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Iluminação ou consciência espiritual

Iogue Ramacháraca

Em muitos homens, a mente espiritual se revela lenta e gradualmente, e ainda que a pessoa possa sentir um constante aumento de conhecimento e consciência espiritual, pode não haver experimentado uma notada e repentina mudança.

Outros têm tido momentos do que é conhecido como iluminação, nos quais se acreditavam elevados quase fora do seu estado normal, e lhes parecia passar a um plano de existência ou de consciência mais elevado, que os deixava mais adiantados do que antes, ainda que não pudessem trazer à sua consciência uma clara recordação do que haviam experimentado, enquanto se encontravam nesse exaltado estado da mente. Essas experiências têm-se dado com muitas pessoas, em diferentes formas e graus, de todas as crenças religiosas, e têm sido geralmente associadas a algum aspecto da crença religiosa particular, professada pela pessoa que experimenta a iluminação. Mas os ocultistas adiantados reconhecem todas essas experiências como diferentes formas de uma só e mesma coisa – o amanhecer da consciência espiritual – o desenvolvimento da mente espiritual. Alguns escritores têm chamado a esta experiência consciência cósmica, nome muito apropriado, pois a iluminação – pelo menos em seus aspectos mais elevados – põe o indivíduo em contato com a totalidade de Vida, fazendo sentir uma sensação de parentesco com toda a Vida, alta ou baixa, grande ou pequena, boa ou má.

Essas experiências, como é natural, variam materialmente conforme o grau de desenvolvimento individual, sua preparação prévia, seu temperamento, etc.; mas certas características são comuns a todas. O sentimento mais comum é o da posse quase completa do conhecimento de todas as coisas – quase onisciência. Esse sentimento existe apenas por um momento e nos deixa, a princípio, submersos em profunda pena pelo que chegamos a ver e que perdemos. Outro sentimento comumente experimentado é o da certeza da imortalidade, – uma sensação de atual ser – a certeza de haver sido sempre e a de estar destinado a sempre ser. Outro sentimento é o do desaparecimento de todo temor e da aquisição de um sentimento de certeza, segurança e confiança, e que estão além da compreensão daqueles que jamais o experimentaram. Então, um sentimento de amor nos inunda – um amor que abarca a Vida toda , desde os mais próximos a nós, na carne, até aos das mais longínquas partes do Universo – desde aquilo que nós consideramos puro e santo, até aquilo que o mundo considera vil, malvado e completamente indigno. Esse sentimento de retidão própria, que induz a condenar os outros, desaparece, e o amor, como a luz do sol, derrama-se sobre tudo que vive, sem ter em conta o seu grau de desenvolvimento ou bondade.

A alguns, essas experiências chegaram como um profundo sentimento de reverência que tomou completa posse deles, por alguns momentos ou mais tempo, enquanto que a outros se afigurava que se achavam num sonho e chegaram a ser conscientes de uma exaltação espiritual, acompanhada de uma sensação de estar circundando os compenetrados por uma luz brilhante.

A alguns, certas verdades se têm revelado sob a forma de símbolos, cujo significado não se tornou evidente senão muito tempo depois.

Essas experiências produzem uma mudança na mente daquele que passa por elas e que depois nunca torna a ser o mesmo homem que de antes. Ainda que a recordação vívida desapareça, fica ali certa reminiscência que, por longo tempo, será para ele um manancial de bem estar e de força, especialmente quando a sua fé vacila e se sente agitado, como uma cana, pelos ventos de opiniões em conflito e especulações do intelecto. A lembrança de tal experiência é uma fonte de renovada energia – um porto de refúgio, ao qual as almas fatigadas acodem para amparar-se do mundo externo que não as compreende.

Tais experiências são também usualmente acompanhadas de uma sensação de intensa alegria; de fato, a palavra e o pensamento de alegria parecem ser o que predomina na mente, nesta época. Mas não é uma alegria de experiência ordinária – é alguma coisa que não pode ser sonhada senão depois de havê-la experimentado – uma alegria cuja lembrança estimulará o sangue e fará palpitar o coração, todas as vezes que a mente relembrar a experiência. Como já dissemos, também se experimenta a sensação de um conhecimento de todas as coisas, uma iluminação intelectual impossível de descrever.

Nos escritos dos antigos filósofos de todas as raças, nos cantos dos grandes poetas de todos os povos, nas prédicas dos profetas de todas as religiões e tempos, podemos encontrar rasgos desta iluminação experimentada por eles – esse desenvolvimento da consciência espiritual. Não temos espaço para detalhar esses numerosos exemplos. Uns disseram-nos de um modo, outros de outro, mas todos dizem praticamente a mesma história. Todos os que têm experimentado essa iluminação, ainda que fosse em débil grau, reconhecem a mesma experiência na relação, canto ou prédica de outro, ainda que entre eles hajam decorridos séculos. É o canto da alma que, uma vez ouvido, jamais é esquecido. Ainda que seja expresso pelos toscos instrumentos das raças semi-bárbaras ou pelos mais aperfeiçoados talentos musicais da atualidade, seus tons são claramente reconhecidos. Vem o canto do velho Egito, – da Índia de todas as idades – da antiga Grécia e Roma, – dos primitivos santos cristãos – dos Quarkers Friends, – dos mosteiros católicos – das mesquitas maometanas – do filósofo chinês – das lendas do índio americano, herói profeta, – é sempre o mesmo tom, elevando-se mais e mais alto, à proporção que muitos mais o entoam e agregam suas vozes ou dos sons de seus instrumentos ao grande coro.

Aquele tão mal compreendido poeta ocidental, Walt Whitman, sabia o que dizia (como compreendemos nós), quando prorrompia e expressava em singular verso a sua estranha experiência. Lêde o que ele diz e verificai se já foi alguma vez melhor expresso:

“Como num desmaio, um instante, Outro sol inefável me deslumbra,
E todos os orbes conheci, e orbes mais brilhantes desconhecidos,
Um instante da futura terra, terra do céu.”

E quando sai do seu êxtase, exclama:

“Não posso estar acordado, porque nada me olha como antes,
Ou então estou acordado por primeira vez, e tudo de antes foi simples sonho.”

E nós devemos concordar com ele, quando declara a inabilidade do homem para descrever inteligentemente isso, nestas palavras:

“Quanto melhor quero expressar-me, menos posso, Minha língua não se move sobre sua ponta, Meu alento não obedece aos seus órgãos,
E fico mudo.”

Que essa grande alegria da iluminação seja vossa, queridos estudantes. E vossa será no seu tempo oportuno. Quando ela chegar, não vos alarmeis, e quando vos abandonar, não lamenteis sua perda – voltará outra vez. Vivei elevando-vos acessíveis à sua influência. Estais sempre dispostos a escutar a voz do silêncio, prontos sempre a responder ao toque da Mão Invisível.

Não torneis a temer, porque convosco tendes sempre o Ser Real que é uma chispa da Chama Divina, e o qual será como uma lâmpada que iluminará o caminho a vossos pés.

(Texto extraído do livro “Catorze Lições de Filosofia Iogue”
Iogue Ramacháraca; Editora Pensamento)

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Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus

John Gray

*UMA SELEÇÃO DAS MELHORES FRASES DESTE LIVRO DO EXCELENTE ESCRITOR JOHN GRAY

As mulheres precisam entender que quando ele está silencioso, ele está dizendo “Eu ainda não sei o que dizer, mas estou pensando nisso”. Em vez disso, o que elas escutam é “Eu não estou respondendo a você porque eu não me importo com você e eu vou ignorá-la. O que você me disse não é importante e por esse motivo não estou respondendo”.

As mulheres interpretam mal o silêncio de um homem. Dependendo de como está se sentindo naquele dia, ela pode começar a imaginar o pior – “Ele me odeia, ele não me ama, ele está me deixando para sempre”. Isso pode, então, acionar seu medo mais profundo, que é “Eu tenho medo de que se ele me rejeitar, então eu jamais serei amada. Eu não mereço ser amada”. Quando um homem está em silêncio, é fácil para uma mulher imaginar o pior porque os únicos momentos em que uma mulher ficaria em silêncio seriam quando o que ela tivesse a dizer fosse muito lesivo ou quando ela não quisesse falar com uma pessoa porque não mais confiasse nela. Não é de se admirar que as mulheres fiquem inseguras quando um homem de repente fica calado!

Eles podem sentir que intimidade demais rouba-lhes a força. Eles precisam regular o quanto se aproximam. Quando se aproximam demais de modo a se perder, disparam campainhas de alarme e se põem a caminho da caverna. Como resultado, ficam rejuvenescidos e encontram seu eu amoroso e poderoso de novo.

Fazer um homem se sentir errado por ir para dentro de sua caverna tem o efeito de empurrá-lo de volta, mesmo quando ele quer sair.

Minha esposa, Bonnie, algumas vezes usa essa técnica. Quando vê que estou na minha e caverna, ela vai às compras.

Quando ela estiver aborrecida por sua tendência de isolamento, ele pode desistir da caverna numa tentativa de satisfazê-la. Eis um grande erro. Se ele desistir da caverna (e negar sua verdadeira natureza), se tornará irritadiço, excessivamente sensível, defensivo, fraco, passivo ou intratável.
E para piorar as coisas, não saberá por que se tornou tão antipático.

A maioria das mulheres fica surpresa ao se dar conta de que, mesmo quando um homem ama uma mulher, periodicamente ele precisa se afastar antes de poder se aproximar. Os homens instintivamente sentem esse impulso de se afastarem. Não é uma decisão ou uma escolha. Simplesmente acontece. Não é nem culpa dele nem dela. É um ciclo natural.

As mulheres interpretam mal o afastamento de um homem porque uma mulher geralmente se afasta por razões diferentes. Ela se retrai quando não confia nele para entender seus sentimentos, quando foi machucada e tem medo de ser machucada de novo, ou quando ele fez alguma coisa errada e lhe desapontou. Certamente um homem pode se afastar pelos mesmos motivos, mas ele também se afastará mesmo que ela não tenha feito nada de errado. Ele pode amá-la e confiar nela, e de repente começar a se afastar. Como um elástico esticado, ele vai se distanciar e então voltar por si só.
Um homem se afasta para satisfazer sua necessidade de independência e autonomia.

Quando um homem volta, ele retoma o relacionamento no mesmo grau de intimidade em que estava antes de se esticar para longe. Ele não sente nenhuma necessidade de um período de readaptação.

Se compreendido, esse ciclo masculino de intimidade enriquece o relacionamento, mas como é mal compreendido, ele cria problemas desnecessários.

Se um homem não tiver a oportunidade de se afastar, ele nunca terá a chance de sentir seu forte desejo de estar perto. É essencial que as mulheres entendam que se elas insistirem em intimidade constante ou “correrem atrás” do seu parceiro íntimo masculino quando ele se afastar, então ele ficará quase sempre tentando escapar e se distanciar; ele nunca terá uma chance de sentir seu próprio desejo apaixonado por amor.

Comumente eu ouço a reclamação “Toda vez que quero conversar, ele se afasta. Sinto como se ele não se importasse comigo”. Ela conclui erroneamente que ele não quer conversar com ela nunca.
Essa analogia com o elástico explica como um homem pode se preocupar muito com sua parceira, mas de repente se afastar. Quando ele se afasta, não é porque ele não queira conversar. Ao contrário, ele precisa de algum tempo sozinho; tempo para ficar consigo mesmo, para não ser responsável por ninguém mais. É um tempo para cuidar de si mesmo. Quando ele retornar, então estará disponível para conversar.

Até um certo ponto um homem se perde de si mesmo ao entrar em conexão com sua parceira. Sentindo as necessidades, problemas, vontades e emoções dela, ele pode perder contato com seu próprio sentido do eu. Afastar-se permite-lhe restabelecer seus próprios limites e satisfazer sua necessidade de se sentir autônomo.

Do mesmo modo que nós não decidimos ficar com fome, um homem não decide se afastar. É um impulso instintivo. (…) Entendendo esse processo, as mulheres podem começar a interpretar esse afastamento corretamente.

Esse ciclo natural do homem de se afastar pode estar obstruído desde sua infância. Ele pode ter medo de se afastar porque testemunhou a desaprovação de sua mãe ao distanciamento emocional de seu pai.

Tal homem pode nem notar que precisa se afastar. Pode inconscientemente criar discussões para justificar seu afastamento. Esse tipo de homem desenvolve mais o seu lado feminino, mas à custa da repressão de um pouco o seu lado masculino. Ele é um homem sensível – Ele tenta bastante agradar e ser amável, mas perde parte do seu eu masculino no processo. Ele se sente culpado em se afastar, sem saber o que aconteceu, perde seu desejo, poder e paixão; torna-se passivo e excessivamente dependente.

Entender esse ciclo de intimidade masculino é tão importante para um homem quanto para uma mulher. Alguns homens se sentem culpados por terem necessidade de passar algum tempo em suas cavernas ou podem ficar confusos quando começam a se afastar e então, mais tarde, se encolhem de volta. Eles podem erroneamente julgar que alguma coisa está errada com eles. Por isso é importante tanto para homens quanto para mulheres entender esses segredos sobre homens.

Sandra e Larry estavam casados há vinte anos. Sandra queria o divórcio e Larry queria tentar ainda fazer com que o casamento desse certo. Ela disse “Como é que ele pode dizer que quer continuar casado? Ele não me ama. Ele não sente nada. Ele se afasta toda vez que preciso que ele fale. Ele é frio e sem coração. Por vinte anos ele tem contido seus sentimentos. Eu não estou disposta a perdoá-lo. Eu não permanecerei nesse casamento. Eu já estou cansada de tentar fazê-lo se abrir e compartilhar
seus sentimentos e ficar vulnerável”. Sandra não sabia como tinha contribuído para o problema deles. Ela pensava que era tudo culpa do seu marido. Julgava que tinha feito de tudo para promover intimidade, conversa e comunicação, e que ele tinha resistido a ela por vinte anos. Depois de ouvir sobre homens e elásticos no seminário, ela caiu em prantos, pedindo perdão para o seu marido. Ela se deu conta de que o problema “dele” era problema “deles”, homens.

Numa sessão particular de aconselhamento, Lisa me contou, “Não é mais divertido ficar com ele. Eu tentei de tudo para animá-lo, mas não funciona. Quero que façamos coisas divertidas juntos, como ir a restaurantes, fazer compras, viajar, ir ao teatro, festas, e dançar, mas ele não. Nós nunca fazemos nada. Só assistimos televisão, comemos, dormimos e trabalhamos. Eu tento amá-lo, mas estou com raiva. Ele costumava ser tão charmoso e romântico! Viver com ele agora é como viver com uma lesma.

Não sei o que fazer. Ele simplesmente não arreda pé!” Depois de aprender sobre o ciclo de intimidade masculino – a teoria do elástico – tanto Lisa quanto Jim se deram conta do que tinha acontecido. Eles estavam passando tempo demais juntos. Jim e Lisa precisavam passar mais tempo separados.

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Grounding – 2ª parte

“Se o indivíduo não está atento ao seu corpo, é porque tem medo de perceber os seus sentimentos.”

Alexander Lowen 

  • ILUSÃO E REALIDADE

A palavra realidade pode ter significados diferentes, para pessoas diferentes. Em termos bioenergéticos, todavia, quando se diz que uma pessoa não está em contato com a realidade, significa que ela não está em contato com a realidade do seu ser. O melhor exemplo é o do esquizofrênico que vive num mundo de fantasia e não percebe as condições físicas de sua existência.

Para qualquer pessoa, a realidade básica do seu ser é seu corpo. É através dele que vivenciamos o mundo, interagimos e reagimos a ele. Se alguém está fora de contato com o seu corpo, está fora de contato com a realidade do mundo.

A inescapável realidade da vida é que a pessoa é seu corpo e o corpo é a pessoa. Quando o corpo morre, a pessoa morre. Quando o corpo fica “amortecido”, isto é, quando não há sentimento, a pessoa deixa de existir como indivíduo, como personalidade definida.

Em seu livro “O Corpo Traído”, Alexander Lowen resumiu este pensamento com as seguintes palavras:

“Se o corpo está relativamente amortecido, a percepção e reação da pessoa estarão diminuídas. Quanto mais vitalidade tiver no corpo, mais vívidas serão suas impressões da realidade e mais ativamente irá reagir a elas.”

Em outra parte da mencionada obra, ele também postulou o seguinte:

“É o corpo que vibra com amor, treme com frio, estremece de raiva e procura calor e contato. Fora do corpo essas palavras são imagens poéticas. Vivenciadas no corpo, têm uma realidade que dá sentido à existência. Baseado nas realidades dos sentimentos do corpo, uma identidade tem substância e estrutura. Abstraída dessa realidade, a identidade é um artefato social, um esqueleto sem carne.”

O problema terapêutico é que a pessoa que está fora de contato com seu corpo não sabe do que está falando. Pode até mesmo dizer “O que é que tem a ver o meu corpo com a maneira como eu me sinto?”, uma frase absurda, pois o que a pessoa sente é o seu corpo. Esta pessoa não está em contato com a realidade, e dela pode-se dizer o seguinte:

  • Persegue objetivos irreais ou está presa a uma ilusão;
  • Não tem os pés no chão; e
  • Perdeu sua fé.

Na verdade, são três aspectos diferentes de uma mesma situação, já que a pessoa que não está assentada no chão, não tem fé e procura objetivos irreais. Por outro lado, a pessoa que está com os pés no chão, tem fé e está em contato com a realidade. Melhor seria dizer-se que a pessoa que está em contato com a realidade, está assentada e tem fé.

A falta de contato com a realidade nos remete ao estudo das ilusões, um capítulo essencial no estudo bioenergético.

Quando o paciente procura o terapeuta, ele admite que algo em sua vida não saiu do jeito que deveria; encontra-se confuso sobre suas reais expectativas ou situações que não consegue discernir. Às vezes, não sabe sequer o que deseja exatamente, enfim, ele admite estar em apuros.

Visto que esses são problemas já conhecidos e o fato de que é mais fácil ser objetivo a respeito de outra pessoa, o terapeuta pode em geral discernir os aspectos do pensamento e da conduta daquela pessoa que são irreais, ou seja, baseados mais em ilusões do que em realidade.

Que são essas ilusões? Qual a sua origem? Como elas se desenvolvem?

A ORIGEM DAS ILUSÕES

O desespero conduz a ilusões. A pessoa desesperada cria ilusões para sustentar seu espírito em sua luta pela sobrevivência. O recurso da ilusão é fomentado pela impotência diante da realidade externa. É uma função válida do ego, mas que se torna patológica quando a impotência se deve a sentimentos de inadequação que nada tenham a ver com a realidade externa.

O papel representado pelas ilusões assumiu significado para Lowen quando ele estudou um caso de um paciente cuja personalidade revelava ter sofrido profunda rejeição materna no início da sua vida. A condição desesperada dessa pessoa forçava-a a criar ilusões que sustentavam o seu espírito ativo na luta pela sobrevivência. Incapaz de mudar ou escapar dessa realidade ameaçadora, restava-lhe recorrer a essas ilusões a fim de que não se deixasse levar por um desespero total.

A verdade é que as pessoas desesperadas têm suas ilusões secretas, cuidadas com todo carinho, e que pensa um dia concretizar. Quando sentem que são rejeitadas em sua natureza humana, desenvolvem a ilusão de serem superiores aos seres humanos comuns, por meio de virtudes especiais. É o mais nobre dos homens ou a mais pura das mulheres.

Essas ilusões geralmente se opõem às experiências da vida real daquelas pessoas. Por exemplo, a jovem cujo comportamento sexual é desregrado e promíscuo, acredita ser pura e virtuosa. A idéia subjacente a esta ilusão é a de que um dia será descoberta por um príncipe capaz de enxergar através de sua imagem externa, vendo em seu interior um coração de ouro.

Uma outra paciente, ao descobrir que seu marido tinha outra mulher, sentiu cair despedaçada a imagem de “pequena e perfeita esposa”, que fazia de si mesma. Evidente que essa pessoa se colocava na vida de um modo irreal, pois a idéia de que se possa ser uma “esposa ideal” não passa de uma mera ilusão, visto que a própria natureza humana é algo ainda muito distante da perfeição. Como se vê, o perigo de uma ilusão é que ela perpetua a condição de desespero.

PAPEL DAS ILUSÕES

Ao estudar a depressão, Lowen constatou que toda pessoa deprimida tem ilusões que a levam à falta de contato com a realidade em todas as ações e condutas de sua vida, e por conseqüência, à reação depressiva segue-se invariavelmente a perda de alguma ilusão.

Em sua conhecida obra “O Corpo em Depressão”, ele aprofundou a compreensão deste tema, resumindo-o no seguinte parágrafo:

“A pessoa que sofreu uma perda ou trauma em sua infância, suficientes para abalar seu sentimento de segurança e de auto-aceitação, projeta para sua imagem futura o requisito essencial de que esta inverta as experiências do passado.

Por exemplo, o indivíduo que passou pela sensação de rejeição, quando criança, configura o futuro como pleno de promessas de aceitação e aprovação. Se tiver enfrentado em sua meninice o desespero e a impotência, tentará naturalmente compensar em sua mente este insulto ao ego através de uma elaboração de uma imagem de futuro em que se torne poderoso e no controle das situações. As fantasias e devaneios que a mente tece buscam inverter o sentido de uma realidade desfavorável e rejeitadora, criando imagens e sonhos. Este indivíduo perde o contato com a origem infantil de suas experiências e sacrifica todo o seu presente à satisfação daquelas. Estas imagens são objetivos irreais, e sua concretização é um fim inatingível.”

Uma de suas pacientes expressou a mesma idéia com as seguintes palavras:

“As pessoas estabelecem para si próprias metas irreais e depois se conservam em constante estado de desespero na tentativa de concretizá-las.”

O perigo da ilusão, porém, é perpetuar o desespero, como ele enfatizou neste trecho de sua obra “O Corpo Traído”:

“À medida que uma ilusão ganha força, ela passa a exigir concretização, forçando desta maneira o indivíduo a entrar em conflito com a realidade, o que produz a sua conduta desesperada. A busca da realização de uma ilusão requer o sacrifício de sentimentos bons no presente, e a pessoa que vive na ilusão é, por princípio, incapaz de fazer exigências de prazer. Em seu desespero ela está disposta a ignorar o prazer e deixar a vida em estado de latência, na esperança de que sua ilusão a ser realizada, a livrará do desespero.”

Em razão deste pensamento, Lowen considerou a realidade uma direção secundária, pois a direção da pessoa dentro da realidade desenvolve-se aos poucos, conforme vai chegando mais perto da maturidade, ao passo que a orientação para o prazer está presente desde o início da vida, e por isto é considerada uma orientação primária.

Por esta visão, quanto melhor orientado dentro da realidade estiver o indivíduo, mais eficientemente suas ações satisfarão suas necessidades de prazer. É inconcebível que alguém consiga atingir o prazer, a satisfação e a realização que deseja tão ansiosamente, quando fora da sua própria realidade.

Esta compreensão conduziu Lowen a ampliar o papel das ilusões para todos os tipos de caráter, vez que toda estrutura de caráter é o resultado de experiências da meninice que, até certo ponto, abalaram os sentimentos pessoais de segurança e de auto-aceitação. Desta forma, as estruturas de caráter contêm imagens específicas, ilusões ou ego ideais que compensam os danos causados ao self .

Quanto maior tiver sido o trauma, maior será o investimento de energia na imagem ou ilusão; em todos os casos, porém, este é um investimento considerável. Toda parcela de energia que for desviada para a ilusão ou para atingir objetivos inalcançáveis, impedirá que a pessoa se torne disponível para viver o presente, o cotidiano. Tal pessoa encontra-se, assim, em desvantagem, em razão da  incapacidade de enfrentar a sua própria realidade.

  • AS ILUSÕES DO CARÁTER

A ilusão ou ego ideal de cada pessoa lhe é tão peculiar quanto sua personalidade. O conhecimento das ilusões de cada tipo de caráter aprofunda o conhecimento da estrutura e oferece ao terapeuta mais possibilidades de atuação.

Caráter esquizóide – Rejeitado como ser humano, em fase primitiva de sua vida, a resposta a tal rejeição é sentir-se superior. O ponto extremo que uma pessoa pode atingir para ser especial é tornar-se esquizofrênica (estado descompensado do caráter esquizóide). Neste extremo, a ilusão assume o caráter de delírio, sendo comum a crença de ser Jesus Cristo, Napoleão, etc.

Caráter oral – O trauma original foi a perda do direito desta pessoa ter necessidades. A ilusão que se desenvolve compensatoriamente é a imagem de a pessoa estar cheia de vigor e repleta de energia e sentimentos, que transbordam, literalmente, por todos os lados. Quando o humor oscila para a elação, a ilusão é viabilizada, e a pessoa se torna volúvel, excitável, espalhando turbilhões de pensamentos e idéias dentro de um mar de sentimentos. Este é o seu ego ideal, constituir-se o centro das atenções, como alguém que se dedica por inteiro ao que faz. Devido à falta de energia para sustentar a imagem, esta se esvai, levando a pessoa a um estado depressivo.

Caráter masoquista – A dor masoquista tem origem numa infância em que a criança foi humilhada e envergonhada, mas para compensar a dor, sente-se, no fundo, superior em relação aos demais. Esta imagem ilusória é consubstanciada por sentimentos suprimidos de desprezo pelo patrão, pelo terapeuta, e por todos aqueles que se encontram numa posição de superioridade. O masoquista investe em seus fracassos, que procura justificar com a alegação de que só não fora bem sucedido porque não se empenhou o suficiente, mas, “se quisesse”, lograria bons resultados. De modo paradoxal, o fracasso apóia esta ilusão de superioridade.

Caráter psicopático – A dor original desta estrutura de caráter é a experiência de ter sido desamparado, sem possibilidade de reação, nas mãos de um genitor sedutor e manipulador, compensada com a ilusão de que é o todo-poderoso. Com o intuito de concretizar a ilusão, persegue a riqueza e o poder, ou procura demonstra-los, mesmo que não os detenha. E quando os adquire, não os emprega de modo construtivo, mas no melhor interesse de sua imagem egóica.

Caráter rígido – Esta estrutura decorre da rejeição de um dos pais ao amor demonstrado pela criança, que se sente traída e com o coração partido, desenvolvendo em sua autodefesa um encouraçamento contra a manifestação do amor, por medo de ser novamente traída. Seu amor está resguardado, mas a pessoa de caráter rígido não tem a noção de haver retraído o seu afeto. A sua ilusão, ou auto-imagem é a de que ama sem ser amada. Ela é uma pessoa amorosa, e seu coração está pronto para o amor, mas a expressão deste sentimento é que está bloqueada. O indivíduo rígido, portanto, é alguém amoroso em nível dos sentimentos, mas não das condutas.

O perigo de uma ilusão ou imagem de ego é o fato de cegar a pessoa em termos de realidade. O indivíduo de caráter oral é generoso, mas não consegue enxergar que ele pouco tem a dar, e como é pequena a sua capacidade de realização. A pessoa rígida não pode discernir sua conduta amorosa de uma não amorosa. E o masoquista não consegue discernir quando é nobre submeter-se a uma situação dolorosa e quando isto tem o caráter de uma autoflagelação.

Mas o que nos cega não são apenas as ilusões. Somos obcecados pelas imagens egóicas que elas contêm; por isto não conseguimos por os pés no chão, e nem temos condições de descobrir o nosso verdadeiro íntimo.

  • OBSESSÕES

Toda ilusão deixa a pessoa obcecada, isto é, enredada nas malhas de um conflito não resolvido entre as demandas da realidade e as tentativas de realizar essa ilusão. A pessoa não está disposta a deixar sua ilusão de lado, o que seria um golpe para o ego, mas também não pode eximir-se de encarar as exigências da realidade. Na verdade, ela está presa num conflito emocional que a imobiliza, impedindo qualquer ação capaz de transformar a situação.

A paixão, por exemplo, é o caso típico de obsessão, na qual a pessoa se sente dividida entre dois sentimentos, o da atração e o medo da rejeição. Incapaz de ir avante por causa do medo e de recuar por causa do desejo, sente-se perdida, completamente obcecada, em virtude de um conflito consciente que não consegue solucionar.

As obsessões podem ser também inconscientes, quando são originárias de conflitos que surgiram na infância. Conscientes ou inconscientes, elas limitam a liberdade da pessoa em diversos setores da vida. Mas são as obsessões inconscientes que, à maneira de todos conflitos emocionais não solucionados, assumem uma estrutura corporal na forma de tensões musculares crônicas.

Acossada pelas obsessões, a pessoa não consegue encarar totalmente as exigências da realidade, que assumem um aspecto ameaçador, aterrorizante, pois esta é a imagem que continua sendo vista pelos olhos de uma criança desesperada.

Incapaz de enfrentar a realidade, a pessoa refugia-se em devaneios, construídos pelas ilusões. Esses devaneios fazem parte da vida secreta da maioria , e são constituídos de fantasias dificilmente reveladas pelo indivíduo.

Lowen cita o exemplo de um rapaz que perdeu a mãe aos nove anos de idade, vitimada por um câncer que a manteve presa à cama por muitos anos. Embora muito a amasse, este rapaz pouco se emocionou com a perda, e negava qualquer sofrimento, o que era difícil de se entender. Essa negação era a causa de sua depressão, cujo núcleo era impenetrável.

A ilusão veio à tona em um seminário de bioenergética, após a exposição do caso, quando uma aluna, observando-o, disse: “Você acreditava poder fazer com que sua mãe voltasse do reino dos mortos.” O rapaz respondeu “Sim…” de uma forma medrosa, como se dissesse: “Como é que você sabe?!”. Desnudar tal ilusão, segundo Lowen, constituiu-se num ponto de significativa transformação no curso do tratamento do rapaz.

Insights intuitivos por parte do terapeuta e a compreensão a respeito do momento existencial do paciente são necessários a qualquer terapia. Contudo, se não se consegue descobrir qual é a ilusão de um paciente, pode-se determinar que a pessoa está presa a uma obsessão, podendo-se daí inferir a ilusão. Isto é possível porque as obsessões manifestam-se na expressão física da pessoa.

  • COMO PERCEBER AS ILUSÕES

Há dois modos de se determinar, a partir da expressão corporal, se a pessoa está ou não subordinada a uma ilusão

  • Observando-se até que ponto a pessoa está em contato com o chão;
  • Observando-se a postura da metade superior do corpo. De ambas as    formas podemos visualizar o conflito, ou obsessão, para inferirmos, daí, a ilusão.

Na primeira hipótese pode-se perceber se o paciente está em contato com o chão, observando se a energia da pessoa flui vigorosamente até os pés. Colocando-se a pessoa sob uma posição de tensão, na postura do arco, ou em descarga, na posição do enraizamento, pode-se melhor perceber o fluxo das correntes energéticas que percorrem o corpo, e se elas descem até as pernas e os pés. Se a energia não flui vigorosamente até os pés, o contato sensitivo ou energético fica seriamente limitado. A pessoa, nesse caso, está em suspenso, preso por uma ilusão.

A explicação bioenergética deste fato é a movimentação ascendente da energia, afastando-se dos pés e das pernas. Quanto mais pronunciado o afastamento, mais alto parece que a pessoa subiu, dado que, em termos energéticos ou sensíveis, a pessoa está mais distanciada do chão. Notícias excitantes, embriaguez por álcool ou drogas, a excitação da paixão ou alegria também conferem a sensação de voar, vivenciada às vezes por pessoas esquizóides.

A segunda maneira de visualizar fisicamente a obsessão está na postura da metade superior do corpo. As mais comuns são as seguintes:

Cabide – Esta postura é encontrada somente nos homens : os ombros erguidos e ligeiramente achatados, o pescoço e a cabeça inclinados à frente. Os braços pendem soltos desde a articulação escapular, e o peito também está erguido. Tem-se a impressão de que existe um cabide invisível no corpo do indivíduo.

Uma análise da expressão deste corpo denuncia a dinâmica do conteúdo que o mantém em suspenso. Os ombros erguidos são uma expressão de medo, revelando uma pessoa trancada dentro de uma atitude de medo do qual não consegue se livrar, em razão de não ter consciência de que está aterrorizada.

A obsessão advém do conflito de sentimentos opostos. A pessoa está com medo, mas nega este sentimento. O resultado é que ela não consegue mexer-se por causa do medo e nem fugir porque negou-º Em suma, está emocionalmente imobilizada.

Enforcamento – Esta obsessão está associada à estrutura esquizóide de caráter, e recebeu este nome porque a postura do corpo lembra a figura de um homem que acaba de ser enforcado. A cabeça pende ligeiramente para o lado, como se estivesse rompida a conexão com o resto do corpo.

A personalidade esquizóide não se apóia no chão, e o contato desta pessoa com a realidade é superficial. Há uma ruptura na conexão entre a cabeça e o corpo. Ficar “pendurado” pelo pescoço levanta a pessoa do chão. A área de tensão desta estrutura de caráter localiza-se na base do crânio, sendo justamente esta tensão que cinde a unidade da personalidade. As tensões musculares na base cranial formam um anel na articulação da cabeça com o pescoço, que funciona como um laço para “enforcar”. Trabalha-se, na bioenergética, consideravelmente estas tensões, com o fim de restabelecer a unidade da personalidade.

Cruz – Trata-se de um tipo de obsessão comum nos esquizofrênicos limítrofes, e é percebida quando se pede à pessoa que abra os braços na altura dos ombros. Impressiona a forte imagem que a postura corporal apresenta, mostrando Cristo crucificado ou logo após ter sido baixado da cruz.

  • OBSESSÕES COMUNS Á EXPRESSÃO CORPORAL FEMININA

Corcunda de viúva – Nas mulheres, o problema comum que as mantêm em suspenso é a “corcunda de viúva”, massa de tecido que se acumula abaixo da sétima vértebra cervical, na junção do pescoço, ombros e troncos. Acomete às mulheres de mais idade, e é decorrente da contenção e do acúmulo de raiva bloqueada, como resultado de frustrações sofridas de uma vida inteira.

Nesse caso, os sentimentos opostos são a submissão – ser uma boa menina para agradar ao papai e à família – e a raiva decorrente da frustração sexual causada pela atitude submissa. O problema tem raízes na situação edípica em que a menina está presa por sentimentos conflitantes em relação aos pais: de um lado, amor e sentimentos sexuais, de outro lado, raiva e frustração.

O conflito obsessivo paralisa emocionalmente esta mulher, posto que a menina não tem condições de exprimir sua raiva, em razão do medo de ser desaprovada e de perder o amor dos pais, e tampouco pode aproximar-se do pai, amedrontada com a sexualidade do contato, pois isso implicaria fatalmente na rejeição paterna.

Esta rejeição é proveniente do fato de o pai não aceitar a sexualidade da filha. A submissão à exigência de que a filha seja uma boa menina pressupõe a aceitação de uma moralidade ambígua com respeito à sexualidade, imobilizando na mulher a busca de prazer sexual, desenvolvendo ilusões no sentido de compensar a perda da agressividade sexual.

A mulher no pedestal – Esta obsessão também é um outro caminho encontrado pela mulher em virtude da moralidade sexual ambígua, assim denominada porque, nesse caso, o corpo da mulher, da pelve para baixo, parece um pedestal. É rígido, imóvel, e dá a sensação de só servir como base para a metade superior do corpo.

São inúmeras e variadas as obsessões que podem ser detectadas pelo terapeuta, e sempre que visualizá-las, deve compreender e por a nu as ilusões que lhe são subjacentes. A leitura corporal é de grande ajuda para entender a pessoa em suas obsessões. Ainda que elas não sejam de logo identificadas, pode-se ter a certeza de que toda a pessoa cujos pés não estejam energeticamente plantados no chão, tem uma obsessão e problemas emocionais não solucionados.

UM TIPO COMUM DE ILUSÃO

Determinadas ilusões , conquanto não estruturadas fisicamente no corpo, aparecem no comportamento, gesto e atitudes das pessoas. Um tipo bastante comum entre as mulheres é o da esposa perfeita.

A esposa perfeita – É um exemplo típico de ilusão ou meta irreal. Esse desejo secreto de perfeição coloca a mulher numa situação desesperadora. Seu comportamento será compulsivo. Ela tudo fará para provar através de suas ações que é a esposa perfeita. Terá uma atitude hipersensível; por exemplo, interpretará cada manifestação de descontentamento do marido como sinal de fracasso, portanto, como uma rejeição pessoal. Será insensível aos sentimentos do marido, preocupada que está com sua imagem egóica; e a sua conduta forçará o marido a ter as mesmas reações de desprazer que colocam em risco a sua imagem. À medida que aumenta o seu desespero, ela lutará ainda mais compulsivamente para concretizar a sua ilusão, levando a si própria as tornar-se prisioneira de um círculo vicioso.

O curioso é que poucas pessoas são ingênuas a ponto de acreditar conscientemente na ilusão de ser uma esposa perfeita, mãe perfeita ou amigo perfeito, mas o fato é que as ações das pessoas com muita freqüência indicam a presença dessas ilusões no inconsciente. A pessoa supercrítica, por exemplo, trai a sua própria necessidade de ser considerada perfeita. A sua incapacidade de aceitar os outros como são reflete a sua incapacidade de aceitar a si própria. A sua busca de perfeição é uma projeção de suas próprias exigências de si mesma. O perfeccionismo é talvez a mais comum das ilusões e, certamente, uma das mais destrutivas quando se trata de relações humanas. A prova disto é a ilusão da mãe perfeita que exige um filho perfeito, e conduz à rejeição deste filho que necessita da compreensão e apoio maternos.

  • AS SUPREMAS ILUSÕES

Existem duas ilusões bastante diferenciadas em nossa cultura – uma relacionada com o dinheiro e outra com o sexo. A ilusão de que o dinheiro é onipotente, de que ele pode solucionar todos os problemas e trazer ao seu proprietário toda alegria e felicidade, é a responsável pelo culto ao dinheiro. De maneira similar, o culto ao sexo provém de uma crença na onipotência do sexo. Na opinião daqueles que partilham dessas ilusões, o encanto sexual, assim como o dinheiro, constituem um poder que pode ser usado para abrir as portas do céu.

A defesa esquizóide, por exemplo, é a que mais acredita na ilusão da onipotência do sexo. As mulheres que possuem esta defesa, de uma forma consciente ou inconsciente, têm uma profunda convicção da irresistibilidade do seu encanto sexual, mesmo quando a aparência diga o contrário. Algumas o demonstram, ao passo que outras têm este sentimento encoberto pelo medo e pela ansiedade. Esta ilusão dá uma importância exagerada ao sexo, negligenciando a personalidade total. A conseqüência é que em vez de se constituir numa expressão de sentimento pelo parceiro, o sexo se torna uma manobra para fazer inflar o ego da pessoa ou estabelecer a sua superioridade.

Contudo, o fato de o sexo ser uma expressão de sentimento e que um corpo sem sentimento é desprovido de sexualidade, são verdades que muitos ignoram. A ilusão do sexualismo toma errôneamente a aparência como se fosse o conteúdo, e confunde “sofisticação” com maturidade sexual. A sofisticação sexual reflete-se na preocupação com o “desempenho”, caso típico de investimento na imagem egóica, em detrimento do verdadeiro prazer sexual, o qual se obtém mediante a entrega ao corpo, pressuposto da maturidade sexual.

DESESPERO E DISSOCIAÇÃO

Embora a renúncia às ilusões seja um passo para a sanidade, ela é invariavelmente acompanhada do desespero que provém  do medo do abandono. Contudo, ambos – o medo do abandono e o desespero – são irracionais, pois representam a persistência de sentimentos infantis na idade adulta. (Importante ressaltar que o abandono e o desespero subseqüente são concomitantes ao processo der dissociação do corpo).

Quando a ilusão cai por terra, e o desespero encoberto irrompe na consciência, torna-se possível ao paciente compreender suas ilusões e sua desesperação (conduta desesperada) como conseqüência do desespero que já existia subjacente.

Quanto mais profundo o desespero, mais fortes e mais exageradas serão suas ilusões (ocorrência ao nível do ego); quanto mais poderosas as ilusões, maior será também a desesperação (ocorrência ao nível do corpo).

À medida que uma ilusão ganha força, ela passa a exigir concretização, forçando desta maneira o indivíduo a entrar em conflito com a realidade, e isto é o que produz a sua conduta desesperada.

A busca da realização de uma ilusão requer o sacrifício de sentimentos bons no presente, e a pessoa que vive na ilusão é, por princípio, incapaz de fazer exigências de prazer. Em seu desespero ela está disposta a ignorar o prazer e deixar a vida em estado de latência, na esperança de que a sua ilusão a ser realizada a livrará do desespero.

A presença desses elementos distintos da personalidade – ignorar o prazer na esperança de concretizar a ilusão – é o reflexo da cisão da personalidade ocorrida no passado. Por exemplo,  na defesa esquizóide, a repetida negação de necessidade infantil de contato físico gera um sentimento de rejeição que evolui a ponto de transformar-se em desespero. Na luta pela sobrevivência, esta pessoa reprimiu o anseio de gratificação erótica, dissociando-se do seu corpo. Este processo resultou na cisão de sua personalidade, levando-a a formar uma ilusão e um sentimento de desesperação.

  • DESFAZENDO AS ILUSÕES

A alternância entre ilusão e desesperação não pode ser impedida enquanto prevalecer a cisão da personalidade. Esta cisão se cura através da identificação do ego com o corpo. Esta identificação reduz a desesperação e desnuda a ilusão, deixando-a exposta.

O colapso da ilusão revela o desespero subjacente, que então abre caminho para que a situação infantil seja reconstituída. A esta altura, as experiências traumáticas dos períodos de colo e infância podem ser vivenciadas e liberadas.

Ilusão e desesperação formam um nó que vagarosamente estrangula a vida do indivíduo. Surpreendentemente, o desespero oferece a única saída para esta situação. Se o processo de desesperação é a própria doença, o desespero é a crise que pode conduzir à recuperação.

Veja-se o caso do alcoólatra. Ele não bebe porque está mergulhado no desespero. Ao contrário, o seu hábito é a negação do seu desespero, uma fuga dos seus sentimentos, uma forma de evitar a realidade. Como nega o desespero, ela jamais solicita auxílio. Na verdade, ele é uma pessoa desesperada que não consegue confrontar o seu desespero. As suas ilusões o sustêm. E a sua maior ilusão é que detém o poder de deixar a bebida quando quiser.

Existirá um desespero tão negro que não contenha um raio de luz? Não. Lá, no fundo do poço, existe um raio de luz. A esperança é realista até mesmo no desespero mais profundo, vez que ela admite a possibilidade de desapontamento. A ilusão, por outro lado, não permite dúvida, nem desafios. Por exemplo, a pessoa que tem a ilusão de ser totalmente bem intencionada em suas ações, tornar-se-á irracional quando seus motivos forem contestados. O indivíduo com a ilusão de auto-importância pode ruir se a sua imagem egóica for fortemente contestada.

Já a pessoa em processo de desesperação sente-se à beira de um abismo, aterrorizada com a idéia de que, se se soltar, mergulhará num desespero irremediável. Porém, quando em terapia, ela abandona as suas ilusões, e descobre, surpresa, que não é destruída, e que a esperança existe.

Todo paciente vem para a terapia com o desejo secreto de que esta o habilitará a transformar as suas ilusões em realidade. De início, o compromisso com a terapia é apenas um gesto atrás do qual o ego sustenta suas defesas contra o desespero interior e a impotência. Freqüentemente surgem resistências muitos difíceis de transpor porque ocultam as ilusões do paciente e do terapeuta. Na verdade, as ilusões cedem, mas lentamente.

Aos poucos, no decorrer da terapia, a desesperação dá lugar ao desespero, e o paciente deixa de fugir de si mesmo. No seu desespero, ao perceber que jamais poderá concretizar suas ilusões, ele sente que a terapia fracassou. É só neste ponto que ele revela suas ilusões. O abandono ao desespero é acompanhado de sentimentos de fadiga e exaustão, semelhantes aos experimentados por um soldado após a batalha. Mas a fadiga e a exaustão servem também para impedir qualquer ato desesperado. Apesar do desespero, a destruição das ilusões conduz à transformação, levando a pessoa a compreender o verdadeiro sentido de sua humanidade.

Nosso Corpo

O que todos nós temos em comum como seres humanos é o corpo humano. Nossas experiências passadas podem diferir e nossas idéias podem ser conflitantes, mas somos todos iguais no funcionamento de nosso corpo. Se respeitarmos nossos corpos, respeitaremos o corpo de outra pessoa. Se sentirmos o que acontece em nossos corpos, também sentiremos o que acontece no corpo de outro ser de quem estamos próximos. Se estivermos em contato com os desejos e necessidades de nossos corpos, saberemos as necessidades e desejos de outros. E, ao contrário, se não estivermos em contato com nossos corpos, não estaremos em contato com a vida.

Alexandre Lowen

“Curso de Bioenergética”

Texto compilado e adaptado por Manoel Muricy.

Terapia de Biointegração com José Cláudio Belfort

Salvador, 07 de fevereiro de 2002.

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Artigos e Textos

Grounding – 1ª parte

Grounding é um conceito bioenergético e não apenas uma metáfora”. – Alexander Lowen

  • O CONCEITO DE GROUNDING

A sensação de contato entre os pés e o chão é conhecida em bioenergética como grounding. Um dos objetivos dos movimentos em bioenergética consiste em desenvolver este fluxo de excitação através das pernas para os pés e para o chão.

Quando se diz que alguém tem grounding significa que esta pessoa está conectada com o solo, e que não se encontra “suspensa no ar”. Se a pessoa tem grounding, ela não vive “nas nuvens”, mas está em pleno contato com a realidade. Diz-se então que esta pessoa conhece bem o seu lugar e sabe exatamente quem é.

Grounding representa, por conseguinte, o contato do indivíduo com as realidades básicas de sua existência. Estar grounding significa que a pessoa está firmemente plantada na terra, identificada com o seu corpo, ciente da sua sexualidade e orientada para o prazer, qualidades estas que faltam à pessoa que se encontra “suspensa no ar”, ou na sua cabeça, em vez de assentar-se sobre os próprios pés.

Ao recordar-se de que a neurose significa falta de contato com a realidade, podemos compreender a importância do conceito de grounding, e que existe logicamente diferentes graus na sensação de contato com o chão, ou com realidade.

A maioria de nós, todavia, não tem grounding.

Na verdade estamos o tempo todo “nos segurando”, suspensos no ar, com medo de cair, medo de falhar, medo de deixar acontecer, e de nos entregarmos aos nossos sentimentos. Em maior ou menor grau, enrijecemos para enfrentar os desafios que nos eram difíceis de confrontar quando éramos crianças; ou para suplantar os nossos medos, nossos terrores, ou mesmo a dor que nos foi infligida, e que não gostaríamos de novamente sentir.

Desta forma, quando uma pessoa está altamente excitada ou carregada, sua tendência é ir para cima, levantar vôo, e esta sensação da excitação trás consigo um elemento de ansiedade e perigo, o perigo de cair, cuja resolução se dá quando a pessoa se sente novamente em contato com o solo, contato físico e emocional.Verifica-se então um fluxo descendente da energia, colocando-a em contato maior com o chão e com a realidade.

O OBJETIVO DE GROUNDING

Alguns movimentos da bioenergética têm a finalidade de levar a pessoa a alcançar este estado, o que por certo vai fazê-la se sentir mais próxima da terra, proporcionando-lhe um incremento no seu senso de segurança e permitindo-lhe que venha entregar-se ao fluxo da energia que percorre seu corpo, de tal forma que ele naturalmente “deixe acontecer”.

A direção descendente do fluxo energético é o caminho para o prazer, que ocorre com a liberação do fluxo através da descarga. Este também é o caminho para a satisfação sexual, pois o medo de deixar acontecer bloqueia a liberdade de entrega total à descarga sexual, impedindo que se experimente a total satisfação orgástica.

É sabido que o homem, na atualidade, em busca de realização, poder e sucesso, tem enfatizado o desenvolvimento das partes superiores do seu corpo, mediante a utilização das faculdades intelectuais, habilidades manuais e verbais. Isto fez com que ele transferisse           o senso de poder da base, em direção ao topo de sua estrutura, e o resultado foi a perda direta de contato com a sua percepção sensorial animal e o seu controle de poder, cujo centro está localizado na base espinhal e no assoalho pélvico.

Num sentido amplo, o objetivo do grounding é ajudar a pessoa a se identificar com a sua natureza animal, que inclui evidentemente a sua sexualidade.

A metade inferior do corpo é de natureza muito mais animal em suas funções (locomoção, defecação e sexualidade) do que a superior (pensamento, fala, e manipulação do ambiente). Além do mais, aquelas funções são mais instintivas e menos submetidas ao controle consciente.

Mas é em nossa natureza animal que residem as qualidades de ritmo e graciosidade. Os corpos rijos, todavia, não conseguem exibir esta graça devido à limitação dos movimentos em virtude das tensões musculares.

Este deslocamento ascendente do fluxo energético pode ser invertido através dos movimentos de grounding propostos pela bioenergética. À medida que o centro de gravidade do corpo desce para a pelve e em que os pés servem de suporte energético, a pessoa pode sentir-se centrada na parte inferior do abdômen.

  • GROUNDING E HARA

O conceito de grounding tem um paralelo com o conceito de hara, bastante comum no oriente. Hara significa barriga e também a qualidade de ser uma pessoa centrada nesta região. Se isto acontece, esta pessoa é calma, tranqüila, mantém um equilíbrio físico e psicológico, e os seus movimentos são executados sem esforço e com precisão.

A maioria dos ocidentais, no entanto, é centrada na parte superior do corpo, principalmente na cabeça, o reino do ego, o centro da consciência e do comportamento voluntário, em contraste com o centro inferior ou pélvico, onde predomina o hara, e que é o centro da vida inconsciente ou instintiva.

O ventre é literalmente o assento da vida. O corpo se senta na bacia pélvica. É na pelve que o indivíduo tem contato com os órgãos sexuais e com as pernas, e é na barriga que o indivíduo é concebido e de onde emerge para a luz. A perda de contato com esse centro vital desequilibra a pessoa e produz ansiedade e insegurança.

Dois mandamentos, se observados, ajudarão a pessoa a se tornar e permanecer grounding : o primeiro é manter os joelhos discretamente flexionados durante todo o tempo. O segundo, é soltar a barriga.

Joelhos trancados, quando se está de pé, torna a parte inferior do corpo, dos quadris para baixo, uma estrutura rígida, impedindo o indivíduo de fluir para a parte inferior do corpo e identificar-se com ela.

A barriga presa dificulta a respiração abdominal e força a pessoa a inflar excessivamente o peito para conseguir ar suficiente. Barriga contraída, ombros levantados, peito inflado, resultam num dispêndio excessivo de energia e numa luta contínua contra a nossa natureza animal. Na verdade, é uma sobrecarga assumir qualquer atitude corporal que demande esforço, o que não raro acontece com o objetivo desnecessário e desgastante de apenas criar uma imagem.

Ademais, a barriga contraída bloqueia as sensações sexuais pélvicas, as deliciosas sensações de amolecimento e entrega que transformam o sexo, de mero desempenho e descarga, em expressão de amor.

Homens e mulheres, em razão de imposições culturais, têm mantido a região do ventre contraída, uma posição nitidamente antiorgástica. A posição do soldado, “barriga pra dento, peito pra fora, ombros pra cima”, tem sido o axioma de “homens fortes”, capazes de vencer desafios. Barriga contraída e busto projetado para frente também foram, desde a época vitoriana, o sinônimo de beleza feminina. O alto custo desses padrões equivocados de postura tem sido a perda do prazer e da graciosidade.

O PROCESSO DE FUNDAMENTAÇÃO

Levar os sentimentos ao ventre, para que a pessoa possa sentir suas entranhas, e às pernas para que as sinta como raízes móveis, chama-se fundamentar o indivíduo. A pessoa assentada percebe que tem um apoio sólido no chão e coragem para se erguer ou movimentar-se como desejar.

Estar fundamentado é estar em contato com a realidade, é ter os pés no chão, é ter bases sólidas. Quando o indivíduo está assentado, ele deixa de agir com base nas suas ilusões, pois não precisa delas. Por outro lado, aquele que mantém suas ilusões, se mantém nas nuvens e assim impede sua fundamentação.

Assentar (grounding) é um conceito bioenergético e não apenas uma metáfora psicológica. Da mesma forma que um fio terra colocado num circuito elétrico fornece uma saída para a descarga de sua energia, no ser humano o processo de fundamentação também serve para liberar ou descarregar as excitações do corpo.

Durante todo o tempo, o ser humano está produzindo e descarregando energia. Através da parte superior do corpo produzimos energia, pela alimentação, respiração ou estímulos sensoriais. E por intermédio da parte inferior do corpo, descarregamos a energia, pela movimentação, excreção ou pela atividade genital. Estes dois processos básicos de carregar em cima e descarregar em baixo estão normalmente equilibrados.

Mas dentro do corpo também há uma pulsação energética. Os sentimentos se movem para o alto, em direção à cabeça, quando precisamos de energia ou excitamento, e se movem para baixo, em direção às extremidades inferiores, quando necessitamos da descarga.

Se a pessoa não pode se carregar adequadamente, ficará fraca, desvitalizada, e se não consegue descarregar também de modo adequado, ficará suspensa no ar, pendurada nas próprias ilusões, incapaz de voltar ao chão, até que elas venham a se desintegrar. O problema é que não se consegue ficar com os pés no chão, enquanto não houver um assentamento conveniente à completa descarga.

A função da descarga é vivenciada como prazer, e sabemos disto pela experiência, quando constatamos que a descarga de qualquer estado de tensão ou excitamento é agradável. Isto é facilmente comprovável na função sexual. A incapacidade de descarregar a tensão é vivenciada como um estado de dor. De modo igual, podemos postular que a pessoa numa “situação suspensa” também se encontra em um estado de dor, ainda que conscientemente ela não possa senti-la.

A “suspensão” também é um estado de tensão, mas que não pode ser percebido porque a pessoa se amorteceu com a rigidez de sua estrutura para não sentir a dor. E tem medo de liberar a rigidez, porque isto certamente a fará sentir novamente a dor. O “estado de suspensão” tornou-se uma segunda natureza para a pessoa, e quando isto ocorre, ela perde também a consciência da própria rigidez.

Então, o que a pessoa sente, é a falta de prazer na sua vida, impulsionada cada vez mais a perseguir os objetos de suas ilusões, na forma de dinheiro, sucesso, fama, ou outro fruto de sua ilusória percepção. Prende-se a um círculo vicioso, cada vez mais subindo em espiral, até o colapso da ilusão, vivenciado em forma de depressão.

A fundamentação facilita a experiência do prazer. O processo de vida pode ser visto bioenergeticamente como carga ascendente com excitação e descarga descendente com prazer. Se há uma interrupção ou diminuição neste fluxo energético, limita-se a capacidade do indivíduo para sentir prazer, reduzindo imediatamente todos os seus impulsos em direção ao exterior.

Quando isto ocorre, a pessoa perde o prazer de estar viva, sua respiração se torna restrita, seu apetite míngua e o interesse pela vida diminui. Na “pessoa suspensa”, o fluxo é reduzido; na pessoa deprimida, parece ter parado.

O fluxo oscilante de sentimento ou energia no corpo é como um grande pêndulo que faz a vida se mover facilmente e sem esforço. No entanto, qualquer distúrbio na fundamentação – fluxo natural da energia – é como a destruição de algumas raízes que mantêm a vida de uma árvore. Destrua as raízes, e veja quanto tempo ela se manterá ereta e viva.

Poderíamos dizer também que o processo de amadurecimento de uma criança é semelhante ao ciclo de germinação de uma árvore, cujo processo é facilitado se a fruta e as sementes estiverem amadurecidas. Tanto a germinação como a implantação serão prejudicadas se a fruta tiver sido separada prematuramente da árvore.

De modo igual, por exemplo, uma criança prematuramente separada da mãe teve cortado o fluxo energético do seu crescimento como o fruto daquela árvore. Sua inclinação natural é voltar-se para a mãe a fim de completar o processo de maturação abortado. Sem dar-se conta disto, toda sua energia disponível será investida nesta tentativa, mas como a ligação original não pode ser restaurada, aquela busca persistente estará destinada ao fracasso.

Conquanto esse seja o dilema da personalidade oral, a verdade é que em algum ponto de nossas vidas, as raízes de nossas árvores sofreram algum dano, impedindo o seu crescimento natural.

A fundamentação do indivíduo é, portanto, um processo para ajudá-lo a completar seu amadurecimento, pois no decorrer dos anos, enquanto crescia fisicamente, permanecia imaturo emocionalmente, não sabendo apoiar-se nos próprios pés. Este processo, todavia, somente ela poderá realizar, ainda que carecendo da ajuda de um terapeuta para auxiliá-lo a completar o ciclo interrompido de sua maturação.

ANSIEDADES DO PROCESSO DE FUNDAMENTAÇÃO

A fundamentação de um indivíduo, contudo, tem percalços, ansiedades profundas no caminho. Há o medo de se “deixar ir” e não ter ninguém para ampará-lo, o medo enorme de se sentir só. Há também o medo de que ao se deixar abater, não mais poderia se levantar. As principais ansiedades são as que seguem:

  • Ansiedade de desintegração – Quando a energia e sentimentos fluem pelo corpo em direção a terra, a primeira experiência vivenciada é a tristeza, a qual, juntamente com o desespero, estão contidos no ventre. Há em todas as pessoas uma tristeza muito profunda, em “suspenso” (“obsessão”), e muito difícil de enfrentar.
  • Durante toda vida ela comprometeu suas energias na luta para vencê-las, e agora ceder a tais sentimentos equivale a um fracasso pessoal, uma derrota do ego e uma aparente perda de integridade. Ele deseja se render, pois a luta não faz mais sentido, mas está apavorado, sentindo-se ameaçado por um mar de emoções avassaladoras, numa viagem que precisa ser facilitada por um terapeuta fundamentado, que já a conhece, e por isto capaz de transmitir fé ao seu paciente.
  • Contudo, se conseguir entregar-se, começará a chorar, e é provável que se deixe esvair-se em lágrimas, seu corpo inteiro poderá convulsionar-se em soluços, algumas vezes dolorosos, outras vezes agradáveis, e isto pode ocorrer repetidas vezes, revivendo a dor do passado, até que se dissipe completamente. Contudo, a tristeza e o choro estão contidos na barriga que também é a câmara onde se acumula a energia para a irrupção da descarga sexual e da satisfação. À frente do tortuoso caminho do desespero, espera-o um alívio profundo e uma grande alegria.
  • Ansiedade sexual – À medida que as sensações se desenvolvem mais profundamente no ventre, tocando o assoalho pélvico, elas se transformam em sensações sexuais, que para a maioria é fonte profunda de ansiedade. Acontece que há uma diferença entre sensações sexuais e genitais. As pessoas conseguem suportar a excitação da carga genital, que é superficial e facilmente descarregada. A sensação sexual, todavia, é diferente pois exige rendição, entrega às prazerosas convulsões orgásticas, sensações doces e ternas da sexualidade, mas que evocam o medo de perder o controle, um dos aspectos da ansiedade de cair.
  • Quando acontecem, indicam que o desejo sexual está fluindo através do corpo inteiro, e não se limitam apenas aos órgãos genitais. São, todavia, amedrontadoras porque representam o início de uma dissolução que irá terminar no êxtase de um orgasmo completo, mas que devido aos bloqueios é vivenciado como uma dissolução do self, uma desintegração da personalidade, ensejando o medo de se derreter ou de permitir-se afundar no fogo da paixão que queima toda região do ventre e da pelve. Todos procuram esta rendição, mas estão muito temerosos para deixar que venha a acontecer.
  • Ansiedade anal – Em muitas pessoas há ansiedades ligadas às funções urinárias, que devem também ser resolvidas. Ensinaram-lhes as lições equivocadas de que essas funções podem causar dor, vergonha e humilhação se não fossem rigorosamente controladas. Recebiam elogios quando conseguiam controlar, e punição quando falhavam no controle, e agora não sabem como relaxar os músculos contraídos que envolvem as aberturas inferiores do corpo.
  • Ansiedade de solidão – Por último há a ansiedade de ficar erguido em seus próprios pés, o que denota o medo profundo de ficar só. Ninguém quer realmente permanecer só, pois somos gregários por natureza, contudo, em muitas pessoas, esse medo alcança alturas irracionais. Por causa dele farão qualquer coisa, abandonarão até mesmo sua individualidade, na crença errônea de que aqueles que verdadeiramente ousam ser eles mesmos, assertivos em relação aos demais, acabarão rejeitados ou no ostracismo.
  • O medo de ficar só, que alimenta a sociedade de massas, é provavelmente a maior ansiedade dos nossos tempos.Todavia, a verdadeira independência reside na capacidade de estar só, pois isto denota que esta pessoa tem possibilidade de permanecer erguida, em cima dos próprios pés. Verdadeiro consigo, ela atrai outras pessoas, e sua responsividade é genuína, provindo do coração. Está, por isto, muito mais apta a sentir a unidade que relaciona o homem à mulher.
  • Esse medo origina-se de experiências antigas infantis, quando a criança era obrigada a cumprir a exigência de seus pais, sob a ameaça de retirada do afeto daqueles cuja missão primordial era amá-los sem condições e protegê-los. As crianças se sentiam rejeitadas se não aceitassem as regras impostas pelos pais, e este sentimento acompanhou-os pela vida a fora, incutindo-lhes o medo profundo do abandono e da solidão.
  • O resultado é que por trás de uma fachada de independência, apegam-se desesperadamente a relacionamentos que se transformam para elas em verdadeira obsessão. Dependentes da relação, destroem seu valor, impedindo que siga o seu curso natural, contaminando-a com o medo de serem responsáveis por si mesmas, desconhecendo que se permitissem à naturalidade, a relação se tornaria numa fonte de prazer.
  • Por trás da submissão há uma rebelião, que deve ser aceita, pois só através dessa rebeldia ele consegue mobilizar os sentimentos que o libertarão. Mas ele precisa ultrapassar a rebeldia, e é com a fundamentação dos sentimentos em seu corpo, em contato com sua sexualidade animal, e colocando-o no chão a que ele pertence, é que se restaura a sua posição na família dos homens e no reino da natureza. Restaura-se a fé básica que sustentou os seus antigos ancestrais, a fé de que ele foi feito para este mundo e de que o mundo foi feito para ele.  

TERAPIA BIOENERGÉTICA DE FUNDAMENTAÇÃO

Na terapia bioenergética começamos com a respiração, que é um processo de expansão e contração que envolve todo o corpo, e é, ao mesmo tempo consciente e inconsciente.

Embora a respiração sadia, em grande parte, seja inconsciente,  é através das sensações do corpo, que surgem de uma respiração profunda e completa, que nos tornamos conscientes da pulsação viva de nossos corpos, e nos sentimos unidos a todas as criaturas vibrantes de um universo em pulsação.

Mas para atingir esse estado de unidade, a respiração deve ter uma qualidade abdominal profunda.

A onda respiratória se inicia de dentro do ventre, no centro vital, e se move para cima em direção à garganta e a boca, produzindo uma inalação. Em seguida, procede na direção oposta, resultando numa expiração.

No curso do seu movimento, estas ondas podem ser observadas passando pelo corpo, como movimentos completos e livres, se houver liberdade do fluxo da energia, ou como restritos e espásticos, se as áreas de tensão bloqueiam as ondas, distorcendo a percepção da pulsação.

Vejamos os bloqueios principais que perturbam o padrão natural de respiração, causados pelas áreas de tensão, e que podem se estender da cabeça aos pés.

  • Ventre – Ventre flácido e nádegas apertadas são responsáveis por poucos movimentos abdominais durante a respiração.
  • Abdômen – Tensões musculares se desenvolvem no abdômen como meio de reprimir a dor, sensações sexuais ou controle das funções excretoras, em fases diversas de nossa infância. A conseqüência é que a respiração torna-se diafragmática ou torácica, com poucas sensações se desenvolvendo na parte inferior do corpo.
  •  Diafragma – Tensões diafragmáticas desenvolvidas como resultado do medo resultam na elevação das costelas inferiores, quebrando a unidade de sensações no corpo, criando um anel de tensão em volta da cintura.
  • Tórax – Na metade superior do corpo, uma parede torácica rígida reduzirá as sensações nesta parte do corpo, principalmente as sensações e sentimentos associados com o coração, o qual, fechado numa caixa rígida, não conhecerá o amor livre, mas restrito e confinado.
  • Ombros – A espasticidade muscular na articulação dos ombros inibe os movimentos naturais de pegar e de estender, evitando uma respiração profunda que evocaria sensações na pélvis, suspendendo o indivíduo (como num cabide) e segurando-o para impedir o movimento descendente natural do ciclo respiratório. As tensões do ombro também afetam o centro da gravidade do corpo.
  • Garganta e pescoço – Tensões nos músculos da garganta e do pescoço se desenvolvem para bloquear e inibir o choro e os gritos. Pela contração da passagem do ar, reduzem absorção de oxigênio e diminuem o nível energético do organismo. Essas tensões (garganta e pescoço) se estendem até à cabeça e para dentro da boca porque fazem parte de uma inibição geral de sugar. A perturbação no padrão normal de sugar se reflete numa perturbação correspondente do padrão respiratório.
  • Crânio – Há um anel de tensões pressionando a base do crânio, que podem ser palpáveis na espasticidade dos pequenos músculos occipitais. Na frente da cabeça podem ser palpáveis na dureza da musculatura que movimenta a mandíbula, afetando a sua mobilidade, de tal sorte que é mantida numa posição retraída ou proeminente.
  • Mandíbula – A mandíbula retraída denota falta auto-afirmação, enquanto a proeminente é desafiadora e não condescendente. Uma vez que as tensões da mandíbula incluem os músculos internos pterigóides que se inserem na base do crânio, este anel de tensão é, na verdade, uma barreira que bloqueia o fluxo de sensações do corpo para a cabeça.
  • Costas e pernas – Espasticidades nos músculos longos das costas e das pernas criam uma rigidez corporal que perturbam as ondas respiratórias e bloqueiam o fluxo livre e completo da excitação no corpo. Além dessas, há áreas de colapso no corpo onde um padrão de rigidez apertada se quebrou sob o stress. Essas áreas de rigidez são barreiras poderosas para o fluxo do excitamento e dos sentimentos.

Toda conduta terapeuta que pretende fundamentar uma pessoa deve efetuar uma liberação significante dessas tensões musculares. Na análise bioenergética isso acontece fazendo a pessoa a voltar a ter contato com suas tensões, isto é, ajudando-a a percebê-las.

Pode-se pedir ao paciente para fazer certos movimentos expressivos que irão ativar as áreas imobilizadas, ou pode-se produzir uma pressão seletiva nos músculos tensos para produzir uma liberação imediata.

Em seguida, o paciente deve tornar-se consciente dessas tensões:

  • que impulsos ou ações estão sendo evitadas inconscientemente pela tensão?
  • que papel a tensão exerce na economia energética do corpo, ou seja, como ela age para evitar os sentimentos e as excitações?
  • que efeito ela causa no comportamento e nas atitudes?

Para alcançar o objetivo terapêutico de liberar essas tensões não apenas temporariamente, torna-se imprescindível uma compreensão das suas origens. O paciente deve entender a relação de suas atitudes corporais – seus padrões de tensão – com as experiências de sua vida, especialmente com as da infância.

Finalmente, em certo grau, devem ocorrer fenômenos reativos. Os impulsos bloqueados pela tensão muscular devem ser expressos dentro do ambiente controlado da situação terapêutica. Assim, os pacientes devem ser encorajados a vocalizar suas negativas ou gritar suas hostilidades contra seus pais quando essas ações são pertinentes com seus sentimentos, sob a condição de que este comportamento não será feito na vida real.

Não se tenha a impressão de que o trabalho terapêutico para fundamentar o paciente limita-se ao aspecto físico do seu problema. Os aspectos psíquicos exigem tanta atenção como seus correspondentes físicos; melhor será que o tempo terapêutico fique igualmente dividido entre esses dois lados.

Toda modalidade válida de psicoterapia tem seu lugar no arsenal de um bom terapeuta. A análise bioenergética se distingue pelo fato de ter uma orientação corporal, que fornece uma base visível e objetiva tanto para as observações de diagnóstico como para os progressos terapêuticos.

À medida que os padrões de tensão são reduzidos, pode-se ver rapidamente a diferença no corpo do paciente. Uma luminosidade marcante do rosto e dos olhos indica um fluxo maior de energia e excitamento. Mais cor e calor nos pés indicam não apenas melhor circulação, mas denotam uma carga de energia bem maior naquela área. As pernas deixam de ser apenas órgãos passivos usados apenas para sustentar o tronco, para tornarem-se órgãos ativos de relacionamento. Restaura-se a mobilidade natural da pelve, abrindo sua conexão com as pernas. E a onda respiratória pode ser vista passando por todo o corpo em direção às pernas.

No lado subjetivo o paciente relata estar sentindo suas pernas e pés de uma forma nova e mais vital. Sente que está dentro “deles”, e não apenas em cima deles. Torna-se consciente do seu contato com o solo e se sente mais enraizado, ligados aos seus corpos, à sua sexualidade e ao chão.

Segundo Lowen, esta ligação não é um ideal de saúde, mas o mínimo de saúde, visto que a ausência desta conexão equivale a não estar fundamentado, indicando uma patologia em nível corporal que restringe a alegria, o prazer e a vitalidade do ser humano.

EXERCÍCIOS DE FUNDAMENTAÇÃO

O objetivo primário desses exercícios é fundamentar o indivíduo na realidade de seu corpo e da terra, entrando em contato com suas pernas e pés, o que ocorrerá quando sentir o fluxo de sensações percorrerem nelas.

Podem ser praticados no ambiente seguro do consultório, sob a supervisão de um terapeuta em bioenergética, ou como laboratório pessoal, quando a pessoa estiver sob terapia ou obtendo um treinamento em um curso de bioenergética.

Posição de orientação

Fique erguido com os pés paralelos, separados aproximadamente uns 15 cm., e incline os joelhos para que o peso do corpo se equilibre entre o calcanhar e a ponta do pé. O resto do corpo deve estar ereto, com os braços caindo relaxados, os pés descalços.

A boca deve estar ligeiramente aberta, a barriga solta, e os movimentos respiratórios (sem forças) devem se estender dentro do ventre. As costas eretas, sem rigidez. nádegas e pélvis, soltas e livres.  

O propósito do exercício é fazer você entrar em contato com suas pernas e pés; por isto, preste atenção em seus pés e tente manter seu equilíbrio entre os tornozelos e as pontas dos pés. Se ocorrerem tremores involuntários, lembre-se de que eles são expressão do fluxo de sensações em seu corpo. Permita-os enquanto for confortável. Sinta seu corpo e procure vivenciar sua vitalidade. Em seguida, faça o movimento nº 2.

Vibração ou grounding

Nesta postura, os pés são colocados aproximadamente 25 cm. de distância entre um e outro, com os dedos grandes ligeiramente voltados para dentro. Com os joelhos flexionados, abaixe-se até que as pontas dos dedos das mãos toquem o chão, apenas como apoio, pois o peso do corpo deve recair sobre a perna e os pés.

A boca deve estar aberta, e a respiração deve se desenvolver fácil e completamente. O peso do corpo deve cair no espaço entre o calcanhar e a parte arredondada do pé. Mantendo a ponta dos dedos no chão, estique os joelhos gradualmente até que alguma vibração se desenvolva nas pernas.

Mantenha a postura por 2 minutos ou mais, sem que se torne estafante ou dolorosa. Se ocorrerem parestesias, é sinal de que você está respirando mais profundamente do que o habitual. Elas desaparecerão com a prática continuada da postura.

Este é o exercício básico da bioenergética denominado de vibração ou grounding. Deve ser feito com a respiração inteiramente livre, pois se estiver presa o exercício não terá nenhum valor. O objetivo é devolver a sensibilidade às pernas e pés, através de movimentos vibratórios, liberando a respiração, tensões e ansiedades, o que pode ser mais facilmente alcançado utilizando-se a voz (suspiros, sons), que é outra atividade vibratória do corpo.

Ansiedade de cair

Equilibre-se em uma perna só e dobre o joelho o máximo possível sem tirar a sola do pé do chão. A outra perna deve estar estendida para trás, fora do chão. Os braços, estendidos para frente, apóiam-se levemente em duas cadeiras colocadas paralelamente à pessoa. As cadeiras são usadas para ajudar o equilíbrio, não como apoio. No chão, à frente do paciente, coloca-se um cobertor dobrado.

Permaneça nesta posição o máximo de tempo possível, respirando livre e profundamente, e sentindo o peso do corpo no pé. Quando não suportar mais o stress, deixe-se cair de joelho, em cima do cobertor. O exercício deve ser repetido duas vezes em cada perna. Na 4ª vez, deve-se dizer “desisto”, ou outra expressão que lhe pareça mais adequada, ao cair.

Você pode sentir medo de cair, embora não esteja submetido a um perigo real. Pode lutar para manter-se na postura indefinidamente ou pode cair prematuramente, como um ato de vontade, e não uma rendição. Ou pode ir se aproximando gradualmente do chão. Em qualquer caso, você deve observar o que realmente lhe acontece, ou discutir a ação com o seu terapeuta.

Este exercício desmascara o medo do “fracasso”, e a queda devolve a pessoa à segurança sólida da terra e permite que ela renove suas energias e forças nas fontes de seu ser. É sensato aprender a sofrer colapsos em situações apropriadas e desistir de conflitos desnecessários.Ao caiar, pode acontecer de a pessoa romper em prantos, liberando alguma ansiedade profunda. De qualquer sorte se sentirá seguro na sua proximidade com o solo. O exercício deve ser seguido por um relaxamento, através da postura seguinte.

Posição muçulmana

Permaneça no chão sobre os dois joelhos, com as mãos estendidas, juntas e espalmadas, a testa apoiando-se nas mãos, em postura muçulmana.

A extremidade inferior deve ser empurrada para trás o máximo possível, permitindo que a respiração se desenvolva na cavidade abdominal. Relaxe os glúteos e ânus.. Fique na posição por dois minutos para sentir o ventre solto e os efeitos do relaxamento.

O valor maior deste movimento é a entrega ao relaxamento, numa postura que simbolicamente leva o ego abaixo do nível do corpo.

“Curso de Bioenergética”

Terapia de Biointegração com José Cláudio Belfort

Salvador, 07 de fevereiro de 2002

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Fundamentos Ideológicos, Teóricos e Metodológicos da Prática Clínica na Análise Bioenergética

Eliana Isola Rodrigues Silva

A Análise Bioenergética é definida pelo seu criador Alexander Lowen como uma extensão do trabalho de WILHELM REICH, seu professor desde os anos 40 e terapeuta de 1942 a 45.

A leitura da extensa obra publicada de A. Lowen aos que estão familiarizados com a obra de REICH nos mostra sua gratidão a REICH e continuação dentro da tradição Reichiana e Psicanalítica da qual REICH emergiu.

Com REICH e como ele, teve a coragem de encarar seus conflitos e defesas caracterológicas e desenvolveu sua crença e teoria baseada no seu mestre e no contato com seu corpo, sentimentos e experiência.

Situando-o históricamente, submeteu-se com REICH à psicoterapia denominada vegetoterapia caratero-analítica que era baseado na função respiratória, levando a entrega dos movimentos involuntários do corpo, conectada com os sentimentos suprimidos.

Participava das aulas de W. REICH sobre Análise do Caráter e a relação mente-corpo onde sua ênfase era a sexualidade como base de toda neurose.

Se a pessoa era capaz de uma satisfação sexual plena não haveria energia para manter o sintoma neurótico e o paciente que desenvolvesse a potência orgástica estaria livre dos traços ou sintomas, neuróticos, idéia que os psicanalistas da época não aceitavam devido à indiscriminação do conceito de potência orgástica e relação sexual.

Quando, durante a sessão terapêutica ocorria livre de inibição, conscientes ou inconscientes, o movimento involuntário da pélvis, acompanhado por ondas de respiração ( Reflexo do Orgasmo) indicava para REICH que o paciente estava livre da sua estrutura neurótica de caráter.

Lowen ao encerrar seu processo terapêutico com REICH havia desenvolvido regularmente o reflexo do orgasmo.

Encerra seu processo para estudar medicina na Suíça por 5 anos e ao voltar encontra REICH e seus seguidores mais afastados do trabalho analítico.

Sabia que não estava curado e que tinha de trabalhar mais profundamente nas tensões físicas e aprofundar a análise de seus problemas emocionais, que havia sido pouca, e sem focalizar os temas edípicos.

Em resposta a esta necessidade de mais trabalho corporal para aliviar as tensões e tornar mais efetivo o sustentar das sensações desenvolvidas nas sessões introduziu o conceito de “Grounding”, desenvolveu o “Stool” (banco) bioenergético e estendeu o conceito de análise do caráter para o físico mostrando como os tipos caracterológicos são estruturados no corpo.

Desenvolveu uma série de exercícios como o arco e o arco invertido nos quais a musculatura sob stress aumenta a atividade vibratória involuntária, quebrando a tensão e a rigidez.

Com o corpo mais vivo o ego relaxa o domínio sobre os sentimentos que brotam mais fácilmente e vão sendo integrados na personalidade.

Estas mudanças já são significativas pois o paciente não está mais só deitado no divã mas trabalha-se de pé , em grounding.

O Stool abre a respiração e o bloqueio energético e diminui a rigidez dos músculos posteriores levando ao sentimento, e o uso da voz para expressão. O conceito de grounding, é de estar nas suas próprias pernas, enraizado na realidade, e deter prazer sustentando os sentimentos em contato com sua própria natureza, ou seja funções e realidade externa.

Lowen ao estruturar, desenvolver e aprofundar a descrição da dinâmica energética dos tipos caracterológicos descritos por W. REICH introduziu a leitura corporal onde é possível ao terapeuta diagnosticar a dinâmica energética dos bloqueios sem conhecer toda a estória do paciente e inclui o narcisismo no corpo influenciado pela psicologia do ego ( Kohut) e pela análise do momento cultural que vivemos.

O aspecto físico do trabalho se tornou mais ativo, através do uso de mais ação física do paciente para expressar a emoção suprimida, como o bater, para expressar a raiva, o “Kicking” ( bater pernas ) para protestar contra a inibição de seus direitos básicos reprimidos.

O terapeuta também se tornou mais ativo, através do toque às vezes firme e suave e às vezes firme e forte para aliviar a tensão do queixo e da garganta que seguram a descarga pelo choro que alivia a tristeza e a dor.

Introduz mudanças nas conceitualizações sexuais reichianas. A meta da psicoterapia não é mais a potência orgástica, continua a ser um critério para a saúde emocional do indivíduo mas, ninguém é orgásticamente potente numa cultura que promove a doença e não a saúde.

A meta é desenvolver uma personalidade madura e sadia.

O sexo é uma das maneiras como o indivíduo se expressa.

Se ele é livre na auto expressão ele também é livre na expressão sexual e portanto orgásticamente potente.

A Análise Bioenergética é a maneira de compreender a pessoa e seus problemas emocionais nos termos da dinâmica de energia de seu corpo pois o corpo nunca mente, tem a estória do indivíduo gravada ao contrário da fala que vem recheada de mecanismos de defesa egóicos.

Trocou o foco da sexualidade da potência orgástica para funcionamento do ego que é auto – expressão. A habilidade de expressar plenamente seu Self é a meta da Análise Bioenergética.

Está habilidade depende da auto – possessão ou seja de concientemente conter a expressão do sentimento.

Saúde é a plena auto – expressão do fluxo livre da excitação através do corpo e que se manifesta em como o indivíduo se segura, se move, e usa a voz.

Os temas de auto – expressão, auto possessão e a estrutura caracterológica compreendida em termos sexuais, são o foco terapêutico. Para desenvolver um senso de Self mais forte, aumentar o sentimento corporal e promover a identificação com sua natureza sexual, aumentamos o fluxo de excitação pelo corpo ajudando a pessoa a sentir-se mais conectada com o chão, com o seu corpo, e com sua sexualidade. Na maioria dos indivíduos o ego oferece resistência considerável para esta entrega ao Self corporal.

Na Análise Bioenergética relacionamos o impulso sexual e o impulso para intensificação do ego com o fluxo de energia. O fluxo descendente é basicamente sexual por natureza e conecta com outro indivíduo e com a terra. Quando flui ascendentemente, através da cabeça, separa a pessoa da natureza de ser, conduzindo para um senso de separação e individualidade. A vida flui a partir da interação destas duas fôrças pendulares.

Uma regra básica da Análise Bioenergética estabelece que a carga de energia não pode ser maior que a descarga de energia. O equilíbrio entre estas fôrças opostas é inerente ao fenômeno da pulsação, base da vida, processo de expansão e contração presente em todas as funções corporais.

No homem o impulso expansivo energiza cada um dos seis pontos de contato com o mundo exterior (cabeça, genitais, braços e pernas) e na retração retira igualmente de todos os seis pontos.

Nossa estrutura, como a do verme é a de um tubo dentro de um tubo, constituídos de segmentos que fundidos deram origem aos três segmentos principais: cabeça, tórax e pélvis e dois menores o pescoço e a cintura que são passagens entre um segmento principal e outro.

A presença de bloqueios nestas passagens, dividem o corpo causando uma cisão entre os segmentos principais e perdendo-se a percepção da unidade.

Para se restaurar o fluxo energético entre cabeça – corpo ( pensamento e sentimento e / ou tórax e pélvis ( coração e sexualidade ) além do trabalho nas tensões físicas o indivíduo precisa ter consciência das experiências que determinam estas limitações e liberar as emoções primárias contidas (medo, raiva, tristeza e amor).

A cabeça está conectada com o desenvolvimento do ego, controla as sensações do Self. O tórax é aonde está o coração, centro médio do corpo e que faz a ligação energética com os outros centros e está conectado com o amor e é quebrado na fase oral e outra vez no período edipiano.

A pélvis, e os genitais, está conectada com a consciência da sexualidade no período edipiano e na consciência do Self.

Emoções como o amor e a raiva podem integrar uma personalidade cindida já que o fluxo dos sentimentos ternos encontram-se na parte anterior do corpo e os agressivos na parte posterior.

A expressão desses sentimentos e o uso da voz ( expressão dos músculos involuntários ) mobilizam o tubo interno que integra estes três segmentos ao nível profundo.

Para Lowen toda a pessoa que está a sua frente é um indivíduo sexual. Na relação entre ego e sexualidade, polaridades que se desenvolvem ao mesmo tempo e que se tornam conscientes na criança durante o período edípico, o aparecimento da sexualidade gera neste período sentimentos intensos na criança e nos pais. Esta situação leva à supressão dos sentimentos sexuais que ficam estruturados no corpo como desvios do fluxo energético. É nesta fase que o caráter se estrutura como um fenômeno do ego e serve para fornecer um significado para a vida da pessoa. É um mecanismo de sobrevivência e sua esperança de preenchimento e amor. Aceita o Caráter que lhe dá identidade e abre mão de seu verdadeiro Self.

Inicia-se a Análise a partir da camada mais superficial pela análise do período edipiano e trabalha-se os traumas ocorridos no período pré edípico, responsáveis por muitas tensões e bloqueios, relacionando-os ao período edípico ou seja, ao seu padrão estruturado de tensão musculares e de resposta ao meio ambiente.

A carga transferencial é intensa e faz parte o trabalho na transferência com os sentimentos intensos deste período ou seja o conteúdo regressivo do trauma ocorrido no adulto de hoje.

Nós analistas bioenergéticos buscamos integrar o fluxo energético da cabeça – coração e sexualidade até os pés.

Restaurar a unidade do organismo encontrando a força vital de energia do core e a espiritualidade presente no corpo desbloqueado, que exprime a capacidade de amar que une o indivíduo ao cosmos.

Estamos interessados pela forma como o indivíduo conduz o sentimento do amor, se o seu coração está aberto ou fechado, se ainda necessita do seu padrão caractereológico hoje em dia para ter o amor perdido ou se pode encarar que este mecanismo fracassou e o distanciou do seu Self.

Será que o mais importante não é amar as pessoas e as coisas preenchendo seus sentimentos mais profundos?

Estamos interessados neste conflito da alma humana e no desespero, medo e dor que subjaz no indivíduo, nesta luta de vida e morte.

Abrir mão do caráter, do ego, da vontade que orienta e se deparar com um desejo de morrer tamanho desespero e dor por ter perdido seu verdadeiro self até tocar o desejo de viver, o impulso vital.

No ego temos segurança, é o conhecido, é a experiência, é a identidade. No coração e no corpo temos medo de morrer ou de enlouquecer dada a intensidade das experiências dolorosas reprimidas e castradas.

Todo coração é imprevisível e inexperiente. No contato terapeuta – paciente podemos nós terapeutas suportar a inexperiência dos nossos corações?

Eros tem sua sede no coração e apesar de não mantermos nossos corações abertos todo o tempo mas acompanhando o ritmo pulsatório destas ondas. São elas que levam ao desejo de proximidade com o outro e a partir da itensidade deste encontro o controle do ego e “morrer” por alguns instantes nos braços deste outro coração inexperiente também que se abre e se fecha em um outro ritmo e esta inexperiência de pulsar com o cosmos é de extrema cura pois é a energia vital presente na potência orgástica.

Sem ilusões. se é paixão ou amor, são momentos de genitalidade.

Sem o coração somos como máquinas e a vida perde seu sabor. O homem se perdeu ao dominar a natureza pois cortou as próprias raízes. Por mais útil que seja o progresso ele afasta o indivíduo do seu grounding pois é anti-natural.

Lowen analisando a cultura de hoje em dia, muito consumista e baseada em valores narcísicos, percebeu que as pessoas estão mais na cabeça, que no corpo ou seja que existe uma cisão cabeça-corpo. As pessoas fazem mais coisas e são mais ativas como um antídoto para depressão.

São os indivíduos narcisistas que não confiam nos seus sentimentos e não aceitam a si mesmos.

Estão interessados em ser bem sucedidos e ter poder para controlar a vida, atuam efetivamente mas sem sentimentos.

Do outro lado temos os indivíduos de personalidade borderline que estão em contato com seus sentimentos de morte e desespero, e que não conseguem funcionar efetivamente na superfície.

Nos dois casos a cisão é entre o ego e o corpo, separando o indivíduo da criança com potencial e sentimentos que um dia ele foi. Existe uma barreira entre o passado e o presente no indivíduo que o separam dos sentimentos do coração e dos sentimentos das entranhas.

Estas são ao meu ver as idéias mais importantes da Análise Bioenergética.

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Exercícios Bioenergéticos

Alewander Lowen

Exercícios corporais vinculados com a respiração. Lowen os criou partindo do princípio de que a criança, quando é obrigada a suprimir a expressão de sentimentos (o que equivale a suprimir o sentimento em si), desenvolve bloqueios corporais correspondentes à emoção que foi suprimida, diminuindo, assim, a mobilidade e a vitalidade do corpo.

As emoções não expressas ao longo de nossa vida ficam contidas em nosso corpo, formando contraturas, as couraças musculares.

Por exemplo, uma criança, quando fica brava, aprende que não deve expressar sua raiva, pois será punida. Para conter essa raiva, ela precisa criar uma tensão no seu corpo e ao mesmo tempo mudar sua respiração. 

Provavelmente, irá apertar os maxilares e paralisar a respiração no diafragma, e, às vezes, contrairá também o pescoço. Essas tensões, ao serem repetidas, vão-se tornando crônicas.

Outro exemplo: uma criança está triste e sente vontade de chorar, mas seu choro geralmente incomoda os pais, e, então, ela aprende a contê-lo, fechando o peito, projetando os ombros para a frente e diminuindo a respiração. Mais tarde, quando adulta, embora já não haja motivos para conter suas emoções, essa pessoa terá dificuldades para chorar e também para expressar outros sentimentos como amor, alegria e paixão.

A bioenergética pode ajudar a desbloquear essa expressão, por meio de exercícios para o peito e outros. O trabalho de bioenergética visa, por meio de exercícios e posturas corporais, bem como de técnicas de respiração, desmanchar esses bloqueios.

Existem exercícios para todos os segmentos do corpo: olhos, boca, pescoço, peito, diafragma, pélvis, pernas e pés. Os exercícios permitem a liberação da energia reprimida através de choro, riso, catarse e vibração espontânea do corpo. Estas vivências aliviam as tensões, possibilitando a oportunidade de enxergarmos os nossos comportamentos automáticos e modificá-los. Desta forma conseguimos ser mais reais, mais espontâneos, mais conscientes.

Normalmente, as sessões individuais de 1h15min, e muitas vezes vêm à tona memórias ou lembranças da infância.

Talvez você se pergunte: “Para que preciso de tudo isso?” Você é o reflexo de como foi criado na sua infância. Se você construir um prédio com a fundação torta, não adiantará caprichar nos acabamentos sem corrigir as fundações. Assim é o ser humano. Se temos dificuldades com situações, elas são reflexo de nossa criação. Então, se não liberarmos os sentimentos presos em situações da infância, dificilmente conseguiremos modificar os comportamentos prejudiciais à nossa vida.

A bioenergética nos abre essa chance: a de transformar nossa vida.

Queremos enfatizar, inicialmente, que estes exercícios não são um substituto da terapia. Eles não resolverão problemas emocionais profundos, os quais, geralmente, requerem uma competente ajuda profissional. Muito frequentemente, pessoas que não estão em terapia e fazem esses exercícios decidem que precisam de tal ajuda para trabalhar os problemas que alcançaram sua consciência durante o curso dos exercícios. Mas, esteja você ou não em terapia, a execução regular desses exercícios, o ajudará significativamente a aumentar sua vitalidade e sua capacidade para o prazer.

Estes exercícios podem ajudá-lo a ganhar mais autoconhecimento com tudo que este termo implica. Eles farão isso através do aumento do estado vibratório do seu corpo, grounding (enraizamento) das pernas e do corpo, aprofundamento da respiração, agudização da autoconsciência, e uma ampliação da auto-expressão. Eles também podem melhorar a sua aparência, intensificar sua sexualidade e promover sua autoconfiança. Contudo, eles são exercícios, não habilidades e muito depende do que você coloca neles. Se você os faz compulsivamente ,os estará minimizando. Se você os faz competitivamente, não irá provar nada. Contudo, se você os faz com carinho, cuidado e interesse por seu corpo, os benefícios irão surpreendê-lo.

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Estudo Clínico: Cliente Oral de Lowen

Identificação: rapaz de vinte e tantos anos.
Queixa Principal: procurou terapia devido à persistência de períodos de acentuada depressão.

Outras Queixas: além das freqüentes depressões, tinha uma dificuldade considerável em fixar-se no emprego.

Relato do Terapeuta:
Quando me consultou pela primeira vez estava sem trabalho, de modo que o tratamento ficou condicionado a obtenção de um emprego. Sua carteira de trabalho mostrava uma sucessão de serviços, em nenhum dos quais permaneceu por mais de seis meses. Não tinha profissão definida, nem qualquer habilidade ou treino numa área particular.

Quando indaguei na primeira entrevista, a respeito de sua atitude perante o trabalho, mostrou-se muito relutante em aceitar a necessidade de trabalhar. Tendo em vista esta atitude ser característica do oral, desafiei-o perguntando-lhe se achava que o mundo lhe devia proporcionar seu sustento. Disse que sim, sem a menor hesitação.

Não se pode argumentar contra tal crença, já que traduz um sentimento interno de privação. O indivíduo que tem uma atitude como esta, age como alguém que acredita ter sido despojado de seu direito de berço e levará a vida tentando recuperar a herança. No máximo, pode-se apenas provar sua impraticabilidade.

Concordei com ele quanto a ter sido enganado e ofereci-lhe minha ajuda. Esta tomou a forma de uma declaração, escrita numa folha em branco de receituário e segundo a qual, o portador estava apto a reclamar o seu sustento em qualquer banco ou agência de seguros, nos Estados Unidos. Assinei o seu nome e entreguei-lhe a folha. Então ele sorriu. Compreendera que, não importava quanto julgasse justa sua exigência, ela jamais poderia ser realizada. Concordou em procurar um emprego.

A terapia teve início dois meses depois. Meu cliente havia encontrado emprego como gerente de produção numa pequena indústria. Era a primeira posição que ocupava envolvendo responsabilidade e autoridade sobre os outros. Pela primeira vez estava ao lado da gerência, na luta trabalhista. Mas seu serviço não era fácil. Devia estar na fábrica às oito horas da manhã e freqüentemente tinha que ficar lá até que a quota do dia estivesse cumprida. Não demorou muito para começar a reclamar da torturante natureza do seu trabalho. Ficava cansado à noite. Fazia um esforço tremendo para levantar-se todas as manhãs a fim de chegar a tempo ao trabalho. Mas admitia que se sentia melhor do que há muitos anos e não sofrera qualquer ataque de depressão.

História Familiar:
Era o filho mais velho de três irmãos, numa família onde as desavenças eram freqüentes. Embora seu pai fosse um artesão independente, com seu próprio negócio, o rendimento mensal familiar era pouco mais do que o suficiente para cobrir os gastos essenciais Um dos irmãos mais novos sofria de uma condição reumática no coração.

Eis a seguir a descrição familiar: seus pais se odiavam. Sentia que sua mãe era uma mulher fraca que tentava depender dele. Ressentia-se de seu desamparo. Seu pai tinha momentos de uma raiva violenta, mas mostrava em geral, pequeno interesse pela família. Lembra-se de que, quando criança, tinha medo do pai. Não sentia ter recebido amor de nenhum dos dois. Caracterizava a atitude de sua mãe como “compreensiva”. Achava que ambos não tinham a menor personalidade. Odiava o pai e sempre desprezara sua mãe. Uma de suas lembranças mais antigas era a de estar deitado no berço, chorando amargamente. Seu pai debruçava-se sobre ele com uma expressão severa e gesticulava indicando sua desaprovação. Seu dedo indicador em riste, sacudindo à frente da criança, enquanto dizia: “pshsh, pshsh”. “Você não deve fazer qualquer barulho”.

História Pessoal: antecedentes físio-patológicos e de personalidade:
Passou pelas doenças infantis comuns. Interessava-se pouco pelos esportes e atividades atléticas, mas lia bastante. Sofria de inabilidade de concentrar-se nos estudos, embora recebesse boas notas Terminou o colegial e freqüentou a Universidade durante um ano. Aos 18 anos saiu de casa e abandonou a faculdade para viver com a moça que se tornaria sua esposa. Declarou que não sabia o que fazer, ou melhor, que não tinha ímpeto para fazer nada. Sua carreira limitava-se a uma sucessão de estranhos empregos, entremeados por períodos de desemprego. A vida conjugal não era totalmente bem sucedida. Sua esposa estava à mercê de seus períodos de depressão. Estiveram separados durante aproximadamente um ano, mas haviam se reconciliado antes que a terapia tivesse iniciado.

Dois períodos de sua vida evidenciam-se em sua memória. Aos 11 anos de idade, lembra-se de que era muito agressivo com as meninas. Esta atitude era revidada com repulsa e, a partir de então, tornou-se “alienado”. Aos 15 anos, juntou-se a um grupo de jovens socialistas e mais tarde a um grupo anarquista. Pode-se subentender que nestes grupos realizou suas primeiras identificações sociais.

Em resposta à minha pergunta, disse que os sentimentos mais marcantes no começo de sua infância eram: desapontamento e solidão. Da adolescência em diante, sofrera dores de cabeça severas e náuseas (provavelmente enxaquecas), relacionando-as ao sentimento de desamparo.

Anteriormente a esta terapia, havia estado com vários analistas diferentes, por períodos que não excediam a seis meses. Um deles, segundo me falou: “me despedaçou”. Isto aconteceu quando o analista pintou para o cliente, o quadro verdadeiro de seu ego, ao mesmo tempo em que ria de bom grado.

Em momentos de elação, comportava-se como se fosse uma pessoa de certa importância. Não hesitava em vangloriar-se de suas habilidades, as quais não tinham qualquer relação com seus feitos reais. Como resultado da deflação do seu ego, desenvolveu sintomas de diarréia, indigestão, insônia e cefaléias. Sentia ter recebido pouca ajuda dos demais analistas.

Leitura Corporal:
Tinha um corpo bem desenvolvido, um pouco mais alto do que a média e bem proporcional. O maior problema de seu físico era um esterno afundado e costelas inferiores pronunciadas, o que lhe conferia uma aparência de peito de frango. Os músculos peitorais eram proeminentes e pareciam superdesenvolvidos. Os ombros eram erguidos. O pescoço, mais fino do que se esperaria para seu tipo de corpo. Cabeça e rosto tinham feições regulares sem distorções óbvias. O diafragma era a causa das costelas inferiores serem mais pronunciadas. Na porção inferior do tórax o abdômen era liso e parecia não ter volume. As pernas não pareciam ser demasiado fracas.

Os movimentos respiratórios se limitavam ao peito que parecia móvel. Os ombros, contudo, não participavam destes movimentos. A inspiração e a expiração não envolviam de modo visível o abdômen. O diafragma era mantido na sua posição retraída. Uma extensão mais forte dos braços produzia acentuados tremores nos ombros, cabeça e pescoço.

Trabalho Terapêutico:
Na fase inicial da terapia, concentrei-me no problema de suas tensões musculares específicas, ao mesmo tempo em que debatíamos o tema “trabalho”, como uma necessidade na vida de um homem em termos de suas experiências cotidianas.

As primeiras sessões de terapia foram caracterizadas analiticamente pela necessidade de produzir um certo equilíbrio, de um lado entre as reivindicações de seus direitos, que fazia baseado numa avaliação de suas habilidades e, de outro, a recompensa baseada na produtividade.

As sessões terapêuticas aconteciam uma vez por semana, durante uma hora. Cada hora se iniciava pela reafirmação de quão bom ele era e quão pobremente era apreciado. Sua fala era fluente e bem escolhidas as palavras. Criticava o relacionamento patrão-empregado, bem como analisava seu patrão. Não tinha empatia, no entanto, pela luta envolvida na tentativa de desenvolver uma pequena empresa. Mostrava um narcisismo exagerado além de falta de consideração pelos problemas dos outros.

No momento de socar o divã, era claramente discernível em sua face uma expressão de raiva, estando os dentes cerrados, as narinas levantadas e os olhos dilatados. No entanto, os socos não tinham força e o paciente pulava todas as vezes em que desfechava um murro. Os braços, ombros e o corpo se moviam como uma peça única, como se tivessem sido congelados em conjunto. Era-me evidente sem dúvida que um anel de tensão extremamente forte circundava o corpo na altura da cintura escapular. Este se namifestava principalmente na tensão dos músculos peitorais.

Embora fosse fácil suscitar sua raiva, através dos socos, a emoção não demorava muito. Depois de alguns movimentos ele ficava sem fôlego, arquejante e cansado. Não era incomum que os murros eliciassem sentimentos de desamparo e terminassem em choro.

Semana após semana, a despeito de seus ressentimentos e queixas, sentia-se melhor trabalhando, do que antes.

A terapia física que atenuava as tensões, melhorou sua respiração e aumentou seu potencial energético de modo incomensurável. A esse respeito era uma pessoa bastante cooperativa e socava o divã regularmente até perder o fôlego. Aos poucos aumentou sua capacidade vital e pôde manter uma atividade contínua por períodos de tempo mais longos.

Sentia que devia encontrar uma nova companheira. Sua esposa não lhe proporcionava o suficiente. Isto lhe era fácil, uma vez que seu casamento era bastante frágil e não havia filhos. Cada novo “caso” era vivido com excitação e entusiasmo. No entanto, nenhum dos seus vários relacionamentos durou. O cliente percebeu que o problema estava nele.

Durante o primeiro ano de trabalho teve vontade de abandoná-lo. Sentia-se mal remunerado e que não era devidamernte apreciado. Manteve-se no emprego porque sabia que era o melhor que já havia conseguido. Além disso, estava aceitando o fato de que devia trabalhar e queria provar que podia segurar um emprego durante pelo menos um ano.

Um dia descobriu que sua esposa estava apaixonada por outro homem. Isso lhe provocou um acesso de fúria desproporcional aos sentimentos que nutria por ela. Queria matar o amante da esposa. Seu ódio o havia fortalecido mas ele não sabia o que fazer com tal sentimento. Trabalhamos a compaixão por sua esposa e o amante dela. Levamos várias sessões discutindo esse assunto, o que provou ser o ponto chave de sua terapia. Compreendeu que uma separação era o melhor que se podia fazer a ambos, e que cada um deles seria mais feliz vivendo sua própria vida. Havia ganho um novo e sólido respeito pelo problema dos outros.

À medida que desapareceram seus ressentimentos e ódio, permaneceu o problema do que fazer com sua raiva. Sugeri que esta força agressiva era muito valiosa para ser desperdiçada em objetivos destrutivos. Poderia ser dirigida à finalidade de reduzir as tensões físicas e fortalecer sua estrutura.

A terapia física continuou com maior poder. Sentia-se mais forte e carregado a cada semana. Encontrou uma moça com a qual estabeleceu um relacionamento persistente. Perdeu o emprego, mas isto não o abateu. A esta altura havia interrompido a terapia. Estabeleceu-se por conta própria e por último passou a ocupar a posição de executivo em uma empresa sólida.

Hipótese diagnóstica:
Seria justificável o diagnóstico de presença de oralidade a partir da história de repetidas depressões. Pode-se ir ainda mais longe e descrever toda a estrutura de caráter como oral. Isto significa que o padrão dominante de comportamento é determinado por tendências orais. Por uma lado, temos as afirmações do cliente quanto a profundos sentimentos de solidão, desapontamento, desamparo e, por outro, há o narcicismo, a óbvia necessidade de atenção e elogios ( busca de “alimentação narcísisca”) e o desejo de ser alimentado. “O mundo deve me sustentar”. O cliente admitiu que, durante uma certa época de sua vida, havia sido um glutão e fora bem gordo.

Há primeiramente a história de falta de sucesso no trabalho. Geralmente, encontra-se nestes caracteres a inabilidade de manter-se no emprego por um período um pouco maior de tempo. Não é incomum que esta característica se extremize a ponto de uma revolta contra a necessidade de trabalhar ou, mais freqüentemente, contra as exigências da situação do trabalho. Meu cliente apresentava claramente esta atitude. No entanto, a alternativa para o trabalho, como lhe fiz ver a partir de sua própria experiência, era a depressão. Embora lhe fosse difícil, como eu mesmo concordei, que dados os seus problemas, as exigências da realidade lhe eram difíceis, não havia outra alternativa.

A relação amorosa do caráter oral tem os mesmos distúrbios que podem ser encontrados em sua função de trabalho. Seu interesse é narcisista, suas exigências são grandes e, limitada a resposta. Espera receber compreensão, simpatia e amor e é super-sensível a qualquer frieza sentida no companheiro ou no meio.

Compreensão Dinâmica:
Posto que a outra pessoa no relacionamento não pode realizar suas exigências narcísicas, o caráter oral desenvolve sentimentos de rejeição, ressentimento e hostilidade. Dado que, o parceiro também tem suas próprias necessidades, que o caráter oral não pode facilmente satisfazer, a situação é de um conflito praticamente constante. É grande a dependência, mas muitas vezes disfraçada em hostilidade.

Ele odiava o pai e sempre desprezara sua mãe. O medo da rejeição, que no caso do oral é o medo de perder o objeto amado – medo inconsciente tido como enorme perigo e ameaça. O pensamento analítico relaciona a depressão com esse medo.

O desejo de matar o amante da esposa foi interpretado como a raiva reprimida que nutria pelo pai, o qual o havia impedido de chorar pedindo a mãe.

A análise pode revelar toda a tendência infantil de sua personalidade. Como uma criança pequena, se interessava apenas por suas próprias necessidades e sentimentos; era um narcisista. Sua esposa o deixara, pelo menos em parte, porque ele não tinha noção das necessidades dela. Ela não havia sido feliz com ele, da mesma forma que ele não tinha sido feliz com ela. Sua inabilidade em sentir pelos outros ou de estar ciente das necessidades e desejos daqueles com os quais se relacionava era uma fraqueza em sua personalidade.

Principais objetivos da Terapia:
Aceitação progressiva da realidade. Levar o cliente a compreender que aquilo que ele sente como amor, é experienciado pelos outros como um pedido de amor. Dizer “Eu te amo”significa “Eu quero que você me ame”. Sua atitude quanto ao relacionamento amoroso não está baseada no padrão de dar e receber. Ao contrário, lembra mais o padrão infantil de necessidades e exigências, no qual a outra pessoa é considerada como fonte provedora de “alimentos”narcísicos requeridos.

O ponto chave em qualquer terapia analítica quando a agressão liberada através da análise é concomitantemente orienta-la para a tarefa de melhorar a função diária na vida atual.

Texto extraído do livro O Corpo em Terapia, de Alexander Lowen, Summus Editorial, parte II, cap 9, pg 153, com adaptações de Overlack Ramos, em 18 de abril de 1997, para o Treinamento em Análise Bioenergética do BIOCENTRO -Centro de Análise Bioenergética e Terapias Integradas.

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Dinâmica Psíquica

Otto Fenichel

approach das funções mentais deve fazer-se pelo mesmo ângulo que as funções do sistema nervoso em geral. São manifestações da mesma função básica do organismo vivo – a irritabilidade. O modelo básico que serve à compreensão dos fenômenos mentais é o arco reflexo. Estímulos que vêm do exterior ou do corpo iniciam um estado de tensão que exige descarga motora ou secretória, acarretando o relaxamento. Entre o estímulo e a descarga, contudo, trabalham forças que se opõem à tendência de descarga. A tarefa imediata da psicologia é o estudo destas forças inibidoras, da respectiva origem e do efeito respectivo sobre a tendência à descarga. Se não existissem estas contraforças, não haveria psique, mas apenas reflexos.

São muitos os biologistas que têm admitido, de várias formas, a existência de uma tendência vital básica de abolir tensões produzidas pela estimulação externa e a regressar ao estado de energia que atuava antes da estimulação. A concepção mais frutuosa, neste particular, é a formulação de Cannon do princípio da “homeostase”. 

A palavra “homeostase” não implica alguma coisa posta e imóvel, estagnação; pelo contrário, as funções vitais são extremamente flexíveis e móveis e o equilíbrio respectivo é transformado ininterruptamente, mas é restabelecido pelo organismo com a mesma ininterruptibilidade.

É possível ver a todo momento que este princípio da homeostase não permanece sem oposição. Há algum comportamento que parece dirigir-se não para libertar-se de tensões, mas antes para criar tensões novas; e a tarefa principal da psicologia é estudar e compreender as contraforças que tendem a bloquear ou adiar a descarga imediata.

Lapsos de língua, erros, atos sintomáticos, são os exemplos melhores de conflitos que se produzem entre a luta pela descarga e as forças que a isso se opõem; alguma tendência que haja sido rejeitada, quer definitivamente pela “repressão”, quer por um desejo não exprimi-la aqui e agora, encontra expressão distorcida, que contraria a vontade consciente adversa.

Quando as tendências à descarga e as tendências à inibição são igualmente fortes, não hà exigência externa de atividade; mas a energia consome-se em luta interna oculta; o que se manifesta, clinicamente, pelo fato de os indivíduos sujeitos a conflitos desta ordem mostrarem sinais de exaustão sem produção de trabalho perceptível.

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Corpo e Memória

Marco Aureliio Ornellas

Corpo e memória

MASSAGEM PROFUNDA – Manobras desfazem tensões, relaxam o corpo e liberam os sentimentos
  
Massagem corporal de manipulação profunda para fazer o indivíduo entrar em contato consigo mesmo. Assim é definida a massagem profunda com abordagem terapêutica, desenvolvida para funcionar como ferramenta complementar a processos de terapia ou simplesmente para promover o relaxamento do corpo. Sua função é, por meio do toque e a dissolução de tensões, facilitar a expressão de sentimentos e melhorar a condição física.

A técnica parte do princípio de que a condição física do homem é a expressão de sua condição emocional. “Se o físico está desorganizado é porque o emocional também está”, observa o psicólogo e terapeuta corporal Marco Aurélio Ornellas, responsável pela criação da massagem profunda, com base nos ensinamentos da Terapia de Biointegração desenvolvida, no Rio de Janeiro, pelo doutor em Psicofisiologia José Cláudio Belfort.

Segundo ele, pessoas que foram reprimidas na sua história de vida geralmente apresentam um corpo comprometido, sem mobilidade e têm dificuldade de exteriorizar o que sentem. A massagem age dissolvendo as couraças musculares, desbloqueando a energia e proporcionando a descarga de tensões. “Dessa forma, o corpo fica leve, capaz de permitir o livre fluir de qualquer sentimento”, observa.

A massagem é composta de manobras de pressão, feitas com as mãos, os dedos e, eventualmente, com cotovelo, pés e joelho. Sua atuação é, principalmente, em pontos de dor gerados por tensões, e essas tensões, explica o psicólogo, têm origem nas emoções negativas vividas e não liberadas. “Toda emoção negativa gera uma contração muscular como uma defesa natural do organismo”, realça ele, continuando: “Se essa emoção não é liberada, a tensão permanece no corpo por tempo indeterminado, prejudicando-o”.

Vem daí a constatação de que o corpo é pura memória. Ornellas conta que é comum o cliente vir a chorar durante uma sessão da massagem, ou perceber-se tomado por lembranças. Isso porque o toque profundo mexe com a história de cada um, faz aflorar emoções e promove o contato com seu interior. Por essa razão, salienta o profissional, a massagem profunda é indicada, sobretudo, como uma ferramenta para ajudar a deslanchar processos terapêuticos.

“Como psicólogo, utilizo a massagem como mais um instrumento para ajudar o indíviduo a falar de si e a exteriorizar suas emoções”, diz o profissional, enfocando também a eficiência da técnica em responder a queixas no campo físico. Ela reorganiza o sistema ósseo-muscular, acrescenta, solucionando disfunções causadas pelo estresse e possibilitando ao indivíduo movimentar-se melhor em relação à força da gravidade.

O realinhamento gravitacional, por sua vez, abre espaço para a livre função psiconeuro-muscular e para a reorganização do sistema esqueleto-muscular, por meio da manipulação profunda do tecido conjuntivo e fibroso. A sessão da massagem profunda dura uma hora.

O psicólogo e terapeuta Marco Aurélio Ornellas atende no Espaço Terapeutico Corpomente, onde também são oferecidos cursos sobre técnicas corporais e, todas as terças-com aberta ao público de meditação.

Tatiane Freitas – 08/11/2002 – Jornal A Tarde

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Conhecendo os Chakras

Margo Anand

Os chakras são a representação simbólica dos campos de energia criados pelas glândulas endócrinas do corpo.

Para obter uma imagem mais precisa do que estou descrevendo, pense no vento soprando entre as pás de um moinho de vento. Ele move o moinho, moendo os grãos que produzem a farinha para fazer o pão que as pessoas comem. De forma semelhante, a energia que entra no corpo através do chakra da garganta, por exemplo, estimula a glândula tireóide, agindo no crescimento das células do corpo e revitalizando o sistema respiratório.

Vários médicos, inclusive o Dr. John Pìerrakos, autor do livro Core Energetics e co-fundador, com Alexander Lowen, do Instituto de Análise Bioenergética, em Nova York, estão atualmente realizando pesquisas utilizando o tradicional sistema oriental dos chakras como um mapa das energias sutis do corpo. Píerrakos os chama de “espirais de energia” e de “centros vorticais de forma afunilada”. B. K. S. Lyengar, um professor indiano de ioga, descreve o funcionamento dos chakras desta forma: “Assim como as antenas captam as ondas do rádio e as transformam em som através de determinadas peças receptoras, os chakras captam vibrações cósmicas e as distribuem por todo o corpo.”

Pierrakos explica que o objetivo desses centros é extrair energia do ambiente circundante para dentro de nosso organismo, a fim de energizá-lo. “Eles (os chakras) são órgãos energéticos, assim como os rins e o coração são órgãos físicos, sendo tão importantes quanto estes últimos para a saúde humana. A energia atraída é metabolizada pelo organismo e distribuída por todo o corpo, até o nível celular.”

Pouquíssimas são as pessoas que, como Pierrakos, podem, realmente, ver os chakras. Mas qualquer um pode experimentar as sensações relacionadas a eles sem, necessariamente, identificar sua origem. Por exemplo, entre as sensações propiciadas pelo chakras estão a impressão súbita de que existem borboletas em nosso estômago quando estamos nervosos ou amedrontados; a sensação de aperto na garganta quando nos sentimos emocionados ou queremos dizer algo mas não encontramos palavras; além da sensação quente, erótica e envolvente no baixo ventre, no início da excitação sexual.

O meio do peito é um ponto onde muito comumente se experimentam sensações, uma vez que nele se encontra o chakra do coração. Relembre, por exemplo, alguma vez em que tenha ido esperar uma pessoa amada no aeroporto, após ter ficado um longo tempo afastado dela. A multidão de passageiros passava pelo portão e você esticava o pescoço, tentando enxergar. E, finalmente, quando ela surgiu e sorriu, você teve a sensação de que seu coração, repleto de emoções, ia explodir. Essa não foi uma experiência do seu coração enquanto órgão físico, embora ele, certamente, tivesse sido afetado e estivesse batendo mais rapidamente. Foi do chakra do coração que seu amor brotou, e é esse chakra, também, que produz a sensação da dor no fim de um romance.

Um Mapa dos Sete Chakras

O Chakra Sexual – O primeiro chakra corresponde ao centro sexual e está associado ao ato de dar à luz, e às sensações de vida e de sobrevivência. Quando a energia está fluindo livremente por esse chakra, você se sente incendiado pela pulsão sexual, por um desejo de agir impetuosamente e uma necessidade de ser liberado ou preenchido. Algumas pessoas associam a essa energia ardente uma cor vermelho escuro, que se espalha pelo baixo-ventre, de forma semelhante ao fenômeno de ficarmos “vermelhos” de raiva. É através do chakra sexual que você pode obter uma sensação de vivacidade, um gosto pela vida que, para mim, só pode ser simbolizado por alguém como Zorba, o Grego.

Quando esse chakra não está totalmente aberto e relaxado, a energia é impedida de fluir livremente, e a pessoa experimenta sentimentos negativos, tais como carência, culpa com relação ao sexo, medo de não estar tendo o suficiente nessa área, ou de não ser capaz de alcançar um orgasmo pleno. A pessoa pode também sentir-se pobre, tanto física como emocionalmente, e incapaz de se relacionar sinceramente com seu parceiro.

O Chakra do Baixo Ventre – O segundo chakra está localizado bem abaixo do umbigo. É o centro natural de equilíbrio e movimento do corpo. Nas tradições do Japão e da China, nas quais é chamado de hara, ele é visto como a fonte da vitalidade do corpo e o centro de gravidade para as artes marciais. Quando sua energia flui livremente por esse centro, você sente a força, a vitalidade e a atividade emanadas por um corpo saudável e relaxado. “Aqui”, disse um de seus mestres, “o Tao do sexo é a fluidez e o movimento”. A energia sexual se expressa através dos movimentos da bacia, assim como na dança e na atividade descontraída do corpo.

Quando esse chakra está fechado, inibindo o fluxo da energia sexual, a pessoa se sente dura, tensa, crítica com relação a seu parceiro, insatisfeita, ciumenta e competitiva, e propensa a súbitas explosões de agressividade. Nesse estado fechado, o indivíduo experimenta também a síndrome do “puxa-empurra”, tão comumente encontrada nos relacionamentos amorosos: “Eu quero você, mas vá embora.” O orgasmo se reduz a uma experiência que envolve apenas a parte física, as conquistas e a liberação das tensões. A pessoa se esforça tanto para alcançar o “grande orgasmo final” que este acaba tornando-se impalpável.

Esse centro está associado à cor laranja, expressando a sensação de vitalidade.

O Chakra do Plexo Solar – Este chakra localiza-se no canal central bem abaixo da caixa torácica. Aqui a energia sexual é sentida como poder pessoal, carisma, autoconfiança – a capacidade de se projetar no mundo e fazer as coisas acontecerem da maneira que você deseja. Quando este chakra está aberto e relaxado, os amantes têm a sensação de serem donos de suas próprias emoções e capazes de compartilhar de forma perfeitamente equilibrada suas experiências. Sua relação sexual expressa seu poder de transformar, conquistar e trocar energia. O orgasmo, neste caso, pode ser vivenciado como a expressão máxima do poder pessoal – “você é meu”.

Quando este centro está tenso ou bloqueado, o sexo parece algo ameaçador; as pessoas tem receio de que o orgasmo lhes roube energia, ou de não serem boas o suficiente para alcançá-lo, ou ainda de que a ejaculação precoce seja um mal incurável.

Este centro está associado à cor amarela, expressando alegria e brilho.

O Chakra do Coração – Este chakra localiza-se no centro do peito, no espaço que divide os seios. Aqui a energia sexual é experimentada como um desejo de fundir-se com o parceiro – uma sensação de duas pessoas serem pane uma da outra. Existe uma grande vontade de compartilhar amor, alegria e contentamento; de se sentir como uma criança descontraída; de dar pelo simples prazer de dar. Quando este centro está aberto e relaxado, você se sente confiante, solidário e compassivo. Quando bloqueado, você experimenta sentimentos de dúvida, cinismo e sente-se propenso a criar polêmicas.

Este chakra também marca um ponto de transição na viagem da energia através da Flauta Interna. Até agora, a energia tinha sido orientada na direção do corpo físico, impulsionada pela gravidade na direção da terra, baseada na necessidade de ser liberada através da ejaculação. Quando o amor e o sexo se encontram, sua experiência torna-se qualitativamente diferente. Pense na diferença que existe entre ter sexo e fazer amor. Quando o coração não está envolvido, o sexo permanece no plano puramente físico. Você experimenta a satisfação momentânea do alívio orgástico, mas ele permanece unidimensional. Com o amor, o sexo se transforma numa experiência mais elevada, benéfica e extática.

Esse chakra está associado à cor verde, expressando a esperança e o renascimento do frescor e da criatividade, semelhante ao que ocorre na primavera.

O Chakra da Garganta – Quando este chakra se abre, você descobre exatamente quem é e o que quer, e é capaz de expressar isso. Você se sente à vontade consigo mesmo e consegue agir de forma autêntica, tomando novas iniciativas ou mesmo parecendo rude ou anti-social. Você pode, por exemplo, gostar de gritar, dizer coisas extravagantes ou falar sinceramente sobre seus sentimentos durante a relação sexual. Nesse nível, você sabe exatamente o tipo de relação de que mais gosta e o tipo de amante que mais lhe agrada.

Quando este centro está fechado, você se preocupa com o que as outras pessoas esperam que você sinta, e tende a satisfazer os desejos e as necessidades de seu parceiro, mais do que perceber e atender os seus próprios. Consequentemente, tende a imitar os outros e pode até fingir um orgasmo para não parecer inadequado. As sensações do orgasmo ocorrem no nível da pele, como se outra pessoa as estivesse vivificando, e não você.

Este chakra está associado à cor violeta, expressando a profundidade da sabedoria.

O Chakra da Testa ou Frontal – A mesma energia, transformada e refinada por sua passagem pela Flauta Interna, chega a um ponto, no meio da testa, entre as sobrancelhas e por detrás delas. Quando isso acontece, você se sente como uma pessoa que chega ao topo de uma montanha depois de uma longa escalada. A energia está viva, fresca e clara, produzindo uma sensação ampliada de espaço e liberdade. Você descobre os poderes da intuição e da imaginação, tendo visões internas – e é por isso que este chakra é conhecido no Oriente como o terceiro olho. Você se guia por premonições e compreende as coisas diretamente, sem ter que usar a razão ou a lógica. Neste centro, a energia é normalmente vivenciada como uma luz interior. Quando este centro está fechado, as experiências sexuais perdem o tom de mistério e excitação e a vida, de um modo geral, parece enfadonha e desprovida de qualquer qualidade mais elevada. Não existe nenhum traço de consciência mais elevada ou inteligência impregnando o universo, além da noção de “eu” e “meu”.

Este chakra está associado à cor azul, expressando a frieza, a visão \\\\\\\’ panorâmica e o desprendimento de um pára-quedista flutuando suavemente num céu azul e claro.

O Chakra do Alto da Cabeça – Finalmente, quando a energia chega ao alto da cabeça, você sente uma agradável ligação com tudo e todos que o cercam. Sente que pode expandir as fronteiras do seu corpo, como se você fosse puro espaço e mais amplo do que a vida. O amor sexual, aqui, é uma experiência extática e mística; uma fusão com o parceiro nos níveis físico, emocional e espiritual. Essa é a parte de cada um que sabe, bem no fundo, se suas ações estão colaborando para o desenvolvimento e preenchimento de sua alma – reinos de paz, silêncio e encantamento. Este é o centro da mais alta criatividade, pois tem o poder de criar uma ponte entre a matéria e o espírito.

Quando este centro está aberto, você se sente naturalmente espontâneo e descontraído, concentrado no que está acontecendo aqui e agora, no momento presente. Você não se deixa controlar pelos hábitos do passado. Por outro lado, quando este centro está fechado, você tende a viver num mundo de fantasia ou em algum sonho futuro, que você sente que não pode manifestar-se no mundo real. Você não é capaz de transformar a experiência sexual numa comunhão profunda de almas.

Este centro está associado à cor branca, expressando clareza, neutralidade e iluminação.