a ver com bloqueio ocular. Alguns se destroem, outros enlouquecem, mas aqueles que sobrevivem podem dar uma imensa contribuição à humanidade. E mesmo os que não sobrevivem como Lady Di… dão sua contribuição. Podemos ver este momento como um importante momento evolutivo.

Quem viu o filme Gênio Indomável, com Robin Williams no papel de um terapeuta que trata de um jovem que possui um gênio extraordinário para resolver problemas matemáticos, mas estava para ser encarcerado por brigas e violações da lei.? Esse filme foi lançado em Fevereiro de 1998 e logo alcançou grande sucesso. O rapaz vai literalmente derrubando vários terapeutas com suas perguntas invasivas e sua agressividade verbal. A diferença entre Robin Williams e os outros terapeutas é que ele não tenta se esconder atrás de uma imagem narcísica. Ele se expõe e se deixa tocar e modificar pelo cliente . Aí vão acontecendo, na transferência, as experiências essenciais que faltaram na história do jovem: confiança, respeito, aceitação de limites, para por fim haver identificação positiva e busca da afeição do homem mais velho. Como resultado, ocorre um fortalecimento do ego, reconhecimento do valor próprio, e o desejo de estabelecer vínculo afetivo com uma mulher. Antes ele fazia sexo mas não criava vínculo.

O que surge então no Panorama da Bioenergética?

Em 1990 Lowen publica Espiritualidade do Corpo. Após alcançar um extremo da polaridade, radicalizando a postura de que todos os problemas eram defesas contra a sexualidade, ele pôde seguir adiante em sua exploração e introduzir na terapia o outro polo desse eixo, a espiritualidade. Isto significa reconhecer e abrir o estudo das energias sutis, já não mais vistas como apenas patologia esquizoide. Vejo que Lowen esteve sempre cumprindo sua missão: dar grounding e dar um corpo a conceitos e práticas psicoterapêuticas. Escreve ele em 1990: “o ser humano é uma criatura sexualmente diferenciada em todas as células do seu corpo. …Da mesma forma, a espiritualidade é uma função do corpo todo. A espiritualidade, dissociada da sexualidade, transforma-se numa abstração, e a sexualidade dissociada da espiritualidade passa a ser um ato puramente físico. Essa dissociação é causada pelo isolamento do coração, o que desfaz a conexão entre as duas extremidades do corpo.

A questão de estarmos nos desenvolvendo e nos tornando mais sensíveis aos campos energéticos nos leva a olhar para o outro polo energético, o polo oposto ao polo sexual – nosso contato com a energia cósmica, nosso sentido de espiritualidade. E para seguirmos em frente com segurança nessa busca do contato unificante, que é a etapa evolutiva atual que a humanidade enfrenta, precisaremos cada vez mais de estar em grounding, centrados, fluindo, pulsando, reconhecendo e expressando os sentimentos de amor a partir de um coração aberto e manifestando nossa verdade pessoal. Todos estes grandes acertos que o Dr. Lowen teve como missão organizar de forma acessível e divulgar, criando métodos para que as pessoas pudessem desenvolver essas habilidades.

Encerrando, gostaria de deixá-los com o pensamento que o único milagre que regularmente acontece é a criação de uma nova vida. Com esta nova vida estamos nos preparando para o desafio do futuro. Acredito que o amor é o que cura, enquanto vivemos a excitação da criação e da descoberta.

Este texto foi apresentado no Encontro Paranaense de Terapias Corporais e foi publicado na Revista Reichiana no. 8, 1999)

Odila Weigand – Psicoterapeuta Corporal

Categorias
Artigos e Textos

Aspectos de Cura na Análise Bioenergética

por Jayme Panerai Alves

O que me animou a escrever este artigo foi o fato da USP haver reconhecido o valor científico da Análise Bioenergética, quando entregou o grau de Doutor ao professor da UFRN Djackson Rocha Bezerra, aluno do Curso de Formação Internacional       da Sociedade de Analise Bioenergética do Nordeste do Brasil, em sua tese sobre a eficácia da psicoterapia em Análise Bioenergética.

A alegria tomou conta de todos nós que, a partir do Recife, temos divulgado essa área da Psicologia com aplicação bastante distinta; como nas clínicas, nas empresas, nas escolas e na área social.

Afinal, num mundo que exige comprovação cientifica para alicerçar sua confiança, esta definitivamente é uma boa notícia, pois significa mais credibilidade.

Gostaria de trazer aqui, compartilhando com as pessoas que se interessam pela própria saúde e pela sua prevenção, algumas observações que tenho percebido ao longo dos anos.

Os exercícios da Análise Bioenergética foram criados pelo americano Dr. Alexander Lowen, hoje aos 91 anos, médico que credita à atividade corporal sua boa forma. Ele dirige seu carro de New Heaven até New York, uma vez       por semana para atender os clientes no seu consultório.

Antes de ser médico, Dr Lowen foi professor de Educação Física. Daí sua atenção ser chamada para os exercícios físicos e seus benefícios no corpo. Após encontro com Dr. Wilhelm Reich, discípulo de Freud, Dr Lowen foi em busca da relação mente-corpo e de suas associações e resultados para a saúde.

Suas descobertas, inovações, reflexões, trouxeram ao mundo esta fonte de saúde que são os exercícios de Análise Bioenergética.

É claro que, quando trago os aspectos de cura, refiro-me a benefícios que as atividades e os exercícios podem trazer dentro de uma visão preventiva. Partindo do pressuposto de que as pessoas que queiram se dedicar a eles poderão obter maior vitalidade no seu dia-a-dia com autodisciplina. Porém, jamais dispensando a palavra do médico. Afinal, como disse Paracelsus (médico do século XV), “o médico é o medicamento de Deus”.

Nos últimos 12 anos o Libertas tem desenvolvido intenso programa de introdução da Análise Bioenergética na área clínica, a partir dos cursos de formação de psicoterapeutas em Análise Bioenergética e também dos cursos aplicados às empresas. Estas, desde as pequenas e públicas, às grandes e privadas, passando por multinacionais e cooperativas, sindicatos e assentados.

Foram muitas pessoas praticando os exercícios, seja em palestras, treinamentos, workshops, grupos terapêuticos e consultórios particulares.

Ao longo do tempo, temos visto e ouvido depoimentos considerados contundentes quanto aos benefícios dos exercícios.

Quanto à questão da cura, quero enfocar os pequenos sintomas que normalmente nos acometem, dentro de um rotina estressante e corrida. Ouvimos freqüentemente queixas de dores de cabeça, enxaqueca, dor na coluna, gastrite, insônia, dores nas articulações e outras, como dificuldade em respirar, desvios de septo nasal, alergias, sinusite, asma, laringite, faringite.

Sempre que nos entregamos aos exercícios, o que vemos do outro lado é o alívio. Geralmente, quando a pessoa se aplica e realiza os exercícios, é o bem-estar que se apresenta como conseqüência.

Bem-estar promovido primeiro por uma expansão da capacidade cotidiana respiratória. No dia-a-dia nossa respiração tende a ser torácica. Ela fica curta. Estreita, superficial. Daí a necessidade dessa consciência da nossa respiração para que ela possa ser plena e melhorar a circulação de sangue nas veias e fazer com que todas nossas células possam ser oxigenadas.

Outrossim, os movimentos, os exercícios, a estimulação e a expressão do som, dão-nos mais vitalidade. Áreas que, no cotidiano não são exercitadas, tornam-se disponíveis à visita da circulação da energia vital.

Wilhelm Reich, médico austríaco, definiu o corpo como tendo sete segmentos ou anéis. Na seqüência:

                              *Olhos, ouvidos e nariz

                              *Boca (e todo seu interior)

                              *Pescoço (e todo seu interior)

                              *Tórax (coração e pulmão)

                              *Diafragma

                              *Abdômen (e seu interior)

                              *Pélvis (e seu interior)

Ele dizia que, à medida que essas áreas estiverem com a energia vital circulando e inundando-as, nós estaremos mais próximos da saúde.

Só que a vida bate muito dura em nosso cotidiano. E a tendência é respirarmos pouco.

Reich dizia que nós funcionamos com pulsação biológica. Ou seja, um permanente movimento de contração e expansão. Os movimentos do coração e do pulmão. Ele também percebeu que esses movimentos são os mesmos do protozoário, ao observá-lo no microscópio. Quando elevou seu olhar para o universo, viu que o funcionamento é o mesmo. Noite e dia, verão e inverno, lua cheia e lua nova, maré vazia e maré cheia.

Esse movimento de pulsação biológica dá o ritmo a nosso organismo porque ele é o movimento da vida.

Mas na dor, a tendência é a contração. Permanece-se na contração e respira-se pouco.

A Teoria de Reich sobre a célula T, a célula do câncer é de que ela tem uma deficiência respiratória, significando que naquela região do câncer, respirou-se pouco.

Estes estudos elevam a respiração à condição de pilar da Análise Bioenergética. Junto com o Grounding, que é o conceito de enraizamento.

As escolas de artes marciais orientais, há milênios desenvolvem a postura dos pés cravados no chão com os joelhos flexionados, como forma de fortalecimento interno do ser individual. Eles chamam de a postura da árvore. Pedem para imaginar um carvalho. Flexionam-se os joelhos e a pessoa fica com os braços estendidos como se estivesse realmente abraçando a árvore. Daí a pouco, pelo estresse muscular das pernas, estas começam a vibrar. E a vibração distribui a energia vital, anteriormente aprisionada na cabeça, sua sede, dentro de uma sociedade racional e intelectual, pelo corpo todo. Esta energia vital circulando conduz a vitalidade e a energia por todo o organismo.

Corpo que, ao se admitir vibrar, permite que todas suas células possam, através do movimento, deixar o estado letárgico e pesado dos impactos da vida e do cotidiano.

Estes dois pilares, básicos da Análise Bioenergética, são condutores de uma série de outros exercícios. Alguns deles estão no livro Exercícios de Bioenergética, do Dr. Alexander Lowen, da Editora Summus. Alguns, estão no site do Libertas, www.libertas.com.br, na seção Livros, exercícios para a saúde.

Nossa sociedade, ao legar-nos confortos como o de transportes, locomoção, tele-comunicações, tecnologia, pode estar exigindo uma voluntária ação de movimento, na  direção do movimento corporal. Não podemos esquecer que somos Animais Racionais. Mas, animais. E como tal, nosso organismo requer exercícios. Então, que o sedentarismo, recipiente de muitas doenças, possa ser combatido, com nossa vontade, dirigida para atividades que nos permitam esforços que se traduzam em saúde.

Quando me refiro a esforços, falo dos físicos, que nos permitam suar e ao fazê-lo, colocarmos para fora, através da abertura de nossos poros, o lixo orgânico acumulado.

Quando me refiro à cura, faço-o com muito cuidado e com o olhar cheio de esperança. Esperança e cuidado capazes de permitir que a prática e a expansão da Análise Bioenergética possa, cada vez mais, trazer benefícios aos seres humanos. De uma forma absolutamente natural. Pura. Que possa envolver o corpo todo ao coração, objetivo final. Podermos ter o coração envolvido em todas as nossas atividades.

Existe na Análise Bioenergética um banco chamado stool. Ele tem a forma de um banco de sentar, onde a pessoa coloca suas costas e estende os braços para trás. Os pés paralelos, fincados no chão. É um instrumento extremamente poderoso na ampliação do processo respiratório porque expande o diafragma, músculo responsável por isso.

Chegou-me um dia um cliente queixando-se de soluço contínuo, que se agravava à medida que ele vivia situações emocionais de tensão. As crises, às vezes, duravam mais de um mês. Tinha soluços todo o tempo. Após a criação do vínculo terapeuta-cliente e de fortalecer bastante suas pernas e base, ele foi conduzido ao stool. Durante algumas sessões permaneceu no stool, respirando cada vez mais. E melhorou seus soluços. Que depois desapareceram. Claro que não foi só por isto. O trabalho psicoterapêutico, mais o desejo de atravessar aquelas crises e ainda a sua disponibilidade para se fortalecer, contribuíram. A respiração foi decisiva. Inclui-se aí o trabalho do diafragma que o stool permite.    Essas crises o acometiam há 13 anos.

Minha sensação é que nossa cultura, em busca do certinho, do bonitinho, do esteticamente correto, comete pecados mortais a longo prazo. Como por exemplo, quando a criança está resfriada e os pais dizem: limpe o nariz. Então, ela funga. Coloca para dentro os líquidos que eram para ser colocados para fora. Líquidos que o organismo já trouxe para o nariz para serem colocados para fora. Que acontece? Ao colocarmos para dentro os líquidos que o organismo trouxe para serem expulsos, criamos um círculo vicioso, que entope nossos narizes e nossas vias respiratórias, impedindo-nos de respirar corretamente. Adequada e fluidamente. Então, ao invés de utilizarmos o lenço de papel, usamos tubos de líquidos com agentes químicos que adentram o sangue e que, ao longo dos anos, como um riacho de água pura que vai sendo poluído continuamente, termina por enfraquecer o meio em que vivemos.

Falando em poluição, as grandes cidades precisam criar mecanismos de preservar a pureza do ar nos locais em que vivemos. A longo prazo, o futuro sombrio não se diferencia muito das nuvens de poluição localizadas, paradas acima dessas grandes cidades. Parece-me ainda distante que o ministério, as secretarias de saúde e os órgãos ligados à saúde pública possam se preocupar com programas que se preocupem com a respiração dos membros destas comunidades.

Quero encerrar, desejando que a Análise Bioenergética possa chegar, o mais rápido possível, à maior quantidade de pessoas, com o intuito de poder despertar para aspectos simples e competentes na manutenção e na prevenção da saúde dentro do cotidiano. As universidades, as empresas e os organismos capazes de fazer a multiplicação desses conhecimentos estão se encarregando disto. Nosso trabalho é árduo, mas como dizia Wilhelm Reich, ” O Amor, o Trabalho e o Conhecimento são a base da vida e deveriam governá-la”. E nós acrescentamos despretenciosamente o Autoconhecimento. Entre parênteses. E antes do conhecimento.

Categorias
Artigos e Textos

Análise Bioenergética e o Corpo

Overlack Ramos

Palestra-Vivência realizada durante o II Seminário Interdisciplinar Sobre a Contemporaneidade “O Corpo Ainda É Pouco” (*)

I. INTRUDUÇÃO

A Psicologia Humanista, uma vigorosa “terceira força” em Psicologia, surgiu como veemente expressão de protesto contra as imagens limitadoras do homem exibidas pelas duas principais escolas de Psicologia: a Psicanálise e o Behaviorismo.

Essa posição filosófica da Psicologia Humanista coloca o homem, a pessoa humana e sua experiência, no centro de seus interesses.

O psicanalista austríaco Willhelm Reich foi um grande conhecedor da alma humana, muito embora tenha sido incompreendido e muitas vezes mal interpretado desde o século passado até os dias atuais. Ele utilizou o termo “peste emocional” para se referir aos padrões e comportamentos neuróticos individuais que se disseminam como uma epidemia por toda a sociedade. Esses padrões neuróticos se formam desde cedo na criança quando esta perde sua inocência e o seu movimento natural e desenvolve formas artificiais de movimento.

Reich foi mais adiante quando relacionou a peste emocional ou neurose com a impotência orgástica, colocando-a como núcleo da neurose. A impotência orgástica a que ele se refere significa a perda ou a incapacidade do organismo realizar movimentos convulsivos inconscientes e espontâneos, durante a relação sexual. A perda dos movimentos involuntários e inconscientes se deve segundo Reich a um mecanismo de proteção que a criança desenvolve como que para se proteger de suas sensações sexuais que ela sente como perigosas ou ameaçadoras. Ele chamou essa estrutura de couraça e a descreveu como sendo possuidora de sete anéis que circundam todo o nosso corpo, da cabeça aos pés.

A couraça portanto impede o livre fluxo de energia no nosso organismo e é responsável pela rigidez do nosso corpo e também do nosso psiquismo, revelando-se como padrões rígidos de comportamento e de conduta.

Como se fossem um espelho, as crianças vão assimilando dos adultos, principalmente dos seus pais e educadores, esses padrões que vão sendo reproduzidos de geração a geração. Mais uma vez quero aqui lembrar que quanto mais reprimidos e bloqueados estivermos, mais propensos estaremos de passarmos esses padrões aos nossos filhos e alunos. Daí a necessidade cada vez maior de nos conhecermos mais profundamente, ou seja, de tornarmo-nos conscientes desses padrões e atitudes que, na maioria das vezes, são inconscientes e sermos capazes de efetuarmos as transformações e mudanças que necessitamos. Muitas vezes não conseguimos fazer isso sozinhos e necessitamos buscar ajuda de um psicoterapeuta.

II. ANÁLISE BIOENERGÉTICA E O CORPO

Alexander Lowen, médico e psicoterapeuta americano, discípulo e cliente de Reich, desenvolveu uma metodologia de psicoterapia que ele chamou de Análise Bioenergética.

A Análise Bioenergética é portanto, um método de psicoterapia que busca entender a personalidade humana em termos dos processos energéticos que acontecem no corpo.

O que acontece no corpo se reflete na mente e vice-versa. Dessa forma nós podemos entender a personalidade de uma pessoa a partir de uma leitura do seu corpo, observando sua forma e estrutura, rigidez da musculatura, expressão corporal e emocional. Podemos visualizar as áreas de bloqueio energético e trabalhar através dos recursos que dispomos, na tentativa de mudar a estrutura corporal e por conseguinte a personalidade.

A Análise Bioenergética dispõe de métodos seguros e eficazes que ajudam ao indivíduo o desenvolvimento de uma autoconsciência e autopercepção e mais ainda a realizar mudanças tanto na sua estrutura corporal como na sua maneira habitual de ser, ou seja, seus padrões de conduta e comportamento. No entanto quero salientar que isso não é algo simples nem fácil. É um árduo caminho onde muitos tentam mas apenas poucos, os corajosos e persistentes hão de conseguir. Isso porque embora seja grande o desejo de mudança, é portentoso o medo de mudar, ou seja o medo do novo e o apego aos velhos padrões. Devemos lembrar também que esses padrões são mecanismos de defesa inconscientes que foram desenvolvidos na infância ou em fases mais precoces, quem sabe até, alguns deles na fase intra-uterina ou de amamentação. No entanto, apesar das dificuldades que possam surgir no caminho da mudança e do crescimento, muitos conseguem.

Lowen desenvolveu uma metodologia cujas origens teóricas estão na Psicanálise de Freud e no trabalho de W. Reich. Alem do mais desenvolveu ele mesmo conceitos teóricos com o “Grounding” ou enraizamento e ampliou uma classificação de diversos tipos de caráter, iniciada por Reich.

Apresento-lhes aqui de maneira sucinta os fundamentos da Análise Bioenergética:

1. Análise do Caráter(corpo e personalidade)
2. Trabalho focado na respiração
3. Trabalho com Energia (energia vital)
4. Trabalho com o Grounding ou enraizamento

Apresento-lhes também os principais tipos de caráter descritos por Lowen, cuja principal função é didática, pois permite ao terapeuta uma linha de trabalho segura. Vale lembrar que os caracteres se formam durante as várias fases do desenvolvimento infantil e que em torno dos 4 a 6 anos de idade já está completamente formado. Daí em diante ele vai sendo cada vez mais aperfeiçoado e se fortalecendo.

Vale lembrar também que todos nós temos traços de todos os tipos de caráter, pois passamos por todas as etapas do desenvolvimento infantil, sendo que há uma predominância de determinados traços, de determinado tipo, a depender de como foi vivenciada cada uma das fases na relação do bebê com a mãe principalmente, ou figura substituta e também na relação com o pai.

Os cinco tipos principais de caracteres descritos por Lowen são os seguintes:
1. Caráter Esquizóide
2. Caráter Oral
3. Caráter Psicopático
4. Caráter Masoquista
5. Caráter Rígido

Cada uma dessas estruturas de caráter é formada pela fixação da energia (libido ou bioenergia) em uma das etapas do desenvolvimento psicológico e somático infantil.

Seria por demais cansativo apresentarmos pormenorizadamente aqui cada uma dessas estruturas. Por isso nos limitaremos a citá-las, e mostrar suas representações esquemáticas, porém estereotipadas, de cada estrutura, para que se possa ter uma idéia aproximada de cada uma delas.

Para aqueles interessados em conhecer mais profundamente o trabalho de Lowen, sugerimos a leitura de seus livros, principalmente o livro chamado “Bioenergética” que, de uma maneira simples e objetiva, apresenta todas estas estruturas.

No momento é suficiente sabermos que a personalidade e o corpo estão intimamente relacionados e que portanto, o que acontece na mente se reflete no corpo e vice-versa. Isso nos permite abordarmos integralmente o indivíduo intervindo ora através da mente ora pela via corporal.

Sendo assim gostaria de convidá-los a participar de uma pequena vivência onde utilizaremos alguns recursos da Análise Bioenergética, para que se possa ter uma idéia mais concreta e objetiva desse trabalho que é eminentemente psicocorporal.

(*) Dr. Overlack Ramos, médico e psicoterapeuta, diretor do BIOCENTRO-Centro de Análise Bioenergética e Terapias Integradas e CBT pelo “The International Institute for Bioenergetic Analysis-USA.”

(**) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Reich, Wilhelm, Análise do Caráter, Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1979
2. Reich, Wilhelm, A Função do Orgasmo, Editora Brasiliense, 1977
3. Lowen, Alexander, Bioenergética, Summus Editorial, 1982
4. Lowen, Alexander, O Corpo em Terapia, Summus Editorial, 1977

Categorias
Artigos e Textos

Análise Bioenergética dos Sonhos

Overlack Ramos

“Os sonhos são uma amplificação da dinâmica do corpo e da personalidade”.

“Tanto os estados de sonho quanto seus conteúdos refletem a história do corpo, as lutas e inquietações atuais”.

“A tensão interior envia informações que afetam a percepção e a capacidade racional, distorcendo e confundindo a clareza daquilo que é visto, com aquilo que é necessitado”.

“O estado de sonho é, necessariamente, um movimento, pelo menos temporário, para uma situação de carga de energia baixa, como a do esquizofrênico”.

“Este estado suaviza a respiração e permite o relaxamento dos músculos envolvidos nas atividades conscientes e préconscientes”.

“As pessoas que fazem uso de drogas relatam processos de liberação do corpo e uma aguçada percepção sensorial quando estão sob o efeito destas drogas”.

“O súbito relaxamento destas tensões, quer seja no sono, na terapia, na experiência com drogas ou nos momentos místicos, é mentalmente manifestado pelo aparecimento de símbolos”.

“Do momento místico, e de insight em insight até a insanidade há apenas um tênue limite. O uso de sonhos e visões dentro do contexto da realidade concreta produz tanto o enriquecimento, quanto a depressão, a confusão, o dessespero e até mesmo a autodestruição”.

“Quando os sonhos são trabalhados no contexto terapêutico, pode se chegar aos insights e consequentemente ao crescimento da personalidade”.

Sonhos e Tipos Caracterológicos:

“Pessoas que compartilham de tipos semelhantes de experiências desenvolvem tensões corporais e estruturas caracterológicas semelhantes que naturalmente levarão a similaridade nos símbolos dos sonhos. É recomendável um cuidadoso exame do modo como as experiências corporais são representadas nos sonhos”.

“Compreendendo o significado destes bloqueios e como estão padronizados no corpo de uma pessoa, o terapeuta é capaz de deduzir adequadamente os temas básicos que causam dificuldades à vida da pessoa”.

“O Analista guarda na memória os padrões daquela personalidade porque eles irão, consistentemente, moldar a formação das ilusões e das defesas toda vez que um novo bloqueio emergir na consciência do cliente”.

Conteúdo Latente do Sonho

“O sonho repete as estruturas de formação da personalidade na dinâmica interação dos símbolos do sonho. As contrações musculares surgidas no início da vida e ainda presentes, determinam o conteúdo latente de que falava Freud.”

Símbolos dos Sonhos

“Quando a energia flui para uma área contraída, o conflito físico surgido da direção da energia para os músculos contraídos aparece nos símbolos do sonho”.

“Se o bloqueio é abalado mas não cede, as emoções negativas e ameaçadoras podem causar uma perturbação ao ponto de levar a pessoa a despertar”.

Conteúdo Manifesto

“Todos os sonhos falam de energia e do bloqueio no corpo. Os sonhos são um retrato detalhado e vivo das dinâmicas que estão se processando no indivíduo. Podemos compreender as repressões crônicas da personalidade, tanto quanto aquilo com que o corpo está lidando, prestando atenção à história que é contada”.

“Os conteúdos manifestos dos sonhos diferem de diversas maneiras. Isto depende da atividade que o indivíduo realizou durante o dia. A escolha do símbolo está fortemente relacionada às coisas que foram vistas e sentidas na vida diária”.

“Somos atingidos e estimulados em diferentes áreas do nosso corpo pelos temas das nossas atividades diárias”.

“As repressões, à medida que surgem e são parcialmente descarregadas durante o dia, aparecerão, simbolocamente, como conteúdo manifesto do sonho”.

“Cada elemento do sonho deve, também, ser entendido num sentido corporal”.

“Os sonhos podem ser utilizados na terapia como um meio de se obter uma compreensão objetiva das realidades das experiências corporais e como uma ajuda para se trabalhar bioenergeticamente o relaxamento das tensões físicas que restringe o fluxo da vida do organismo.”

“Todos os símbolos oníricos, assim como todas as ilusões fora do sono, são manifestações de uma restrição do fluxo do corpo.”

“Estudando cuidadosamente os símbolos oníricos, que se apresentam durante o período de baixa energia do sono, podemos ver os padrões caracterológicos das restrições e compreender as áreas de inquietação atual que estes bloqueios expressam. “

“Utilizando os sonhos podemos esclarecer e avivar o significado do corpo na existência diária e ajudar as pessoas a se tornarem conscientes da importância que o bloqueio corporal tem na limitação deles. Os sonhos mostram a origem histórica e a padronização atual das áreas problemas”.

“Classificando os símbolos oníricos em termos de energia reprimida e partes do corpo, somos capazes de perceber e explicar a estrutura dinâmica da personalidade do indivíduo”.

Trechos extraídos da apostila sobre sonhos de Ronald Robbins apresentados na Mesa Redonda sobre Sonhos, realizada durante o Treinamento em Análise Bioenergética, turma do 3º ano.
Salvador, 01 de agosto de 1998

Categorias
Artigos e Textos

Algumas instruções e informações para o tratamento da Depressão

Overlack Ramos

A depressão é uma doença ou transtorno que acomete em torno de 15% na população mundial, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. A mais recente Classificação Internacional de Doenças (CID-10), publicada pela O.M.S., estabelece critérios para o diagnóstico da depressão, a depender da sintomatologia apresentada, segundo diversos tipos e graus: leve, moderada e grave; e do diagnóstico correto e preciso feito pelo médico psiquiatra. Disso depende a indicação do tratamento a ser realizado, podendo ser psicofarmacológico e/ou psicoterapêutico.

Apesar das freqüentes informações divulgadas constantemente pela mídia, muitas pessoas ainda não reconhecem que sofrem deste transtorno e confundem alguns sintomas como sendo traços de sua personalidade, razão porque não aceitam o tratamento, ou mesmo, talvez, por preconceito, desinformação e medo, muitas vezes confundindo depressão com psicose ou loucura.

Existem testes de avaliação ou questionários que podem ajudar no diagnóstico, como, por exemplo a Escala de Avaliação para Depressão de Hamilton, muito utilizada pelos psiquiatras em todo o mundo.

A etiologia da depressão pode ser explicada por diversas hipóteses e teorias não excludentes, mas complementares, desde uma base genética/hereditária, orgânica/constitucional, hormonal, metabólica, reativa a situações de morte ou outras perdas, influências econômicas/sociais e espirituais.

Acreditamos que o mais provável é tratar-se de um doença de causa multifatorial e, portanto, seu tratamento também deve visar abranger todos os aspectos da complexidade do ser humano: físico, psíquico, emocional, social e espiritual.

O tratamento medicamentoso é feito com o uso de medicamentos antidepressivos, que visam restabelecer o equilíbrio de substâncias químicas mediadoras do funcionamento do Sistema Nervoso Central. Seu efeito terapêutico não é imediato, levando em torno de 3 a 4 semanas para serem observados resultados. O tratamento deve ser continuado, diariamente e a longo prazo, no mínimo com 6 meses de duração após a remissão dos sintomas, para se iniciar a retirada, na tentativa de evitar recidivas ou recaídas, o que, quando acontece, piora o prognóstico.

Além do mais, pode ser utilizada a associação com tranqüilizantes ou ansiolíticos, ou mesmo hipnóticos, a depender da sintomatologia apresentada ou comorbidade.

Os antidepressivos não são substâncias que causam em si dependência, mas a sua retirada, muitas vezes, deve ser lenta e gradual, para se evitar síndromes de abstinência.

Já os ansiolíticos e hipnóticos, devem ser usados com maior cautela, o menor tempo possível, pois o uso muito prolongado pode causar dependência física e psíquica. Neste caso, deve-se ponderar o seu benefício para aquela situação momentânea.

Todos os medicamentos geram efeitos colaterais, alguns benéficos, outros, não, sendo que os mais modernos, chamados de última geração, geralmente causam menos efeitos colaterais, quando comparados com os clássicos, embora, em termos de eficiência, praticamente não haja diferença significativa. Outro inconveniente dos medicamentos de 3ª geração é o custo elevado, considerando-se seu uso prolongado, o que os torna, muitas vezes, inacessíveis para a grande maioria da população.

Os efeitos indesejáveis costumam desaparecer com a continuidade do uso, porém, antes de interromper o seu uso, o cliente deve consultar o médico e evitar interromper, ou suspender, o uso sem orientação. Tais atitudes visam facilitar o tratamento e evitar recidivas.

É muito comum, quando o cliente se sente melhor, deixar de usar os medicamentos por conta própria, o que, freqüentemente, provoca recidivas com sintomatologia mais grave, tendo-se que reiniciar o tratamento por maior tempo e com piora do prognóstico.

Os clientes deprimidos, geralmente, são muito sugestionáveis e temerosos com os efeitos colaterais dos medicamentos. Portanto, deve-se evitar ler as bulas, pois, em geral, fica-se assustado e com medo de tantos efeitos colaterais, que são muito mais uma cautela dos laboratórios, uma vez que nem todos os clientes apresentam os efeitos colaterais descritos, porque as reações são individuais. Além do mais, os medicamentos são testados em vários países e autorizada sua comercialização pelos órgãos governamentais controladores competentes. Portanto, são seguros, desde que usados sob orientação médica.

A doses são, geralmente, individualizadas, sendo necessário encontrar a medicação certa na dosagem adequada a cada cliente.

Os clientes devem ser acompanhados periodicamente, às vezes, semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente, até se encontrar a dosagem terapêutica de manutenção, com o mínimo de efeitos colaterais. Portanto, o cliente deverá comparecer às consultas de acompanhamento com regularidade e responsabilidade.

Quanto ao tratamento psicoterapêutico, deve ser realizado com uma freqüência mínima semanal, exceto em situações mais críticas que podem ter uma freqüência maior.

O objetivo da psicoterapia é buscar outras origens dos sintomas, que podem, inclusive, estar levando a uma desregulação das substâncias químicas reguladoras do funcionamento do Sistema Nervoso Central. Além do mais, visa o auto-conhecimento e obter mudanças e transformações de padrões de comportamento e de personalidade, bem como trabalhar os conflitos, na maioria das vezes inconscientes, que funcionam como fontes geradoras ou mantenedoras dos sintomas.

A psicoterapia é também um tratamento a longo prazo, sendo imprescindível que o cliente deseje se submeter ao processo, de livre e espontânea vontade, pois depende dele o desejo de mudar. A psicoterapia não deve ser vista como um tratamento mágico, nem tão pouco milagroso.

A função do psicoterapeuta, neste caso, é de acompanhá-lo nessa viagem em busca do auto-conhecimento e de transformações na sua forma de ser, de se relacionar consigo mesmo, com o outro (o meio ambiente) e, consequentemente, com os sintomas. E isso leva tempo. Mas a duração da psicoterapia vai depender, sobretudo, do ritmo de cada cliente e do investimento que ele faz em si próprio. É necessário persistência e perseverança. E nunca deve ser vista como uma obrigação.

Sobretudo, é necessário que o cliente reconheça e aceite a doença e se conscientize de que necessita da ajuda de um profissional especializado, para poder passar por esse processo de crescimento e transformação. Como diz Alexander Lowen, o criador da Análise Bioenergética, “esta não é uma viagem segura. Poucos foram os que conseguiram fazê-la sozinhos. Apesar do medo, é preciso ter coragem, e o terapeuta funciona como guia ou navegador, aquele que ajudará estendendo-lhe a mão quando vier o mau tempo”. Deverá, portanto, caminhar, passo a passo, ao lado do cliente. Nem seguir adiante ou atrás. Enfim, caminhar juntos.

Finalmente, do ponto de vista existencial e espiritual, a depressão deve ser vista, a meu ver, muito mais como uma crise, uma crise de crescimento, de amadurecimento, de evolução, de transformação em todos os sentidos e aspectos da vida humana. É uma busca por um sentido maior e mais profundo para sua existência nesta vida, neste planeta. Deste ponto de vista a depressão é uma doença da alma. É uma necessidade de expressão do verdadeiro Eu ou da Essência Divina que há em cada um de nós, independente de religião. É uma necessidade de se comunicar, de se ligar com Deus, com o Cosmos, resgatar a fé, a força e a esperança, que estão perdidas ou desconectadas. Portanto, é necessário esse reencontro, essa reconecção ou reconciliação que havia na criança inocente e bela, mas cujo elo foi perdido por alguma(s) circunstância(s) experiências traumáticas vividas nas diversas etapas da vida, principalmente na infância, ou mesmo na adolescência ou vida adulta.

A pessoa conectada com sua espiritualidade é um pessoa feliz e alegre e, portanto, não sofre de depressão, e isso não depende de bens materiais. Só podemos ser felizes verdadeiramente quando pudemos realizar a experiência da expressão do verdadeiro Ser, e isso independe do ter ou das realizações egoístas e egocentristas do nosso ego, infelizmente, nos dias atuais, tão incentivadas pela cultura massificante da globalização, que nos impõe tudo de forma cada vez mais insconsciente, levando as pessoas a se tornarem manipuladas como “robots” ou máquinas, incapazes, portanto, de se reconhecerem como pessoas únicas e especiais. Enfim, não sabemos mais quem somos, o que queremos, o que desejamos verdadeiramente para nossa profunda realização do projeto de Deus.

Salvador, 22/07/03

Categorias
Artigos e Textos

A traição ao amor

Alexander Lowen

…A pessoa externaliza sobre aqueles que são impotentes e dependentes os insultos e traumas que sofreu quando era uma criança impotente e dependente.

…Sem pensar, a maioria dos pais trata seus filhos como foram tratados por seus pais. Em alguns casos, fazem isso apesar de uma voz interior dizer-lhes que isso está errado. Uma criança maltratada geralmente torna-se um genitor que maltrata porque a dinâmica desse comportamento fica estruturada em seu corpo. Os filhos que foram submetidos á violência são geralmente violentos com seus próprios filhos porque estes são objetos fáceis para a descarga da raiva reprimida. Com o tempo, as crianças identificam-se com seus pais e justificam tal comportamento como necessário e carinhoso.

…Com sua profunda sensibilidade, uma criança pode sentir o amor do genitor, mesmo quando está sendo ferida. Ela percebe os sentimentos que estão abaixo da superfície e acredita neles. É como se a criança acreditasse que o abuso é uma expressão de amor.

…O ódio não é mau, assim como o amor não é bom. São ambos emoções naturais, apropriadas em certas situações. Amamos a verdade, odiamos a hipocrisia, Amamos o que nos dá prazer, odiamos o que nos causa dor. Há uma relação de polaridade entre essas duas emoções, assim como há entre a raiva e o medo. Não podemos ficar com raiva e medo no mesmo momento, embora possamos oscilar entre esses sentimentos se a situação exigir.

… Nesse processo de autodescoberta, a análise do comportamento e do caráter é a bússola que nos dá a verdadeira direção. Temos de entender o como e o porquê do comportamento, antes que possa ser transformado. Devemos começar sempre com o reconhecimento e a aceitação da inocência de uma criança. Ela não tem conhecimento dos complexos problemas psicológicos da personalidade humana. O amor de uma criança por seus pais que é a contrapartida do amor dos pais pela criança, está tão enraizado na natureza que requer uma boa dose de sofisticação da parte da criança para questioná-lo. Até esse momento, a criança pensará que o abuso e a falta de amor se devem a alguma coisa que ela tenha feito de errado. Não é difícil se chegar a essa conclusão. Por exemplo, os conflitos entre os pais são comumente projetados no filho. Um dos genitores acusará o outro de ser indulgente demais, o que faz com que a criança se dê conta de que não pode agradar a ambos. Geralmente, a criança torna-se o símbolo e o bode expiatório dos problemas conjugais, e, em muitos casos, embora a criança esteja no meio, a criança é obrigada a tomar partido. Sei de muito poucas pessoas que saíram da infância sem uma forte sensação de que alguma coisa está errada nelas, de que não são o que e como deveriam ser. Conseguem apenas imaginar que, se fossem mais amorosas, tivessem se empenhado mais e fossem mais submissas, tudo estaria certo. Essas pessoas levam para os seus relacionamentos uma postura de tentar satisfazer o outro, e ficam chocadas quando descobrem que isso não dá certo.

Relacionamentos adultos saudáveis baseiam-se em liberdade e igualdade. Liberdade denota o direito de expressar livremente os próprios desejos e necessidades; igualdade significa que cada pessoa está no relacionamento por si mesma, e não para servir ao outro. Se a pessoa não consegue falar abertamente, não é livre; se tem de servir a uma outra, não é igual. Mas muitas pessoas não sentem que tenham esses direitos. Quando crianças, foram recriminadas por exigir a satisfação de seus desejos e necessidades; foram rotuladas de egoístas e insensíveis. E foram levadas a sentir-se culpadas por colocar seus desejos acima daqueles dos pais.

Quase todos os relacionamentos começam com indivíduos sendo atraídos um ao outro por sentimentos positivos e prazer. Infelizmente, é raro que essas coisas continuem a crescer e aprofundar-se com o passar dos anos. O prazer desaparece, os sentimentos positivos tornam-se negativos e o ressentimento aumenta porque, sem o sentimento de ser livre e igual, o indivíduo sente-se insatisfeito e aprisionado. A raiva reprimida é atuada de uma forma ou de outra – seja psicológica ou fisicamente – e o relacionamento está falido. Nesse ponto, o casal pode romper ou procurar aconselhamento num esforço para resgatar os bons sentimentos que um dia tiveram um pelo outro. Não tenho visto muitos casos em que o aconselhamento seja eficaz. A maioria dos profissionais tem como objetivo ajudar os indivíduos a compreender um ao outro e fazer um esforço maior para ficaram bem juntos, mas na realidade isso apoia a atitude neurótica de empenhar-se. Nenhum empenho torna alguém mais amoroso ou digno de amor. Nenhum empenho produz prazer ou alegria. O amor é uma qualidade de ser – de ser aberto – e não de fazer. Podemos ganhar uma recompensa pelo empenho, mas o amor não é uma recompensa. É a excitação e o prazer de duas pessoas encontram uma com a outra quando se entregam à atração que há entre elas. Posto que todos os relacionamentos amorosos começam com uma entrega, o seu fracasso em prosseguir decorre do fato de que a entrega era condicional, e não total, e era à outra pessoa, não ao self. É condicional do que a outra pessoa satisfaça as suas necessidades e não representa uma partilha plena do próprio self. Uma parte do self fica retida, escondida, negada por causa de culpa, vergonha ou medo. Essa parte retida, raiva e ódio, é como um tumor no relacionamento, e o corrói lentamente. A tarefa terapêutica é remover o tumor.o

Categorias
Artigos e Textos

A Respiração Circular

“Renascimento, ou respiração circular, não é ensinar alguém a respirar, e sim o ato terno e intuitivo de aprender a respirar através da própria respiração. É unir a inspiração e a expiração, num ritmo intuitivo descontraído, até chegar à respiração interior, que é a origem e o espírito da respiração propriamente dita; é misturar-se com o ar, que é a respiração exterior.”

Leonard Orr

O caminho mais simples e direto para experimentar toda a expectativa e o poder da respiração é através de um sistema freqüentemente chamado de “respiração circular”. Na respiração circular, a pessoa respira num fluxo constante, sem pausa ou interrupção, durante um longo período. A inspiração conduz diretamente à expiração sem que a pessoa pare ou prenda a respiração; a expiração conduz diretamente a outra inspiração sem nenhuma pausa entre as respirações. A expiração e a inspiração são ligadas, fluindo facilmente de uma para a outra, permitindo um fluxo constante da respiração – inspirando, expirando, inspirando – e assim criando a representação do movimento circular entre respiração/energia.

Com apenas alguns minutos de respiração circular, pode começar a ocorrer uma grande quantidade de efeitos. A pessoa que estiver praticando a respiração poderá sentir uma sensação de formigamento quente pelas mãos, rosto ou pés, que podem se espalhar agradavelmente por todo o corpo. O formigamento poderá se intensificar numa compacta e expressiva cãibra dolorosa dos músculos, a princípio nas mãos, depois no rosto, pés e em todos os lugares do corpo.

A pessoa poderá desfalecer, delirar ou ter dificuldade de permanecer lúcida. Poderá haver longos períodos em que a respiração se tornará totalmente fraca e outros em que respirar parecerá um grande esforço.


O indivíduo que está praticando a respiração circular poderá sentir náusea, falta de ar, tremores nos músculos ou sua temperatura poderá ficar, repentinamente, extremamente quente e/ou fria.

A pessoa poderá relembrar seu nascimento com extraordinária clareza ou poderá reviver algumas experiências precoces, inclusive a vida pré-natal, no interior do útero. Essas lembranças poderão vir através de formas visuais ou podem tornar-se aparentes nos próprios movimentos e expressões do corpo naquele momento.

Sem dúvida, a pessoa sentirá com grande intensidade tristeza, vergonha, raiva, medo, descontrole, sentirá vulnerabilidade, desamparo e absoluto terror – tais emoções poderão se precipitar como ondas por toda a pessoa, como se ela fosse submergir e ser tragada. Na verdade, uma das imagens mais úteis durante a respiração circular é a de estar escorregando em cascatas, que são as emoções intensas sendo liberadas invariavelmente através da respiração circular contínua.

Mais animado, a pessoa poderá experimentar um formigamento no corpo que estimulará arrebatadora alegria; ondas de prazer sexual surgirão em todas as partes do corpo; um relaxamento profundo; poderosa penetração na natureza da vida; visões de conteúdo místico profundo ou um renascimento espiritual inesquecível. A pessoa poderá descobrir, no âmbito celular, a ligação fundamental entre respiração, emoção e energia.

Os cientistas ocidentais têm observado esses resultados – especialmente os menos prazerosos – e os têm englobado sob o título de “síndrome da hiper-liberação”, explicando que quando alguém respira muito rápida ou continuamente, a troca normal do oxigênio e do dióxido de carbono se descontrola, o que, por sua vez, causa esses resultados negativos.

Os praticantes antigos da respiração circular afirmam em seus relatos, que se alguém pratica a contínua respiração por muito tempo, as experiências negativamente contraídas darão lugar a grande alegria.

A hiper-liberação não é uma síndrome negativa, e sim uma solução positiva: é a cura de uma vida de subliberação. Quando praticada intencionalmente, a hiper-liberação inunda a mente e o corpo com grandes quantidades de energia, causando uma potente libertação e limpeza das energias contraídas.

A medicina ocidental não compreenderá a respiração e os resultados da respiração profunda enquanto não perceber o movimento da energia dentro da experiência humana. Na verdade, tentar entender a respiração sem o conhecimento da energia é como tentar entender o coração sem o conhecimento do sangue. A hiper-liberação, com todas as suas formas e efeitos, pode ser compreendida somente dentro do contexto do movimento da energia/emoção contraída.

A respiração circular funciona quando se cria um forte e fluente círculo de energia através do corpo e da mente. À medida que a energia flui cada vez com maior intensidade, o paciente se torna consciente dos padrões específicos de energia contraída e sem movimento. Por esses padrões de contração estarem enraizados em experiências dolorosas, o seu conhecimento naquele momento, a princípio, evidentemente magoa.

Qualquer um dos efeitos “negativos” descritos acima poderá ocorrer – e geralmente com grande intensidade – devido às grandes cargas de energias que estão envolvidas. O simples e tão bem demonstrado poder da respiração circular é: se o paciente mantém a respiração, o fluxo contínuo da energia limpará e libertará os padrões de contração, levando leveza onde houver densidade, suavizando e relaxando os pontos tensos e dolorosos das experiências das pessoas e transformando as velhas mágoas das emoções em radiantes e adoráveis alegrias.

“Tem sido possível confirmar repetidamente a observação de Wilhelm Reich de que as resistências e defesas psicológicas usam os mecanismos de restringir a respiração. A respiração ocupa uma posição especial entre as funções psicológicas do corpo. É uma função autônoma, mas também pode ser facilmente influenciada pela vontade. Aumente a quantidade e profundidade da respiração, especialmente se libertando das defesas psicológicas, e se conduza à libertação e à saída da inconsciência (e superconsciência) material.”

Stanislav Grof e Michel Sky